"«A Revolução» de que ele e os seus amigos nunca paravam de falar seria como apontar um lança-chamas a tudo, até restar apenas terra queimada, e depois - bem, era simples - ele e os seus amigos reconstruíriam o mundo à imagem deles. Uma vez vista, esta realidade tornava-se óbvia, mas depois havia que enfrentar um pensamento: como podiam pessoas incapazes de organizar as suas suas próprias vidas, que viviam em permanente desordem, construir alguma coisa que valesse a pena?" Doris Lessing, O Sonho mais Doce, editorial Presença, pág. 59
Passo os dias a pedir aos meus alunos que, na apresentação oral e escrita da obra lida, em vez de se enredarem interminavelmente no enredo, aproveitem para destacar o que terão aprendido durante a leitura...
O excerto de O SONHO MAIS DOCE, de Doris Lessing, é um bom exemplo do que é possível apresentar e debater com os colegas de turma (e não só!)...
Nos anos 60 ( tal como nos anos 70, em Portugal), a Revolução fazia parte do discurso quotidiano das juventudes europeias; o que era necessário era deitar abaixo as instituições e depois se veria... E é neste "depois" que tudo se torna caótico, porque, afinal, os modelos da "revolução" eram totalitários... Os jovens que detestavam os pais, que abandonavam as escolas, que viviam em "comunidades" só podiam reconstruir o mundo à sua própria imagem...
São estes jovens (e os seus filhos) que, hoje, governam o mundo - um mundo igual ao dos seus pais, embora mais precário e asfixiante...
Terá valido a pena?
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