A deusa grega da memória é anterior à invenção do alfabeto e da escrita. Nessa época, Mnemosine era extremamente poderosa, pois sem ela não havia aprendizagem e, com um pouco de boa vontade, evolução.
E como, apesar de deusa, a memória de Mnemosine não era infinita, vimo-la, desde o início do seu reinado, proteger a música e a poesia, artes primordiais para a celebração da descoberta e preservação do nome dos heróis fundadores.
Com a invenção da escrita, Mnemosine entrou em decadência tal como o cérebro humano! Se indagarmos com um pouco de atenção, perceberemos que o homem tudo tem feito para expulsar a memória para fora de si...
Hoje, os discos de memória são maioritariamente externos, assemelhando-se a memória humana à da lesma.
Creio que essa (a rejeição de Mnemosine) é a primeira causa de sermos governados por folhas de cálculo, dominados pela estatística, devorados pela imagem...
Esta evocação de Mnemosine resulta da leitura de um conto de Lídia Jorge, Invocação a Calíope, onde, a linhas tantas, refere: "Sim, consta que teria sido durante esse sol-posto arábico que Luís Vaz teria escrito numa folha de papel - «Agora tu, Calíope, me ensina o que contou ao Rei o ilustre Gama...» E nesse ponto havia interrompido a escrita, à espera que a filha de Mnemosise, a deusa da memória, lhe trouxesse à lembrança tudo o que havia lido..."
Na citação, sublinhei Mnemosise porque não consegui encontrar o termo. Penso que se trata de uma gralha da edição Expresso. Mas gostei que Lídia Jorge se tenha lembrado dele, pois revela ter uma memória mais apurada do que a minha. Só, recentemente, me apercebi do dom profético da autora, quando uma ex-colega do Liceu de Tomar me trouxe à memória que ela fora nossa professora de Língua Portuguesa em 1972/73. Da professora, cujo nome olvidara até porque ela desapareceu no 3º período desse ano, apenas recordava que certo dia me terá dito que a minha sensibilidade poética era reduzida, apesar de ter algum jeito ensaístico. Se havia algum caminho a seguir, seria o dos hidrocarbonetos.
Por outro lado, a citação também serve para explicar a familiaridade com o Poeta. Afinal, a ideia de "Um dia com Luís Vaz", não é original! Tem como antecedente, «o sol-posto arábico (em) que Luís Vaz" solicitou a ajuda de Calíope, filha de Mnemosine...
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