O helicóptero interrompe-me o sono leve e, durante uma hora, afasta-se e regressa, sobrevoando o bairro: não sei se se desloca do aeroporto para o Parque das Nações ou para o Montijo. Chego a pensar que são os angolanos a desembarcar os diamantes...
Não oiço os sinos da igreja do Cristo Rei a convidar-me para as matinas! Ao alcance da mão, tenho, no entanto, Illuminations, de Rimbaud! E retomo a leitura:
Não oiço os sinos da igreja do Cristo Rei a convidar-me para as matinas! Ao alcance da mão, tenho, no entanto, Illuminations, de Rimbaud! E retomo a leitura:
"Un Prince était vexé de ne pas s'être employé jamais qu'à la perfection des générosités vulgaires."
(Sem ser príncipe, também eu me sinto vexado por não ser capaz de ir além da generosidade vulgar. Talvez seja por esse motivo que continuo a dizer sim, quando deveria ocupar o meu tempo de forma mais construtiva.)
E assim, horas mais tarde, lá subi e desci a rua da Igreja com o Santo António alheado: Não havia por ali nem pássaros nem peixes a quem pudesse dirigir-se... E quando dali saí fiquei com a certeza de que não gosto da Padaria Portuguesa! Não há ali espaço para mim: Não é possível tomar um café ao balcão; há sempre duas filas distintas mas cujo atendimento é indistinto; e, na esplanada, as mesas estão tão próximas que pareço fazer parte duma nova família...
Finalmente, graças às virtudes da tecnologia, lá elaborei mais um parecer (gratuito) sobre a classificação atribuída a uma prova de Português: 9,2 valores. Em três dias, já é o segundo 9,2 de que tomo conhecimento.
Quero acreditar que este classificador nunca leu Rimbaud, e que detestará a generosidade vulgar...
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