Pouco tenho a acrescentar, mas tudo poderia ser mais fácil se ouvíssemos com mais atenção. Recordo que, no princípio da adolescência, me foi feito o diagnóstico de "dispersão". Oficialmente, não fui acusado de "desatenção", e sempre me pareceu que os dois termos não eram sinónimos...
A esta distância, creio que a causa da "dispersão" era a desadaptação. Afinal, fora arrancado à terra hostil, e atirado para uma redoma de piso encerado, decorada por extensos painéis de azulejos esventrados pelas baionetas francesas...
A cera substituía a poeira e os azulejos não davam conta nem dos espinhos nem dos buracos dos caminhos. Lá no fundo, o que mais me preocupava era saber quem é que tinha arrancado os olhos àqueles celestiais anjinhos... E apesar de estudar Latim e, sobretudo, Francês, não havia ninguém que me explicasse que, em nome da Liberdade, os oficiais e os soldados franceses tinham saqueado as igrejas, violado as virgens e as matronas, sem dar paz às velhas... e, finalmente, tinham fuzilado os anjinhos...
Em síntese, a desatenção não é coisa fácil de explicar, porque a atenção simplesmente está centrada noutro objeto. E a dispersão é filha das entranhas, isto é, da necessidade de explicar o que está para além dos nossos sentidos, mesmo que seja nas ilhas desafortunadas...
Nessas ilhas que, hoje, são vilipendiadas, em nome da Liberdade!
Sem comentários:
Enviar um comentário