29.1.14

Há uma história por contar...

Há uma história por contar em Portugal: a da génese e da expansão do ensino superior privado em Portugal. Quem acompanhou alguns dos empreendedores sabe que a maioria, cedo, viu na educação superior uma oportunidade de negócio. 
Por "cedo" entenda-se início dos anos 70 e, sobretudo,  pós-25 de abril, pois muitos dos regressados, professores universitários ou  funcionários do aparelho colonial, perceberam, ao chegar à metrópole, que o ensino superior público era incapaz de satisfazer a procura...
Muitos dos criadores das sucessivas cooperativas de ensino superior, sempre resultantes de cisões, não tinham o adequado perfil académico para instruir uma nova geração proveniente das franjas sociais, até à data, impedidas de entrar na universidade. 
No entanto, isso não os coibiu de procurar na academia ou, em particular, entre os saneados pelo PREC quem lhes assegurasse o número mínimo de doutores exigido para que o desejado alvará fosse concedido.
Os doutores contratados eram apresentados como coordenadores dos múltiplos departamentos e o Ministério da Educação, ocupado por compadres, também eles, provenientes das ex-colónias ou de gabinetes de estudo, entretanto, extintos, legalizava universidades, extensões universitárias, escolas pré-universitárias, institutos...
A contratação de docentes obedecia a critérios supostamente democráticos: em primeiro lugar, cooperantes e familiares; em segundo lugar, doutores politicamente ostracizados; em terceiro lugar, conselheiros  e outros jubilados de renome; em quarto lugar, políticos de todos os quadrantes, da extrema direita à extrema esquerda... neste caso, uma simples licenciatura era suficiente para entrar na categoria de professor auxiliar; em quinto lugar, alguns docentes do ensino secundário para "alfabetizar" alunos que "dificilmente" obtinham a nota mínima que lhes franqueava a entrada no mundo das praxes civilizadoras...
Com a passagem do tempo, os licenciados subiam a mestres (os mais afoitos a doutores por Salamanca!)... e a porta ia-se escancarando para que alcançassem o almejado patamar de doutores, com equivalência ou sem ela... 
Quanta investigação, quanta ciência, quanta obra!

Por tudo isto, não surpreende que haja licenciados que raramente puseram os pés numa sala de aula. 
Por tudo isto, não surpreende que haja doutores que sempre tiveram os pés à porta da sala de aula, mas que confundem as praxes com brincadeiras de crianças.

PS. De tudo isto não decorre que nestas instituições não haja, ou não tenha havido, alunos, funcionários e professores que cumprem zelosamente a respetiva missão, apesar da rede de cumplicidades e de promiscuidades que paulatinamente geram uma cultura de corrupção e de idiotia.  

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