29.12.24

Não quero ser outro...

Felizmente, não estou a perder a fala nem a ficar cego. E não sou surdo, antes pelo contrário... o ruído afeta-me os neurónios, embora ninguém se aperceba disso... E sou só um, e não diversos como parece que está a acontecer com muita gente, sobretudo jovem... Por isso não há o perigo de me dividir em dois que se procuram na adversidade da perda, seja ela comunicacional, linguística, geográfica ou temporal... Não quero ser outro, nem mudar de sexo, nem a cor do cabelo - já me basta perdê-lo - o que fará um cabeleira sem cabelo?
Basta-me caminhar até me cansar, e ler mesmo que não entenda  a fama de certos escritores, embora a escrita não passe de um novelo sem fio que nos leve a qualquer porto...
Acabei de ler Lições de Grego, de Han Kang, e estou sem compreender se a verosimilhança ainda é um critério de avaliação da ficção: por vezes a realidade surge na sua crueza, mas a prosa acaba por ceder o lugar à fragmentação do discurso, tornando-o absurdo... 
Por ora, estou sem pressa de atalhar no caminho e gosto que os fios não se esfumem ou se partam antes de chegar ao ancoradouro...

21.12.24

Com tanta luz...

 

Com tanta luz, há quem viva nas trevas...
Com tanta fartura, há quem passe fome... 

Ainda hoje um talhante me confessou que grande parte da carne que irá vender até  terça-feira acabará por não ser consumida, apesar do império da gula...

Insiste-se em criar um clima de festa só para esconder a miséria a que a humanidade chegou.

É uma espécie de carnaval antecipado ou, melhor, permanente. 

Nada disto corresponde à essência do mito natalício... Dir-se-á que o mito é NADA e TUDO se resume ao que exibimos.

(FP: O mito é o nada que é tudo.)


15.12.24

Mia Couto a enterrar nuvens

Sem metáfora, não há escrita de Mia Couto... 
A figura cobre a guerra, a religião, a cor, a seca, a chuva, o abuso sexual, o envelhecimento, a morte; a língua em que cresce... 
A metáfora é inevitável, centrando-se no corpo, na pele, nas mãos, nos olhos... 
A própria vida se revela metáfora caindo na folha em branco como narcísica forma de eternidade...
Como alguém referiu, toda a figura é metáfora, e por isso os nomes próprios também são metáforas... À força  de gerar figuras, Mia Couto acaba por branquear os responsáveis pelo adiamento da esperança...
Quando o prazer da metáfora desfigura a realidade nua e crua... o que parece perto, fica cada vez mais longe. Imperdoável!
                                                                                   (Mia Couto, Compêndio para desenterrar nuvens, 2023)

13.12.24

Um cacto

 

A invasão não é de agora. A perceção é que é mais recente.
Quase todos os dias, passo por este cacto e leio que ele foi transferido da Quinta da Vitória... por ironia, certamente, demolida para dar lugar a três ou  quatro torres de apartamentos aburguesados, e uma zona comercial que, em grande parte, serve o bairro contíguo da GEBALIS, que o município lisboeta deixa degradar incautamente.
Não basta entregar casas, é preciso assegurar que elas são estimadas, diariamente...
(...) 
Hoje, numa das saídas do Hospital de São José, um jovem indiano (?), transido de frio e provavelmente de febre, afastava-se cambaleando... e não pude deixar de pensar nos espinhos destas vidas.


9.12.24

A força do vento

O que vento tem a mais, tenho eu a menos. E o insólito é que ele sempre foi assim: ora não damos por ele, ora eleva tudo no ar. E eu agarrado ao chão!

( Em dia de algum vento...)

 

8.12.24

O Contador da História

 

Lá fui, ontem, rever os velhos atores (João Mota e Carlos Paulo) e os novos, cujos nomes ainda não me tombaram na memória...

Espectáculo bem produzido, e interpretado de acordo com o rigor sempre exigido pelo 'maestro' que, uma vez mais, revisitou a génese do teatro português...

Do texto de António Torrado ressalta o pendor pedagógico eivado de um sebastianismo que, infelizmente, continua presente no fascínio pelo 'almirantado'...

5.12.24

Pasmado...

