12.7.14

O último projeto: esvaziar as minhas gavetas


Entre dezembro de 2005 e julho de 2014, os acontecimentos fúnebres sucederam-se, uns mais distantes outros mais familiares - as ausências foram substituindo as presenças... 
(Enquanto que os rostos se diluem, as silhuetas demoram-se crepusculares.)
 Hoje, dei comigo a abrir gavetas e a esvaziá-las. Imóveis, as gavetas esperaram quase nove anos, e lá de dentro, por entre aranhiços, ganharam vida os objetos mais inesperados: víveres putrefactos, perfumes pestilentos,  ferramentas enferrujadas, líquidos aviltados, pagelas conspurcadas, sapatos sem alma e sem par, caixas e caixas de comprimidos fora de prazo... 
(Foi tudo deitado para o lixo - esse lugar derradeiro que nos faz voltar atrás e (re)ver os excessos em que vivemos.)
Se, pelo menos, soubéssemos a hora certa para deitar fora o nosso lixo, as memórias seriam mais leves. 

Involuntariamente, abri as gavetas porque,  num certo momento, comecei a pensar que o lixo herdado não deve sobrecarregar as memórias alheias... Na verdade, hoje aprendi que não posso esquecer-me de esvaziar as minhas gavetas... 

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