16.4.13

A Natureza em Manhã Submersa

A natureza, em si, simplesmente não existe neste romance ou, por outras palavras, ela mais não é do que a projeção do estado de espírito do protagonista ( e de certo modo do narrador/autor):
A - «Pelas portas das janelas sem vidros, eu via os campos enrodilhados de fúria, aguentando no dorso a praga de calor. Um olho ingente baixava do céu, fitava os campos, um silêncio rígido vibrava verticalmente como corda retesa.»
B - «Longo tempo uma ave negra pairou sobre nós, unindo-nos com as suas asas compridas
C - «Saí. Um rumor larvar alastrava pelos campos já um pouco desafrontados pelo calor. Um vento largo de céu e de montanha erguia-se do fundo do tempo, curvava com o azul e caía longe, para lá da noite que viria.»
D - « Um sol avermelhado rasava as árvores do jardim, coroava em silêncio a cabeça dos montes. No ar fresco de brisas, as pancadas do tanoeiro subiam para o céu, de grandes braços abertos. Num instante parei frente à janela a olhar tudo isso, banhado de súplica sem esperança.»
Quatro exemplos e em nenhum deles, a natureza tem autonomia ou contraria o EU. Ela, apenas, reflete a revolta, a condição, o desespero, o destino do sujeito, o desejo de que a morte o liberte da prisão materna, da prisão pequeno-burguesa, da prisão do seminário... 
A miséria, a fome, a ignorância, a submissão impõem a António Santos Lopes um caminho sem retorno!  

Sem comentários:

Enviar um comentário