 

Ainda não pude observar devidamente, mas estou na ideia de que visualizei um telheiro agigantado, à medida de quem encomendou a obra. Deve ter custado bom dinheiro e, talvez, possa abrigar quem por ali passe na calada da noite, apesar das portas cerradas e da segurança apertada...
Nestas obras, há sempre quem ganhe e, também, há quem se deslumbre... Como campónio fiquei pasmado pelas razões erradas, certamente.

1.12.24

50 anos depois...


Do quê?
Do súbito enamoramento.
De um casamento temporão, aos olhos de hoje...

Do tempo passado, as palavras não dizem nada, a não ser que se tem tratado de uma prova de resistência...

de olhares distintos que mais cedo ou mais tarde se extinguirão...

28.11.24

As rolas

 

É só para lembrar que as rolas não devem ser esquecidas no OGE. Praticam o equilibrismo como qualquer trabalhador ativo ou inativo... E a bem dizer, a inatividade não lhes é nada favorável.

Espero que o sr. montenegro, adepto fervoroso da ação, as contemple com dois ou três milhões, sem por em causa os intereses das grandes empresas, dos banqueiros e dos afilhados... 

(E quem fala de rolas também se refere a pombas...)

25.11.24

O 25 de novembro de 1975

O mérito dos acontecimentos daquele ano é que permitiram corrigir o rumo. Certo é que o fulgor democrático se foi desvanecendo ao longo dos anos até chegarmos a este pântano em que nos vamos afogando.
No entanto, se o rumo tivesse sido outro, teríamos regressado a uma forma de ditadura que acabaria por nos albanizar.
Entretanto, vivemos numa democracia suicida de que o dia de hoje é um triste sinal.

Valha-nos o SOL que desponta...

23.11.24

A foto


O mar de São Miguel. 
Antes, no entanto, o que os meus olhos abarcavam... tudo plantado numa linha de tempo que não é o meu, a não ser pontualmente.
A foto assegura esse momento do instantâneo em que os olhos se tornam cegos.
Agora, que me centro na imagem, recordo a varanda donde repetidamente fixava o horizonte, quase indistinto.
E há todo um conteúdo que insiste em escapar-me...
Uma varanda despojada..

20.11.24

Por este andar...

Por este andar, nem a ponte nem o santo se aguentam. Só o chão restará!


 Os comentadores belicistas estão ansiosos pela guerra, e ainda não percebi porquê. Será que pensam que esta guerra será igual às anteriores ou são tão estúpidos que ainda não compreenderam que, também, eles acabarão por ser dizimados... No melhor dos casos, nem chegaremos a acordar!

18.11.24

Na Avenida...

Desci a Avenida da Liberdade, à espera de encontrar uma loja de filatelia e de numismática. De balde. 
Só vi hotéis e lojas de luxo; preciosas no passeio, à espera dos motoristas dos Porsches e dos Ferraris que se impacientavam na longa fila de trânsito...
Ainda não se lembraram de reservar as ruas laterais só para o serviço dos riquinhos que por ali se alojam e fazem compras!
Acabei por observar a 'sagração' da arte do fado, sem que lá faltasse o descanso de um pobre dependente do smartphone... e regressei à Barata Salgueiro (Cinemateca) onde pude rever o filme 'Dona Flor e os Seus Dois Maridos'... Outros tempos, em que ainda era possível encontrar lojas de filatelia na Avenida..

 

15.11.24

Ainda pensei...

No Parque de Monsanto, não oiço as aves típicas do outono florestal, apenas tiros e não creio que se trate de tiros aos pratos... há por ali uma carreira de tiro ou estarei enganado? Dos serviços prisionais ou da Força aérea?

Ainda pensei que se tratasse de um duelo de pistolas, mas não. Aos parlamentares de hoje falta-lhes honradez...

9.11.24

Se passar por Torres Novas

 


... procure o rio Almonda, siga-lhe o curso e logo encontrará o que sobrou dos moinhos e lagares do Caldeirão, de que já havia registo no século XV...



5.11.24

Memórias inacabadas

Um pouco mais cedo

Para ti, que lutaste sempre,
Que nunca pensaste que o teu fim estava ali, naquele lençol branco, 
asséptico.
Que nem sequer esperaste pela meia-noite!
Foste embora um pouco mais cedo...

