29.11.15

Tantos são os indivíduos e tão diversos!

Há quem guarde tudo, ou melhor, há quem atire tudo para longe da vista. Gavetas, prateleiras, baús, sacos, sótãos e, sobretudo para a garagem.
Com o tempo, torna-se difícil circular em casa: mesas pejadas de molduras de outro tempo, bugigangas de múltiplas viagens, e despejos de quartos e de casas dos filhos nómadas...
Há mesmo quem, insatisfeito com o que tem, ainda traga da rua cadeiras, bancos, mesinhas de chá e até pequenas cómodas, isto sem falar nos eletrodomésticos falhos de resistência...

Hoje, fui procurar na garagem alguns dessas relíquias empoeiradas, e até uma saca de medicamentos fora-de-prazo encontrei. Ainda pensei que aquela saca tivesse pertencido a um daqueles parentes hipocondríacos que tudo compram, mas que, como seguro de vida, nada tomam. Lida a bula, decidem que o melhor é guardar na gaveta. Mas não, não há memória de como chegaram à minha garagem!

Há uns tempos, decidi catalogar livros, revistas, coleções, DVDs, manuais; já devo ir nos 2500 registos. Só que esta a visita à garagem está-me a enervar.
Olho e fico incapaz de determinar as categorias, as classes, as espécies, tantos são os indivíduos e tão diversos.
(...)
Tantos são os indivíduos e tão diversos!
Sinto agora que estou mais calmo, porque acabo de entender que a luta em defesa dos direitos humanos deve começar por combater as categorias, as classes, as espécies e, sobretudo lutar para que os indivíduos não sejam atirados para longe da vista, arrumados em espaços identitários, tal como é consagrado pelo pensamento multiculturalista.