O poço é pouco profundo; a nascente é sazonal - depende da chuva de inverno que a ribeira dispersa rapidamente. Em tempos idos, diz-se que as enguias eram frequentes e que quem as colhia se servia de folhas de figueira para melhor lhes controlar a viscosidade... Já não sei se algum dia as cheguei a ver...
Parece-me, hoje, que aquelas enguias seriam dos poucos recursos que ali cresceriam por altura da segunda guerra mundial. A fome era inevitável por culpa própria e alheia. A terra não produzia o suficiente para matar a fome daquelas gentes; os candongueiros vendiam para espanha e para alemanha os parcos produtos arrancados à terra seca; os ingleses encareciam as exportações; os alemães não cumpriam os acordos resultantes do fornecimento de volfrâmio; e os americanos, sôfregos, não queriam saber de compromissos nem alianças...
Desse tempo, sobra o poço sem enguias e quase sem água. Só as silvas o enriquecem; as figueiras estão cada vez mais desvalorizadas, nem a madeira aquece; as oliveiras resistem, como salazar resistia, e os portugueses continuam a resistir: cada vez mais pobres, submetidos à austeridade...
Como se sabe, quem cai no fundo poço, se, entretanto, não morrer afogado, precisa de uma corda e de quem a puxe.
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