A morte é sorrateira, apressa-se invisível,
Esconde-se dos sentidos, destrói numa euforia devastadora.

Em certos casos, no entanto, a morte é mais leve do que a vida.
Anoitece apenas.
A vida, essa, pesa desmesuradamente.
Absurdamente.

(12/12/2005)

Aproxima-se

Cercam-me os fios dos teus cabelos
nocturnos silenciosos
Despontam em números proibitivos
os teus ávidos dedos

Parecem querer aproximar-se no mar largo
que fica para além do Sol

(22/1/2006)

Passei por lá e não te vi!
Refletia só a modesta jarra
Sombra ténue da tua presença.

Passei por lá e só ouvi
Sob a capa da terra
O eterno incómodo
dum involuntário queixume.

Passei por lá e não senti
a força da tua mão
E saí a procurar flores
esquecidas da tua presença.

Passei por lá e só vi
o olhar vazio
do corvo faminto.

(2/3/2006)

Se tu soubesses
O lugar donde partiste
tinhas ficado um pouco mais

Se tu soubesses
As máscaras que nos cercam
tinhas ficado um pouco mais

Se tu soubesses que as máscaras
ensaiam uma dança metálica
de espectros

Se tu soubesses
O lugar que me deixaste
tinhas ficado um pouco mais

Um lugar onde seduz um rosto sem luz

(1/7/2006)

Estranhamente

Irrompe das ruas desertas
a mudez das casas
Enleia as roseiras
a ervagem daninha
Agoniza ao sol de Inverno
secreta tubagem
 
Estranhamente procuro
o lugar
a voz
a rosa
a calma
 
Estranhamente ouço
o eco
da enxada,
da gadanha,
do arroio
 
Estranhamente
caio
e fico lá
num não-lugar
 
Enleado em mim mesmo

(3/3/2006)




4.11.24

É estranho!

Em certos grupos do Facebook ninguém conversa com ninguém, nem sobre a ausência de uma vírgula nem sobre os excessos de quem quer que seja...
Há, apenas, o registo pontual de uma nuvem que encobre ou que se vangloria.
Deveria haver uma forma de eliminar esses grupos inócuos, porque lixo já há que sobeje. Por vezes, chego a pensar que esses grupos são de plástico... 

O QUE É QUE EU ESTOU ALI A FAZER? Pelo menos, aqui, no blog, é tudo residual... a conversa é acabada.

2.11.24

CONVERSA desempoeirada....

Hoje, dia de defuntos, não toquei a lápide sepulcral nem lancei cinzas ao mar, fiquei-me pela conclusão da leitura da 'conversa de João Gomes com Ricardo Araújo Pereira' - O QUE É QUE EU ESTOU AQUI A FAZER?
Uma 'conversa' assente no conhecimento aprofundado dos livros sagrados e da literatura sobre Deus, a Fé, o HUMOR e a MORTE...
O ateísmo do humorista Ricardo Araújo Pereira faz-me lembrar o de José Saramago, de quem, curiosamente, não se fala nesta obra... talvez porque o entrevistador se situe noutra margem...
Esta 'conversa' é intensa e obriga-nos a pensar em preconceitos, em rituais e, em comportamentos defensivos perante o fim da matéria e, mesmo, sobre o esvaziamento da consciência... 

Por estes dias, as criaturas não têm motivos para rir, nem sequer para sorrir... Por mim, espero voltar a ler esta CONVERSA... 

30.10.24

A comédia de Balzac


 Ler a 'Comédie Humaine' de Balzac é a maior aventura que, como leitor, alguma vez, encetei.
Apetece-me dar da conta das 'manobras' napoleónicas e, sobretudo' dos mecanismos de conquista e manutenção do poder, mas o que percebo é que o 'poder' não existe nem nas monarquias nem nas repúblicas.
O que existe são teias de interesses que manobram na sombra dos poderosos de cada momento, podendo este ser fugaz ou geracional.
Os 'santos' do lugar não levam ao céu, mas permitem satisfazer ambições que todos sentem como legítimas, independentemente dos efeitos degradantes...

O problema é que se observarmos o estado do mundo atual... nada mudou. Balzac diz tudo o que há a dizer sobre o comportamento humano. Só mudam os títeres e as figurinhas!

24.10.24

Nas calhas...

