23.4.13

Ele mora num campo rubro de papoilas

1913-2013 - Cem anos!
O Estado Novo. Para mim, um quarto longe da luz, a disciplina cega; para ele, a masmorra junto ao mar, a disciplina libertadora; certo dia, saí do quarto escuro, e só encontrei sombras; ele fugiu da masmorra para a terra prometida - eu era apenas uma ovelha tresmalhada; ele era o pastor de um novo rebanho...
( e aqui começa a divergência: eu deixara de estar disponível para integrar qualquer rebanho; ele, ortodoxo, disciplinava; eu, heterodoxo, indisciplinava.)
O cravo desabrochou em Abril, e ele regressou para impor a disciplina dos cravos. E eu, olhava à volta, e só via papoilas!
( E a divergência cresceu: o país das rosas de Isabel e das muralhas fortificadas era então o país dos cravos e das muralhas de aço e das rosas templárias. E eu, olhava à volta, e só via papoilas!)
Hoje, atravesso as mesmas galerias que ele calcou, entro na sala 44 e, de súbito, oiço-o, a ler atentamente Raúl Brandão e não a bíblia marxista-leninista-estalinista. Para mim, ele mora num campo rubro de papoilas!

Sem comentários:

Enviar um comentário