19.8.13

Na sombra de Fausto

A decisão de ler, quando não se é académico ou investigador literário, resulta de circunstâncias que não controlamos. Há quem pense que a idade é um fator decisivo - talvez haja um tempo certo para ler determinadas obras... Talvez, seja necessária uma certa maturidade! Mas como é que se chega à maturidade sem ter lido o que mais importante foi escrito para o entendimento da natureza humana?
Enquanto leitor, o mito do "Fausto" não me era estranho e, normalmente, surgia na mesma página, na mesma esquina, de outro famoso mito ocidental - "D. Juan".
Em termos de padrões de cultura, o Fausto do pacto com o diabo era me familiar desde o berço - uma figura pouco recomendável que ousava infringir a todo o momento a condição humana, desrespeitando a vontade divina.
Na literatura e na filosofia, habituei-me a encontrar certos paladinos do «super-homem», designadamente, na cultura alemã, o que se de início me seduzia, com o conhecimento dos "efeitos" da ideologia subjacente e da consequente prática política, acabou por me afastar de uma abordagem sistematizada da obra de Goethe, o que hoje lastimo...
Neste agosto, não resisti a fazer duas leituras da obra em causa, tal é a intensidade (e por vezes, a leveza) do pensamento dilemático de cada personagem e, sobretudo, porque a religiosidade imanente não consegue estabelecer fronteiras nítidas entre o Bem e o Mal, entre Deus e o Diabo.
Na visão romântica alemã, o verdadeiro mundo estava plasmado no Cristianismo - um lugar em que Deus desafiava Mefistófeles para que pusesse à  prova a criatura humana ( Fausto) e em que o Diabo não desgostava do exercício, pois, afinal, lhe permitia entrar em territórios de fantasia que lhe estavam vedados - o universo greco-romano - porque anteriores à refundação da chamada civilização ocidental.
Ler o Fausto é, para mim, uma viagem às zonas mais ocultas do cérebro humano, mas é também revisitar os mitos que fundam a minha personalidade.
   

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