Nas calhas da roda não gira nem a razão nem o coração...

giram as desigualdades

a deseducação

o laxismo

e, sobretudo,

os incendiários da política e da comunicação...

... o que não significa que os delinquentes possam continuar

À SOLTA

17.10.24

Uma nova linha...

Amanhecer
Da forma das linhas pouco sei, até porque, para mim, são quase sempre invisíveis... Sei que algumas me parecem mais carregadas e até mais ameaçadoras. Esforço-me, no entanto, por andar na linha, embora não saiba muito bem se isso me é favorável...
Ontem, abriu-se uma nova linha cujo único fito é sair do mundo virtual, aproveitar ao máximo a margem em que me encontro...
Se te encontrar por aí, daremos dois dedos de conversa...

15.10.24

Um boné para Antero...



Por razões que a razão desconhece, fui deixar um boné de largas temporadas no Santuário do Senhor do Santo dos Milagres, próximo do qual Antero se suicidou no dia 11 de setembro de 1891... Espero que lhe possa ser útil, pois a sua obra sempre me inspirou em termos profissionais e pessoais... Não era minha intenção, mas, por vezes, há apelos inesperados...
Apesar de haver escolas em Ponta Delgada de que Antero é patrono, fiquei com a sensação de que falta ali qualquer coisa que assinale melhor a grandeza do homem e do artista... A não ser que os miguelenses sejam partidários de um orientador pedagógico que, ao assistir às minhas aulas de Português, um dia me disse que não deveria 'dar pérolas a porcos' - referia-se aos sonetos Tese e Antítese... e aos alunos!

Santuário do Senhor do Santo dos Milagres
O boné ter-me-á caído do bolso, às 7h30... sob o efeito da talha dourada e, sobretudo, do inesperado toque do telemóvel...

12.10.24

De volta ao princípio

 
A talha dourada e a sumptuosidade da Natureza

Padres e mais padres... até descobrir que o Hotel (São Miguel Park Hotel) se encontra em terreno que outrora alojou  o Seminário de São Miguel.... e para remate o São Miguel Arcanjo é o padroeiro do lugar.



11.10.24

Para o caso de visitar a Ilha de São Miguel

 

Tudo aqui é vulcânico...
 Se procura banhar-se cedo não se acanhe...

Se sonha com um cozido temperado com enxofre, as caldeiras nunca se negam...

8.10.24

7.10.24

Ponta Delgada, à noite

 

O vento começa a fazer-se sentir... a hora é de descanso, pois a viagem foi cansativa - demasiado tempo à espera, com um sem número de controlos de pessoas e pertences...
Não me consigo adaptar ao espírito da manada que se deixa conduzir mecanicamente.
Pode ser que amanhã seja diferente, no entanto o furacão aproxima-se... nem sei se ouvi bem ou se os neurónios se estão a desconectar...

4.10.24

Ernest Bloch, registo incompleto de leitura


UTOPIA

Ernest Bloch, Le Principe de l’Espérance, II Lés épures d’un monde meilleur (1959), éd. Gallimard, 1982 

1. Rêver de ce que l’on n’a pas n’allège pas la souffrance, mais l’accroît et empêche que l’on s’habitue à la détresse. p.11

2. Les utopies sociales ont toujours opposé le monde de la clarté à celui de la nuit... p.40

3. En effet ce lointain temporel prit bientôt l’aspect d’un éloignement dans l’espace et se confondit avec un pays de merveilles. L’élargissement des horizons géographiques dû aux campagnes d’Alexandre fut un facteur déterminant. p.56

(...) Alexandre apparaît ici   comme le réalisateur de l’État stoïcien... p.60

4. L’utopie stoïcienne (...) réside dans le programme d’une communauté cosmopolite composée de citoyens du monde, c’est-à-dire ici: dans le programme de l’unité de la race humaine. À la base c’est l’individu qui en reste le porteur, “l’État supérieur” commence en tant qu’isolement des individus dans le but de leur formation morale et de la constitution d’une communauté libérée de la violence. p.62

5. A utopia animada de uma vontade de transformação p.78

(...) Ainsi la liberté et l’ordre, rigoureusement opposés dans les utopies abstraites, se mêlent intimement dans la dialectique matérialiste, s’assistent mutuellement. La liberté concrète est l’ordre, qui relève du domaine propre de cette liberté; l’ordre concret est la liberté, qui est celle de l’unique contenu de cet ordre. p. 110

      (...) Les utopies abstraites avaient consacré neuf dixièmes de leur espace à la peinture de l’État de l’avenir et un dixième seulement à l’observation critique, souvent purement négative, du moment présent. Ce qui devait par le fait même conférer à l’objectif visé sa richesse en couleur et en vie, alors que la voie y conduisant, située à l’intérieur même des conditions données, restait cachée. 

