12.3.13

Aquilo que nos motiva...

Aquilo que nos motiva é frequentemente inexplicável! 
Com o «discurso do pastel de nata» pensava atrair uns tantos gulosos para o problema do amadorismo que faz de nós palhaços de um psicodrama coletivo.
Afinal, vejo-me na mesma situação que o ministro Álvaro quando nos convidou a exportar pastéis de nata...
Errei a aposta. Deveria ter preferido o bacalhau com natas! Há, no entanto, um problema. Esta opção agrava o deficit. Creio ter referido noutro «post» que, nos anos 30 do século passado, a importação de bacalhau já era um pesado encargo para o erário público.
Do mesmo modo, considero que a importação da avaliação externa dos professores, para além de sobrecarregar o contribuinte, mais não é do que um decalque do tipo de avaliação praticado pela Troika  em estreita articulação com o avaliador interno...
Só falta que os professores passem a ser avaliados trimestralmente!
(...)
Em alternativa ao «discurso do pastel de nata», poderia ter dissertado sobre a «programação do caos» de José Rodrigues Miguéis que, nos anos 70, alertava para o perigo de ignorarmos que a qualidade da visão externa é muito diferente da visão interna, pois a velocidade de processamento é distinta, porque a primeira é gulosa, apressada, e a segunda é sóbria e metódica.
E também poderia ter seguido o raciocínio daquela aluna que censurou o professor quando este, na aula de língua materna, a propósito do poema Amor, de Miguel Torga, se referiu à consciência moral. Esse conceito só poderia ser objeto da aula de Filosofia. Aliás, acabava de ser objeto de teste! O que é que um Poeta, acolitado por um triste professor de Português, pode ensinar sobre o despertar da consciência? Sobre a passagem da inocência à consciência? Sobre a descoberta do Amor? Sobre a paixão e a dor?  
É tudo tão fútil quando a visão externa aniquila a visão interna!
A jovem deusa passa
Com véus discretos sobre a virgindade;
Olha e não olha, como a mocidade;
E um jovem deus pressente aquela graça.
 
Depois, a vide do desejo enlaça
Numa só volta a dupla divindade;
E os jovens deuses abrem-se à verdade,
Sedentos de beber na mesma taça.
É um vinho amargo que lhes cresta a boca;
Um condão vago que os desperta e toca
De humana e dolorosa consciência.
E abraçam-se de novo, já sem asas.
Homens apenas. Vivos como brasas,
A queimar o que resta da inocência.
Miguel Torga, in 'Libertação'
    
 

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