Este rabisco é dedicado ao Rafael Marques (nesta hora de provação) e ao Kamba Reis...
Tenho estado a ler com bastante interesse o livro de crónicas de Kalaf Epalanga, O ANGOLANO QUE COMPROU LISBOA (POR METADE DO PREÇO) e, por coincidência, deparei com uma extensa entrevista publicada na revista Tabu... Pode dizer-se que Kalaf, na entrevista, não desmente o ar desempoeirado e atrevido que podemos respirar em cada uma das suas 55 crónicas...
Aprecio na escrita de Kalaf a concisão e, sobretudo, a regeneração da língua portuguesa ao introduzir, de forma plástica, termos oriundos de diferentes quadrantes geográficos e artísticos, designadamente das áreas da moda e da música de inspiração angolana...
Em termos temáticos, estas crónicas bem poderiam ser objeto de apreciação dos nossos estudantes pela desenvoltura com que Kalaf aborda as questões da identidade angolana, da migração, da discriminação, do provincianismo e do cosmopolitismo, sem esquecer o olhar apaixonado pela cidade de Lisboa...
Kalaf Epalanga Alfredo Ângelo, aos 37 anos, revela em cada uma das suas crónicas uma atitude crítica fundamentada, avessa ao racismo, à ignorância e ao mujimbo...
Das muitas passagens que aqui poderia citar, registo aquela que me parece mais adequada, nos dias em que Herberto Helder se tornou notícia:
«E está provado, o belo é aquilo que ninguém percebe, como filmes da Nouvelle Vague, jazz, arquitetura, arte contemporânea... Só os jovens acham feio aquilo que não entendem; os que têm juízo ou vergonha na cara preferem esconder a sua ignorância com expressões do tipo "sim, muito interessante", "profundo", genial" ou ainda o jargão "bué da fixe". Raras são as vezes que admitimos não entender patavina sobre determinado assunto e pedimos para que nos elucidem.» op.cit. pág. 173-174.
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