27.4.14

Escrever, traduzir e viver para os outros

Vasco Graça Moura morreu este domingo aos 72 anos, vítima de cancro.

(…) “Podes partir. De nada mais preciso / para a minha ilusão do Paraíso.” David Mourão-Ferreira

Homem político, culto, trabalhador, eloquente, afável, disponível, Vasco Graça Moura serviu a república, sem esperar recompensa.
Das opções literárias, não esperava benevolência nem compreensão imediata...
De fortes convicções políticas, sabia que os seres vertebrados odeiam as meias tintas e por isso tinha tantos inimigos e alguns amigos...

Verbete incompleto:
Moura, Vasco Graça (Foz do Douro,1942 - Lisboa, 2014) – Modo Mudando (poesia satírica, 1963)[1];  Semana Inglesa (1966); O Mês de Dezembro (1977) Sonetos de Shakespeare (trad.1977);  A Variação dos Semestres deste Ano (1981); Nó Cego (1982);  A Morte de Ninguém; 50 Poemas de Gottfried Benn[2] (1982) Os Rostos Comunicantes (1984); Quatro Últimas Canções (1987); A Furiosa Paixão pelo Tangível (poesia)[3];  Naufrágio de Sepúlveda (1988); Partida de Sofonisba às Seis e Doze da Manhã (1993); Sonetos Familiares (1994) Nó Cego, o Regresso (1982 /2000[4]); Meu Amor, Era de Noite (2001); Enigma de Zulmira (2002); [5]Lacoonte, Rimas Vária, Andamentos Graves (2005); Poesia 2001/2005 (2006)




[1] - Na perspectiva de João Gaspar Simões, Modo Mudando girava, à maneira de satélite, em torno do orbe lírico do poeta de No Reino da Dinamarca ( Alexandre O’Neill). Por seu lado, Nó Cego aproxima-se de Ostinato Rigore, de Eugénio de Andrade.
[2] - Poeta alemão (1886-1956)
[3] - Maria Lúcia Lepecki, no artigo “Tocar de Ouvido”, publicado no DN de 24 de Janeiro de 1988, expõe os pontos convergência etimológica  entre «tangível» [TAG, de que também descendem ‘toque’ e ‘tacto’] e «dizível» [DEIK, cujo primeiro sentido é rigorosamente mostrar]. Estabelecida esta associação, refere «o primeiro traço pelo qual em VGM o dizível-dito se faz também tangível relaciona-se com uma dinâmica de materialização. Qualquer coisa que dá ao lido o efeito de tocável, dando aos corpos falados o efeito de existência como volume, peso, forma e cor.» (…) A função da imagem  «é trazer no mais concreto sinal do mais abstracto, conferir corpo físico – peso, volume, forma e cor, movimento – ao que de «físico» pouco teria…» E ainda: «ficamos nós entre o ver e o ouvir, duplo investimento sensorial  espaço e experiência intermédios onde mora a pessoa, o ser mais profundo, da poesia de Graça Moura.
[4] - reedição com 15 aguarelas de Mário Botas.
[5] - Ver crítica de Miguel Real, JL de 13 de Novembro de 02: vê duas fases na obra deste autor – a fase estético-realista, em que denuncia os mitos arqueológicos da esquerda portuguesa...

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