7.4.15

Enterrado num poema

 (...) «queria fechar-se inteiro num poema
lavrado em língua ao mesmo tempo plana e plena
poema enfim onde coubessem os dez dedos
desde a roca ao fuso
para lá dentro ficar escrito direito e esquerdo
quero eu dizer: todo
vivo moribundo morto
a sombra dos elementos por cima»
Herberto Helder, A Morte Sem Mestre, 2013

Ninguém está livre de ansiar um pouco mais, mas casos há em que o anseio é obsessivo, doentio. Até os pássaros intuem que há um momento em que é necessário que as crias experimentem o voo e esse é o dia das aves...
O poema lavrado em língua plena solta-se e foge, foge dos cemitérios, lavrados em língua plana.

Se a poesia puder ser pão, sê-lo-á, mas não para o poeta... não vão os versos ter o mesmo destino da padeira...

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