9.2.14

Tempestade mental

Acordei um pouco mais tarde, talvez porque tenha adormecido a pensar que Camilo Castelo Branco fora um homem pouco escrupuloso no que às mulheres respeita, apesar da glória literária de que ainda se alimenta. A glória pode, assim, alimentar-se da borracha que vai apagando a biografia, substituindo-a pela cristalização. O mito.
Hoje, a falta de escrúpulos generalizou-se e não há dique que a trave.
Entretanto, fui acometido por uma reflexão, até ao momento, inconsequente: a relação entre a sensação e o sentimento. Seguro de que a sensação não pede autorização para se instalar, sei, contudo, que ela é efémera, vaidosa, excessiva quando se proclama doce ou amarga, gélida ou em fogo. A sensação mais não é que paixão... e esta dura o tempo da sensação ou não sobrevive sem repetição.
Quanto ao sentimento, um pouco além da emoção, pode durar para além da sensação, pode viver da repetição e sobretudo da prisão voluntária ou não. E na verdade, o pensamento matinal embrenhou-se na duração do sentimento, no apagamento do sentimento, nas condições em que o sentimento desfalece...
E aí a morte do objeto e a cegueira progressiva do sujeito acabam por diluir o sentimento até à sensação de vazio que solicita que o lugar seja preenchido...

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