Marx a consacré plus des neuf dixièmes de son oeuvre à l’analyse critique du moment présent, et a assigné une place relativement réduite aux déterminations du futur. (...) Cet avenir n’est donc mis en lumière que par le matérialisme historique, pour être alors seulement modelable en connaissance de cause. p.212-213

(...) L’utopie sociale se préoccupe principalement de bonheur humain et est une longue réflexion, sous une forme plus ou moins romanesque, sur son aspect économico-social. p.121

(...) Doctrinaires, les vieilles utopies l’étaient, parce qu’elles avaient lié leur nature, au demeurant si imaginative et pleine de fantaisie, au style de pensée rationnaliste de la bourgeoisie. Jusqu’à la fin du dix-huitième siècle, la science fondamentale de la bourgeoisie était la mathématique et non l’Histoire. p. 163

(...) Ce qui n’empêche que tous ces rêveurs ont une classe que personne ne peut leur dénier. Incontestable est déjà leur volonté de transformation, et malgré leur vision abstraite, ils ne sont jamais uniquement contemplatifs. p.164

(... ) Le rêve consistant se rallie activement à ce qui est historiquement arrivé à échéance et dont l’avènement est plus ou moins entravé. Il importe donc à l’utopie concrète le rêve qu’elle a d’une chose, rêve qui fait lui-même partie du mouvement historique. Comme elle est médiatisée par le processus, il lui importe de donner le jour aux formes et aux contenus qui se sont développés au sein de la société actuelle. Prise dans ce sens non plus abstrait, l’utopie devient synonyme d’anticipation réaliste du Bien.

(...) L’utopie concrète et attachée au processus se trouve dans les deux éléments fondamentaux de la réalité reconnue par le marxisme: dans sa tendance, c’est-à-dire la tension de ce qui est échu et entravé, dans sa latence, qui est le correlat des possibilités objectives-réelles non encore réalisées dans le monde. p.215

6. Aucune idéologie n’est plus anglaise que celle d’une guerre coloniale moralement justifiée, comme l’enseigne l’Utopie , aucune idéologie n’est plus éloignée de la république monastique du Mont Athos. p.92

7. A utopia de Proudhon est donc uniquement fondée sur des “axiomes” et des “principes” certes bourgeoisement révolutionnaires mais tout aussi statiques et idéalistes.

Le premier axiome pose l’autonomie des personnes, avec laquelle toute inégalité provoquée par les circonstances sociales est incompatible.

Le second axiome pose l’idée de la justice en tant que force, inhérente à la personne, de respecter et d’encourager la dignité humaine chez toute autre personne.

Princípios: abstracção; força motriz; dialéctica 

L’utopie de Proudhon veut donc abolir à la fois le capitalisme et le prolétariat... p.152-153

8. Michel Bakounine defende que le plaisir de la destruction serait un plaisir créateur... p.155

(...) A utopia anarquista: pour elle, ce n’est pas le capital qui est le mal principal, mais l’État; c’est sur lui qui se fixe en premier lieu la haine de Bakounine, tout le reste n’est qu’un mal secondaire, dérivé du premier. (...) Par conséquent, le diagnostic de Bakounine place dans l’État - qui n’était pour Marx qu’une simple fonction économique - le foyer et l’origine de toute condition d’exploitation, et contrairement aux marxistes, il met l’abolition de cette fonction en plein centre de son objectif. p.157

9. On fait généralement mouche en disant que la haine a, au départ, des causes économiques. Ce qui offre immédiatement, plus souvent encore ce qui est étranger, ou mieux: ce qui est faible ne lui fournit que les occasions de s’extérioriser. p.197-198 

(Esta seleção data de Agosto de 1995... e tinha um objetivo que se esfumou como acontece com qualquer utopia...)

