«O medo do desvio é uma espécie extremamente condensada de ansiedade. (...) A tarefa é menos simples no caso do medo pós-moderno da insuficiência. Em parte, porque o próprio mundo em que opera é - ao contrário do mundo moderno "clássico" - fragmentário, e porque o tempo pós-moderno, em perfeita oposição ao tempo moderno linear e contínuo, é "achatado" e episódico. Num mundo e num tempo assim, as categorias referem-se mais a "ares de família" do que a "núcleos duros" ou sequer a "denominadores comuns".»
Zygmunt Bauman, A Vida Fragmentada
Bem tento compreender, mas como se o tempo em que vivo é muito diferente do tempo em que me formei...
Desse tempo, em que me era exigida coerência, coesão, caráter, autenticidade, verdade, compreensão, pouco sobra, a não ser uma co-existência forçada, episódica...
A narrativa contínua e articulada foi substituída por quadros ou, como muitos dizem, por "cenas" - esta cena, aquela cena, a minha cena, a tua cena, a cena dele, a cena dela...
Cenas que se esgotam em si - pequenos e grandes dramas efémeros, chatos, mas que se comprometem é só no momento que a memória apaga num instante...
É esta desvalorização do que fui que me move a tentar compreender, pois as ferramentas do tempo pós-moderno exigem outro tipo de "inteligência", menos racional e mais insuficiente, de tal modo que já não sei avaliar, pois o conteúdo deixou de interessar e o objetivo, de tão imediato, é tão líquido que não o consigo apreender.
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