Quando procuramos elaborar um balanço, ou melhor, quando nos solicitam um balanço e a memória não ajuda, regressamos às agendas e aos cadernos de notas ou de tarefas.
Se ainda os tivermos à mão e não nos faltar a coragem de os decifrar, iremos pouco a pouco descobrir que o que foi pensado para nos ajudar a agendar o presente e o futuro é, afinal, um repositório de acontecimentos passados da mais desvairada natureza.
Aos nossos olhos, surgem os nossos doentes e os nossos mortos, as nossas viagens e as nossas despesas, detalhadas até à ausência de sentido. Despesas que, frequentemente, nos são impostas por sonhos e devaneios familiares, sem omitir as crescentes obrigações fiscais e os cortes reiterados nos rendimentos...
Numa outra perspetiva, estes registos indicam-nos onde estivemos ou, pelo menos, deveríamos ter estado. E este dever não era nosso, era nos imposto pela profissão, pelos cargos que desempenhámos.
E de repente, surge a dúvida: Se num certo ano, estive envolvido em tantas tarefas, qual terá sido a qualidade do trabalho desenvolvido?
Nesta perspetiva, o caderno de notas é claro e, ao mesmo tempo, enigmático. Quem ali se inscreve viveu um ano múltiplo, isto é, um ano em que a dispersão foi a regra, imposta pela solicitação alheia. E o mais grave é que, no caderno de notas, nada existe que diga qual das tarefas era a mais importante: se cuidar da mãe, se cuidar da esposa, se cuidar da filha ou do filho, se cuidar dos alunos, se cuidar dos colegas, se estar presente a toda a hora, se ser um funcionário zeloso...
Desta leitura resulta, no entanto, uma lição: a minha próxima agenda vai ser constituída por folhas soltas e, de preferência, em branco...
Muitos não conseguem impedir-se de ter a impressão que é o tempo que passa, quando, na realidade, o sentimento de passagem refere-se ao curso da sua própria vida. (registado no caderno de notas 2012)
Sem comentários:
Enviar um comentário