12.9.14

Ainda que tivesse a voz de ferro...


Ainda que tivesse a voz de ferro (Camões, Os Lusíadas, Canto V, estância 16) de pouco serviria insurgir-me contra a displicência humana.
No ano letivo que agora se inicia, regresso mais uma vez à Epopeia lusitana com a mesma sensação: ninguém lê a obra, ninguém quer ler o Épico, o único épico que experimentou a matéria de que a obra é constituída...

Constou-me que vai nascer mais um partido - democrático e republicano ou será republicano e democrático? Aposto desde já que uma das primeiras vítimas será Camões!

Substituamos, entretanto, a voz de ferro pela voz de veludo, e pode ser que surja algum jovem que contrarie o meu cepticismo, lendo, por exemplo, um pequeno conto de Pepetela: «Estranhos Pássaros de Asas Abertas»: 

«E passaram atrevidamente ao largo dele, imparáveis, os barcos daqueles espíritos indómitos que tiveram o valor de vergar as vontades dos deuses. Mas que outros deuses e valores irremediavelmente ofenderam.»


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