8.4.15

Um dia incompleto e imperfeito

Às 7h15, o corpo de intervenção abalroa um táxi, na faixa do bus. Ou terá sido o taxista que refreou a marcha a testar a perícia das duas carrinhas policiais que pareciam persegui-lo?  Apesar da morrinha, o corpo policial mantinha-se na expectativa...

Às 8h15, a turma B chegou mais cedo, dando sinais de maturidade pouco comum nos dias de hoje. Haja esperança! Na verdade, a lição só estava agendada para as 9h00.

A meio da manhã, à conversa, os novos programas de Português e de Matemática irromperam, parecendo haver consenso quanto ao retorno ao passado. E porque não ao livro único do Estado Novo? 

De regresso à sala de aula, o principal acontecimento  não foram os condenados do auto de fé ou a irrupção do realismo fantástico (mágico), mas, sim, a agitação provocada por um abelhão que, afinal de contas, não queria analisar a virtuosidade descritiva de Saramago. Péssimo exemplo de discurso indireto livre!* Cansado da serpente que se precipitava para o Rossio, no caso, para a porta de saída da sala, o abelhão saiu tranquilamente pela janela, antes que o santo ofício o sacrificasse na divina fogueira de um novo auto de fé.

Marcado pela estranheza dos acontecimentos, saí, também, eu pela porta, e quando dei por mim estava na Livraria Almedina a comprar o livro " a mecânica da ficção", de James Wood. Por qualquer razão que ignoro, veio-me à ideia que esta compra não fazia  qualquer sentido. Afinal, quem é que, nesta fase, me poderia contratar para ensinar Literatura? Só que o abelhão  soprou-me ao ouvido que, talvez, "a mecânica da ficção" me pudesse ajudar a escrever sobre o Portugal contemporâneo, isto é, sobre a história da família materna e paterna de José Sócrates como metáfora da doença mental que nos devora...

Ao folhear "a mecânica da ficção, não pude deixar de verificar que esta, à escala global, só destaca dois portugueses, Fernando Pessoa e José Saramago, o primeiro porque o segundo escreveu " O Ano da Morte de Ricardo Reis"!

Abreviando, a Sammy, a gata voadora, regressou a casa, já esquecida do perigo dos beirais... 

Claro que, ao longo do dia, ainda fui recebendo algumas lições sobre a vida e a morte... Mas dessas, por respeito aos mestres, prefiro nada dizer... Tal como da chuva e do frio, dos buracos das ruas da capital e do trânsito, em particular, da zona ribeirinha...

* Se o autor desse voz ao coro, a 'virtuosidade' desapareceria, substituída pela 'sonolenta descrição'..., dando cabo da "extenuante exibição de estilo" do demiurgo.

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