26.12.16

El coronel no tiene quien le escriba... agasta-me e empolga-me

El coronel no tiene quien le escriba, de Gabriel García Marquez

À medida que a leitura avança, o comportamento do coronel deixa-me agastado, pois prefere alimentar o galo a cuidar devidamente da esposa enferma. Na verdade quem faz das tripas coração para que não morram à fome é ela... É ela que o incentiva a vender o relógio de parede, a vender o quadro, a vender o galo, embora nunca o incentive a procurar um trabalho - derrotado politicamente, espera pacientemente que o governo lhe atribua uma pensão pelos serviços prestados à pátria na Guerra dos Mil Dias. Durante 15 anos, todas as sextas-feiras, ele espera que o carteiro lhe entregue a carta que, finalmente, reconheça o seu direito...
A novela foi publicada em 1961, apesar de escrita em 1957-58, tempo em que o autor passava fome em Paris, pois o governo colombiano ia encerrando os jornais de que era correspondente. Ao lê-la, veio-me à memória a peça de teatro "En attendant Godot", de Samuel Beckett, publicada em 1952. Pode ser coincidência, mas o coronel surge-me como reencarnação de Estragon e Vladimir à espera de Godot...
De qualquer modo, o absurdo da situação do coronel é mais politizado, pois as referências à ação política são bem mais evidentes. Desde um Governo (do general Rojas Pinilla) que não respeita os seus inimigos políticos, a uma censura que, no caso do cinema, era controlada pela Igreja que classificava todos os filmes como atentatórios dos bons costumes - anunciando o seu veredito através de 12 badaladas diárias...
(...)
O galo acaba por se tornar no símbolo principal desta novela, porque deixado pelo filho Agustín, fuzilado, representa para o coronel e para o povo de Macondo a esperança de que a ditadura terá um fim. Não se sabe é quando!
Quanto à escrita e à composição de Gabriel García Marquez é tão enxuta e tão cheia de humor que só me resta relê-lo...

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