14.7.14

Da arena à ágora


Vi o Alemanha - Argentina, e a força alemã sobrepôs-se à força argentina. Já era assim nas arenas romanas! Doravante, o tempo futebolístico será de organização e de músculo... 
Quanto à arte, escassa - apenas a sombra de Messi! Não compreendi porque representava a Argentina. Ainda se o deixassem jogar do lado adversário, talvez ele, por um instante, conseguisse sorrir... Deram-lhe um troféu, e ele, desconsolado, caminhava fechado sobre si, como se quisesse fugir dali.

Ainda sob o efeito da arena, volto-me para ágora com vontade de esquecer o tempo perdido, e leio um poeta, para mim, desconhecido - Porfírio Silva, Monstros Antigos, pág.15, Esfera do Caos Editores, 2013:

Um avião com fadiga do metal
já não é um avião; é outra coisa;
talvez uma escultura
uma escultura perigosa para os passageiros.
(...)
Um corpo com fadiga do metal
já não é um corpo; é outra coisa;
talvez uma escultura;
uma escultura perigosa para os seus íntimos
e reservados passageiros.

E demoro-me a pensar naquele avião que, há dias, deixou cair umas tantas peças sobre Camarate, sobre o Catujal, talvez uma escultura perigosa para os moradores...
E demoro-me a pensar se um corpo, como o meu, cansado, não será outra coisa; talvez uma relíquia de que os  passageiros já não querem ouvir falar...
  

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