11.2.14

Um retrato patético

Para mim, não há inverno sem chuva ininterrupta. Hoje, sim, choveu de forma persistente, quase sem intervalos... O vento e o frio são apenas acessórios!
A chuva traz-me esperança de renovação, a vida no estado puro. Sempre que sinto a chuva, acredito que o mundo pode ser melhor, reduzir a fome, secar a guerra.
Bem sei que esta emoção só é partilhada por quem habita os desertos áridos, abandonados pelos rios exauridos pelo sol... e, no entanto, oiço com atenção todos aqueles que se queixam da chuva e têm pressa de libertar-se  dela, como se ela fosse  fonte de morte. Oiço-os sonhar com a areia da praia sob a canícula doirada e vou pensando como podemos ser mal agradecidos. Queremos a vida e vivemos na demanda da morte!
A ideia pode ser arguta, mas o que eu queria dizer era coisa diferente! É que, apesar da chuva, fonte de vida, sinto-me empurrado para a idiotia ou, em alternativa, para o silêncio absurdo. Suspeito de mim mesmo, vigio os meus gestos, peso as palavras e ainda peço desculpa pelo incómodo da minha presença. E já não preciso que me deem um empurrãozinho... Em dia de chuva, eis um retrato patético!

 (A nau da Governação leva a bordo Cila e Caríbdis, empurrada por uma multidão de patetas! O que será feito de Zeus?)     

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