Em Um Auto de Gil Vicente (1838), a representação da crença romântica na «liberdade natural das almas» fica a cargo do tandem Bernardim - Pêro do Porto ou Pêro Sáfio, em que o último põe a ridículo a seriedade do primeiro, isto é, o dramarturgo Garrett assassina o que sobra do romântico poeta Garrett.
De pouco serve o sentimento num «mundo de vaidades e fingimentos, um mundo árido e falso, em que a fortuna cega, os sórdidos interesses, as imaginárias distinções corrompem, quebram o coração...»
Na plateia, o espectador acaba a rir do que há de mais puro no coração feminino ou / e na alma do poeta, os dois únicos seres capazes de valorizar a «liberdade natural».
Almeida Garrett, educado no visão do mundo greco-românica, optou pelo programa medievo-romântico, sem, no entanto, perder a lucidez. Há nele uma competência reflexiva de grau superior em que os modelos são permanentemente ajustados à implacável realidade. O riso aberto e o riso contido são, para ele, os modos de indagação.
( O dia vai lento, atravessado por diálogos dispersos, como se no palco alguem pusesse em cena múltiplas peças...)
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