À pergunta cerimoniosa, respondo que não arrisco qualquer palpite. Nem mesmo o argumento defensor de uma envenenada homenagem a Saramago me persuade. A coligação já faz tempo que enterrou a voz do prémio nobel, a voz do povo esmagada pelo peso do desemprego, da austeridade e do estrangeiro...
No entanto, enquanto me interrogo se haverá uma teoria geral do palpite e se, na verdade, não é esta que impera, por exemplo, nos exames de História, Filosofia e Português, aqui transcrevo um excerto de Memorial do Convento que bem poderia servir para verificar a qualidade do ensino e da aprendizagem:
«Castiguem-se lá os negros e os vilões para que não se perca o valor do exemplo, mas honre-se a gente de bem e de bens, não lhe exigindo que pague as dívidas contraídas, que renuncie à vingança, que emende o ódio, e, correndo os pleitos, por não se poderem evitar de todo, venham a rabulice, a trapaça, a apelação, a praxe, os ambages, para que vença tarde quem por justa justiça deveria vencer cedo, para que tarde perca quem deveria perder logo. É que entretanto vão-se mugindo as tetas do bom leite, que é o dinheiro, requeijão precioso, supremo queijo, manjar de meirinho e de solicitador, de advogado e inquiridor, de testemunha e julgador, se falta algum é porque o esqueceu o padre António Vieira e agora não lembra.»
Bem sei que o exame não visa medir a inteligência do examinando, mesmo assim, se começássemos por verificar a ligação de Saramago com Vieira (a intertextualidade), o que é que encontraríamos?
E se o tema da dissertação fosse a "justiça" neste sorumbático país?
Talvez seja pedir demais...
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