Sugere o meu amigo António Souto que, depois dos 50, nos começamos a esgueirar do tempo (O meu tio da América, Human, fevereiro 14). Pode ser que seja verdade, embora no meu caso o mecanismo não funcione. Primeiro porque nunca tive um tio da América. Na verdade, um tio meu viveu muito tempo em África, em Angola. Hoje, vive na Madeira; não sei se ainda é África ou apenas uma ilha com jardim à espera de se juntar à Atlântida...
Mesmo que tivesse um lugar para onde me evadir, a viagem seria sem sentido: não mora lá ninguém! Alguns objetos desenham círculos, mas apenas os necessários para isolar a distância: o avião parado sobre o guarda-fatos, o pião por rachar preso ao interdito, o crivo vazio... o joio asfixiou o trigo...
A memória é já só do presente e lembra-me que, também, eu posso ser escravo numa engrenagem que não me pertence. Escravo de uma ordem caprichosa, prenhe de omissões e de compromissos que nada me dizem.
Bom seria que a memória me desse uma mão e me levasse para uma encosta esquecida de que amanhã continua a ser dia!
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