22.10.14

Reuniões (intercalares)

18:45. Numa sala vazia espero impacientemente por uma reunião intercalar marcada para as 19:45. As luzes permaneceram acesas durante todo o dia, apesar da luz intensa, apenas coartada por persianas emperradas por falta de manutenção... Num armário, ainda é possível vislumbrar, alaranjados e noturnos, uns tantos livros de sumários...
(As mesas e as cadeiras, modernos espelhos de alma, refletem a cinza dos dias.)
Para lá do caixilho, outra sala, vazia, dois computadores piscam, um em tons azulados... Olho à volta, e os painéis mostram-me rotinas desnecessárias em tempo de desmaterialização da informação. Pela janela, as folhas outonais dos plátanos escondem os carros que, ininterruptamente, circulam deixando um ruído maligno, sobretudo, para quem chegou a esta sala às 8:00 da manhã.  

Evito pensar na reunião intercalar - para professores, pais e alunos - porque sempre que nela participo, me sinto num psicodrama. Uma daquelas sessões em que peões saltam do respetivo território para o do vizinho, sem qualquer incómodo, e desempenham a rábula da partilha e da busca de soluções para problemas mal equacionados. 
Nas reuniões intercalares, devemos encontrar soluções facilitadoras da aprendizagem e da relação. Numa hora e 30 minutos, salvamos o mundo. Depois se verá!
Claro que há reuniões intercalares que não deveriam começar, porque, à partida, já sabemos que acabam mal.
O que é válido para as reuniões intercalares serve para muitas outras reuniões! Porque reunir significa voltar a unir o que entretanto se separou (nalguns casos, se emancipou)... O que me leva a pensar no trauma da perda do cordão umbilical...E quando me coloco nesta perspetiva, compreendo melhor a razão porque continuo à espera da reunião intercalar... reunião que mais não é do que uma partilha de silêncios ruidosos...
Já só faltam 20 minutos... Talvez 20 minutos ou um pouco mais. Oficialmente, a reunião termina às 20:15. 

Sem comentários:

Enviar um comentário