1.10.24

Nenhuma pomba vive segura

Apesar da vista poder ser apetecível, a pomba não está segura. Basta pensar nos mísseis iranianos que se dirigem para a terra santa. De facto, o sagrado perdeu qualquer efeito dissuasor.
Pelo que se vem assistindo, no espaço aéreo, deixou de haver fronteiras, de tal modo que, um destes dias, vamos ver os deuses do olimpo cair sobre as nossas cabeças, pois nem eles são capazes de respeitar as regras, outrora, impostas por Zeus...
Por mim que nada decido, creio, no entanto, que é tempo de eliminar os malfeitores  que se escondem sob vestes sagradas manchadas desde a origem...

Quanto às nações unidas de nada servem, pois os arsenais crescem por toda a parte... e para mal dos nossos erros, o secretário-geral só esbraceja...

Somos governados por um bando de malfeitores, e nada fazemos... até que os mísseis nos caiam em cima. 

24.9.24

O que fica

 

O que fica registado tem cada vez menos valor. O que pensamos ver não é o que surge aos nossos olhos...
Há toda uma distância que desfoca e, sobretudo, há pronomes que despersonalizam...
Eles registam hábitos antigos de quem passa a vida a copiar....

Quanto aos valores pouco há a deplorar, pois eles sempre foram postiços.

(E parece que sem eles, os pronomes, não conseguimos comunicar...)

20.9.24

Amílcar Cabral na Torre do Tombo

 Passei pela Torre do Tombo, a propósito do Centenário de Amílcar Cabral... Em termos de documentação, parece-me rigorosa, mas insuficiente. Em termos de legibilidade, a exposição não é apelativa. Não creio que o objetivo vise dar a conhecer e reabilitar o homem que perdeu a vida numa luta que não deveria ter acontecido... e não me refiro apenas à ação do colonizador.
(E já agora o santo não está identificado! Francisco, será! Franciscano ou Jesuíta?)

17.9.24

ANY WHERE OUT OF THE WORLD

Para que conste, embora tal não tenha qualquer interesse em tempo de fogo contínuo em floresta abandonada, acabei de ler PETITS POÈMES EN PROSE, de Charles Baudelaire - autor que sempre me interessou, embora nem sempre o tenha compreendido...

De todos os momentos (ou movimentos) que chamaram a minha atenção, gostaria de destacar um sob o azul cinza que me tolda a visão:

«Il me semble que je serais toujours bien là où je suis pas, et cette question de déménagement en est une que je discute sans cesse avec mon âme.
«Dis-moi, mon âme, pauvre âme refroidie, que penserais-tu d'habiter Lisbonne? Il doit y faire chaud, et tu te regaillardirais comme un lézard. Cette ville est au bord de l'eau; on dit qu'elle est bâtie en marbre, et que le peuple y a une telle haine du végétal qu'il arrache tous les arbres. Voilà un paysage selon ton goût; un paysage fait avec la lumière et le minéral, et le liquide pour les réfléchir!»

Não creio que Baudelaire tenha passado por Lisboa, mas parece que estava bem informado sobre os costumes, em particular, sobre a relação que os portugueses mantêm com o mundo vegetal. 

Areia, poeira e cinzas.

13.9.24

Quem te avisa...


teu amigo é... E ainda há quem continue a beijar-lhe a mão...e não queira perceber que há certas criaturas que nunca foram nem serão confiáveis...

Por isso lembro:


10.10.15

Ainda Marcelo, a sereia

Melhor seria que Marcelo Rebelo de Sousa tivesse explicado o que é que Portugal lhe deu e que, na verdade, não deu a muitos outros portugueses...
Este Marcelo urbano, que insiste nas raízes provincianas, apresenta-se como "vítima" da perda do Império, que lhe levou a família ao Brasil, na condição de emigrante... Há neste seu Portugal uma certa tendência para confundir o exílio político com a emigração!
O Portugal de Marcelo começa a ganhar uma substância que não é a minha. E essa substância acabará por deixar de se expor nas entrelinhas para surgir num movimento político que irá colocar-se à direita da atual Coligação PSD - CDS...
A campanha dos afectos já fora ensaiada com Marcelo Caetano como antídoto para ocupar o lugar do pai tirano e austero que governara o país durante quatro décadas. 
Agora a sereia pensa que o caminho falhado por Caetano pode ser reintroduzido para substituir o esfíngico Cavaco.

