3.11.15

Escrever sobre nós

Começo a sentir que escrever sobre nós é um pouco como abrir uma janela e ficar lá parado à espera que alguém dê conta da nossa presença.
Nos últimos dias, não tenho saído da janela, apesar de ter calcorreado os bairros antigos desta Lisboa que, por pouco, tinha especificado como "nossa Lisboa"... 
A verdade é que regressei a espaços e a tempos em que outrora vivi. 
No tempo mais antigo, o espaço é jesuítico, austero, filipino: a escadaria exterior, a fachada, o pórtico, a escadaria interior, os azulejos, embora diferentes e bem cuidados; faltam, todavia, os santos retidos noutra (ou na primeira, a verdadeira) fachada... 
No tempo menos antigo, de há 40 anos, o espaço de iniciação, a quem chamaram de Passos Manuel: o Liceu restaurado, imponente, portão fechado, alunos na rua... quase tão jovens como eu seria à época, apesar de professor imberbe, parecem-me diferentes, embora muito iguais, enfezados, contando cigarros ou qualquer outro derivado, substituto... sem revelarem particular interesse pelas lutas de hoje, e muito menos pelas de ontem...
A 500 metros, os ferroviários, uma centena, protestavam contra as privatizações: a polícia olhava-os com indiferença; só os turistas paravam por breves momentos... e seguiam caminho. Eu que procurava um jornal, não encontrei quem mo vendesse. Talvez se tivesse entrado na Assembleia da República...

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