«Numa terra onde se cortam as árvores para que não façam sombra aos arbustos...» Luís de Sttau Monteiro, Felizmente Há Luar! (Matilde)
Bem sei que estou a ficar maçador, mas vivo o drama do desinteresse pela leitura ativa, aquela em que o leitor lê o passado com olhos de presente, os olhos da vida apagada e triste. E é esta dimensão do presente que encontro em obras como a de Luís de Sttau Monteiro.
Pelo contrário, os meus interlocutores veem esta peça como uma velharia imposta por um qualquer ser bolorento e desfasado da realidade e, como consequência, limitam-se ao resumo e ao estereótipo... até porque hoje já se encontram extintos os informadores, os denunciantes, os falsários, os mercenários, os iluminados, os hipócritas, os intriguistas, os populistas, os racistas, os corruptos, os conspiradores, isto é, os vicentes, os corvos, os sarmentos, os sousas, os miguéis, os beresfords, os polícias, os catrogas, os coelhos, os portas, os gaspares, os borges, os frasquilhos, os moedas, os luíses, os durões, os rasmus, os thomsens...
Os arbustos vão ocupando tudo de acordo com um princípio já antigo, assumido pelo marechal inglês Beresford, marquês de Campo Maior:
O VELHO ESTÁ SEMPRE A CEDER PERANTE O NOVO E O NOVO SEMPRE A DESTRUIR O VELHO...
E vou anotando com uma réstia de esperança que o presente se encarrega de desfazer:
«Sempre que há uma esperança os tambores abafam-lhe a voz... Sempre que alguém grita os sinos tocam a rebate... (...) E cai-nos tudo em cima: o rei, a polícia a fome (...) Até Deus! (...) E ficamos pior do que estávamos... Se tínhamos fome e esperança, ficamos só com fome... Se, durante uns tempos, acreditámos em nós próprios, voltamos a não acreditar em nada...» (Felizmente, Há Luar!, Manuel)
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