Em 1965, fui à sede do concelho prestar provas do exame da 4ª classe. Provas escritas e orais. Ato solene perante júri desconhecido. Nunca soube o custo, mas lembro que o meu pai fora obrigado a emigrar e que a minha deslocação implicou pagar a carreira, sapatos novos, roupa nova... As provas tinham um peso de 100% e distinguiam o sucesso do insucesso escolar. Reprovar era uma vergonha para o candidato, para a família e para a comunidade.
Ser aprovado era o 1º passo da mobilidade social para muitos portugueses dessa época.
Dentro de dias, regressa o exame do 4º ano. Ato administrativo perante funcionários anónimos. De acordo com um secretário de estado da educação, o custo do exame nacional acrescenta 600.000 € ao custo das desprezíveis provas de aferição, não esclarecendo qual era o custo destas últimas. Para ele trata-se de uma insignificância. Acontece, no entanto, que muitos dos pais e dos irmãos dos jovens examinandos estão desempregados ou já partiram à procura de trabalho fora desta bendita terra.
Agora, o peso do exame é de 25% e, caso, o aluno não fique, de imediato, aprovado, os desprezíveis professores vão ser obrigados a recuperá-lo para novo exame, cujo o custo o senhor secretário de estado ignora. Reprovar será uma exceção e nada dirá sobre a qualidade das aprendizagens... e quanto à mobilidade social, o que pensar de um regime que promove a mediocridade na educação, desprezando os agentes que a deveriam promover?
O anunciado rigor dos estadistas do passado e do presente em pouco diverge: no passado, abria as portas do escol que haveria de guiar a nação nos seus messiânicos objetivos; no presente, nivela por baixo, abrindo as portas à escumalha que, inevitavelmente, conduzirá ao fim da nação.
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