enquanto que os magos da política fingem prestar homenagem a quem os serviu,
eu interrogo-me sobre o alcance do verso de F.P./ Álvaro de Campos, «Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.»
De todos os heterónimos de Fernando Pessoa, Álvaro de Campos é a assunção da ideia de que o desenvolvimento tecnológico traz consigo o fim da vida gregária tal como foi construída até ao início do século XX. Por outros palavras, o futurismo (a técnica) combate as estruturas coletivas: a igreja, o estado, a família, a educação, a moral...
Assim, o técnico, ao dar vida à artificialidade, destrói a natureza como criação divina. Coloca-se no lugar de Deus, e encara a realização individual como arte poética, isto é, como técnica, extensiva a todas realizações, a todas as performances... as fronteiras diluem-se, as narrativas fragmentam-se, e perante um universo escaqueirado a colagem torna-se a arte suprema...
Nos bastidores, o encenador, à medida que as personagens sobem ao palco, toma consciência da inevitabilidade trazida pelo modernismo: a infância, a Lisboa antiga, o Tejo de outrora nada significam. A técnica substitui a saudade pelo nada que é tudo, abrindo as portas ao Absurdo...
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