Se Pessoa não tivesse sido forçado a abandonar a infância, estaria hoje a celebrar o centésimo vigésimo sétimo aniversário. A hipótese é atrativa, mas absurda, pois o tempo teria deixado de ser mensurável.
Ele bem gostaria que tal tivesse acontecido e por isso fez da vida o estaleiro da arte, o único lugar em que as crianças podem brincar eternamente.
Embora, ao longo dos anos, tenha procurado rumar contra os estereótipos que poluem a "leitura" de Pessoa, a verdade é que a Madalena acaba de me dar a oportunidade de insistir no tópico de que a poesia de Pessoa é anti-romântica, sem ser necessário regressar à "autopsicografia"...
As crianças de Pessoa vivem todas libertas da duração, como se se movessem numa extensão, sem princípio nem fim... Basta pensar no menino Jesus de Alberto Caeiro!
E já agora acrescento que a infância de Pessoa não esteve livre de tristezas e de escolhos.
(...)
As crianças, que brincam às sacadas altas,
Vivem entre vasos de flores,
Sem dúvida, eternamente.
(...)
Álvaro de Campos
As crianças vivem eternamente!
A infância,em si, é eterna, porque não tem consciência da passagem do tempo (ou da duração). O argumento da nostalgia da infância é arriscado, porque o Poeta não se está a referir à Sua infância, mas, sim, às crianças «que brincam às sacadas altas».
Para Pessoa, a arte é um estado lúdico absoluto e não um espaço confessional, romântico.
Sem comentários:
Enviar um comentário