8.9.24

Essa estrada, ao volante...

Acabei de ler O Mistério da Estrada de Sintra, de Eça de Queirós e de Ramalho Ortigão, folhetim terminado a 27 de Setembro de 1870.
Dizem-me que devo considerar este mistério como o primeiro romance policial português. Quem sou eu para dizer algo de diferente? 
Durante a leitura, pressenti que Edgar Allan Poe e Charles Baudelaire não andariam longe... e sobretudo, pensei que os autores desta obra seriam leitores compulsivos de tudo o que de 'romântico' e de' realista' ia sendo escrito por terras de França..., prontos a farpear costumes de que eles próprios nunca se libertariam por inteiro...
... e lá no fundo, voltou-me à memória a ideia de que toda a vida li o que me foi imposto sem qualquer critério... a não ser o de 'obra prima', o que acaba por ocultar a matriz da maioria das obras. Flutuantes,  estrelas de um universo à deriva...
Talvez seja por isso que cada vez mais se aposta no gratuito e no absurdo.

(Ficou-me o Carlos Fradique Mendes que eu imaginara surgido de outras águas, ou seria de um vulcão?

1.9.24

O despesismo autárquico

 

Mais uma empreitada! Barata, como se pode ver...
Não há dinheiro para o SNS, para desassorear os rios, mas não falta para encher os bolsos dos do costume...
Pode ser que daqui a três anos ainda lá continuem os candeeiros que já começam a bordejar... 
De qualquer modo, não saímos do ilusionismo pequeno burguês que vai engordando umas tantas tainhas ribeirinhas...

27.8.24

A condição do tempo


Este blogue teve, outrora, a pretensão de se inscrever no tempo, sem dele dar conta, ocupando-se, pretensiosamente, da duração...
Por incompetência ou por esquecimento, a descontinuidade instalou-se e o fio quebrou, ou os acontecimentos fúteis foram ganhando relevo e, ao mesmo tempo, perderam significado...
Sobrou, a necessidade de preencher a frágil linha do tempo... 

Esse preenchimento levou-me à leitura tardia de GUERRA e PAZ... e agora que já vou no Apêndice,  cito a propósito:
... ao passo que o homem atua sempre no tempo e é arrastado pelo curso das coisas. Restabelecendo esta primeira condição, tão desprezada - a condição do tempo - vemos que a mínima ação não pode ser executada sem outra anterior, que a tornou possível.

25.8.24

Longe do mar...

Embora não pensar nisso possa ser anestesiante, a verdade é que a leitura de A Guerra e Paz, de Tolstoi, me obriga a pensar na cobardia dos napoleões deste tempo que invadem, ocupam, arrasam terra alheia, como se estivessem a fazer um favor a alguém... e, sobretudo, obriga-me a pensar na má-fé de historiadores, comentadores que se deixam inebriar por palavras incapazes de explicar o que quer que seja, pois a realidade não obedece a planeamentos por mais racionais que possam parecer... O melhor é ler o romance, pois ele explica bem a voragem a que todo o ser humano é submetido durante a sua curta ou longa vida.
E já agora, desconfio que o Putin nunca leu Tolstoi... e sonha com Napoleão, o pequeno...

19.8.24

O melhor é não pensar nisso

 

mas eles estão por todo o lado... não fossem os rios e as montanhas, a questão nem se punha.
No entanto, não é o relevo que impõe limites, muralhas de todo o tipo. Na Natureza, não há canhões. Foi o homem que os inventou para solidificar o seu poder.
Por agora, vou soltar o barco e deixar-me ir nas páginas de Guerra e Paz, pois começo a acreditar que Tolstói escreveu tudo o que havia a dizer sobre os jogos de poder, bélicos e todos os outros...

17.8.24

O Âncora corre para o mar...

Os rios correm para o mar cujas águas nunca se queixam... Por vezes, regressam alteradas, mas somos nós que as imaginamos assim.
Não fosse a sede de poder e tudo seria mais sossegado. De qualquer modo, por mor que seja a matança, a vida continua...
No intervalo, corre a depressão coletiva...
Hoje é sábado, passa o comboio, as gaivotos não deixam de planar... e é todos os dias assim.