23.5.13

Uma película muito fina...

Há quem, preocupado com o futuro da língua portuguesa, organize um «encontro mundial» em Paris. Estranha escolha! A velha Sorbonne continua a cativar paisanos deslumbrados com a cidade da luz...
O "futuro da língua portuguesa" é um tema promissor, mas, no meu entender, melhor seria que se olhasse para o presente da língua nos lugares onde ela se realiza, no significado das variedades do português e no modo como estas consolidam ou inviabilizam a construção de identidades culturais.
Basta entrar numa sala de aula para perceber que a língua está reduzida a uma película muito fina que nada conserva da sua génese, da sobranceria do colonizador, da revolta do colonizado e das tentativas de diálogo entre grupos de matrizes bem distintas. A dimensão histórica da língua é ignorada a cada passo e esta não passa de um tolo catavento.
Se não arrepiarmos caminho, a "língua portuguesa" não terá qualquer futuro, a literatura tornar-se-á incompreensível, ficando apenas ao alcance de uma minoria, as pontes de diálogo quebrar-se-ão.
Não se trata já de saber se continuaremos a falar a mesma língua, mas se nas últimas décadas não matámos a língua portuguesa, pelo menos na variedade europeia.
A escolha de Paris para realizar o "encontro mundial" é já um indicador seguro da competência de quem gere a política da língua portuguesa.
Mas compreende-se! Haverá sempre quem prefira Paris, Berlim, Londres, Nova Iorque, Camberra, Pequim, Tóquio...  
 

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