Marta “queria saber dos homens-estátua: se ainda lá estava o que se mascarava de estátua de pedra, com uma pomba batendo as asas por cima da cabeça, ao som da música de Mozart…» Passagens, A Cerimónia, pág. 152.
A Cerimónia corresponde à terceira parte do romance Passagens. Ponto de encontro e Noite são as duas outras partes de um velório interminável, em que a Morte ganha voz através da defunta, das empregadas do Lar para onde fora atirada na fase final da vida, e, sobretudo, dos familiares que, sob a forma de diálogos platónicos, procuram fazer o luto, exorcizando a responsabilidade de cada um. No essencial, a rememoração visa desfazer a ilusão de vidas que se queriam conseguidas, mas que, na verdade, eram produto de uma imaginação delirante… ( A certo momento, comecei a pensar na escrita do esquecido Augusto Abelaira…)
Da Morte à Vida vai apenas um pequeno passo, em que o acaso parece ter um papel determinante. Um passo de abertura, de passagem… Longe de Deus, tudo acaba, por ação do fogo, devolvido aos restantes elementos primordiais.
Ana 2: «Como imaginas a passagem?»
Ana 1: «Sem sobressaltos, previsível. Apenas um regresso aos elementos, ao ponto de partida. Através do fogo voltar à terra, ao ar, à água. Continuar a fazer parte do ciclo da vida.» op.cit., pág. 129
De leitura rápida, este romance bem construído, revelador da fragilidade das relações familiares, levanta-me, no entanto uma questão: qual é o seu destinatário?
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