«Todas as portinholas agora
estavam fechadas, um silêncio caíra sobre a plataforma. O apito da máquina
varou o ar; e o comprido trem, num ruído seco de freios retesados, começou a
rolar, com gente às portinholas, que ainda se debruçava, estendendo a mão para
um último aperto. Aqui e além esvoaçava um lenço branco. O olhar da condessa
para o lado de Carlos teve a doçura de um beijo. O Dâmaso gritou saudades para
o Ramalhete. O compartimento do correio resvalou, alumiado; e com outro
dilacerante silvo, o comboio mergulhou na noite…»
Eça de Queirós, OS MAIAS
Não resisto, perante a incapacidade do leitor (?) de identificar a diversidade de sensações no momento da partida do comboio de Santa Apolónia, a colorir o texto de estímulos auditivos, predominantes, visuais, gustativos e táteis...
Esta incapacidade não é inata! Ela mais não é do que o fruto da dispersão, de uma atrofia que vai secando os sentidos.
(...) Agora que os exames se aproximam, pode ser que este triste apontamento ainda possa servir de acendalha...
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