28.7.14

Contos Municipais, escritos de baixo para cima...

Terminada a leitura de Contos Municipais, de António Manuel Venda, quis registar uma ou outra ideia, o problema é que fui assaltado por uma associação mental... (Trata-se de um conjunto de estórias sobre um meio pequeno: o presidente da câmara, manda-chuva; a vereação conformista; a secretária discreta e prestável; a bruxa milagreira maria cadela; o vereador, chico esperto; a oposição diabolizada - um meio animizado, com joaninhas e ouriços, dióspiros, um elevador, e o imprescindível whisky presidencial... E claro, um meio que abomina qualquer intervenção externa, da capital... do ministério das finanças...). 
Entretanto, a associação mental está a ficar para trás, ou, melhor, está a dar lugar a outras ligações umbilicais: de Mário de Carvalho a Mia Couto, sem descurar José Eduardo Águalusa. Não querendo comprometer o António Manuel Venda em qualquer ligação perigosa, regresso à primeira associação mental: Gabriel Mariano, Cultura Caboverdeana, Ensaios... 
Pensava eu que me seria fácil recorrer a uma citação  do poeta e ensaísta Gabriel Mariano (aliás, José Gabriel Lopes da Silva) sobre a importância dos meios pequenos, quando me apercebi que a relação entre a memória e o lugar na estante pode tornar-se uma dor de cabeça... Da estante, saltaram, à vez, Vida e Morte de João Cafume, Ensaios, Claridade revista de Arte e Letras... e nada ou quase:
A cultura fez-se de baixo para cima. Não se fez da Casa Grande para a sanzala como sugere G. Freire.
No essencial, o que tenho a dizer da obra Contos Municipais é que ela foi escrita de baixo para cima, mesmo quando as nuvens pairavam sobre a Câmara Municipal de Monchique, de Portimão, de Tavira...
/MCG

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