´Apoquentar´ é uma daquelas palavras a que me habituei na infância. A minha mãe explicava o comportamento do meu pai, dizendo que ele andava apoquentado com a vida... Eu entendia que o céu não lhe sorria e por isso não me surpreendi quando um dia o vi partir para França, depois do granizo lhe ter destruído as vinhas.
O salto para França não lhe alterou o feitio, embora eu deixasse de ouvir falar da sua apoquentação. Por essa altura, quem andava apoquentado era eu, pois não compreendia o sentido da minha vida, apesar de me garantirem que o sentido da vida era servir...
Durante anos, só esporadicamente ouvi conjugar o verbo 'apoquentar', e sempre na boca dos que serviam, sem receberem a devida compensação...
Dir-se-ia que o termo 'apoquentar' só existia na boca da gente vulgar. Os poderosos desconheciam-no por inteiro, porque eles não se deixavam incomodar por miudezas...
De súbito, oiço o primeiro-ministro dizer que não está 'apoquentado' com as exigências da União Europeia - as divergências mais não são que miudezas!
Eu entendo o poderoso primeiro-ministro a quem o céu não tem faltado. Só que não consigo deixar de estar apoquentado... E parece-me que neste país há mais gente que vive apoquentada.
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