20.4.13

Ser voluntário

Ainda adolescente, alguém terá pensado que a minha educação passaria por servir a «Conferência de S. Vicente de Paulo». Não me lembro de me terem explicado como é que a «sociedade» funcionava. Lembro, no entanto, que, num determinado dia de cada mês, me deslocava a uma casa dos arredores de Santarém, onde deixava um saco de arroz, bacalhau, batatas e farinha, aos pés da cama de um moribundo. Não sei se alguma vez lhe conheci o nome, mas recordo para sempre que o homem padecia de um indescritível e doloroso cancro do esófago, o que o impedia de falar e de respirar. E continuava a fumar! À volta, os sinais eram de abandono e de medo. Não sei bem por que motivo este meu voluntariado involuntário cessou. À distância, a única explicação que encontro resulta da minha súbita mudança de rumo... (Hoje o cheiro do tabaco atordoa-me.)
 
Anos mais tarde, vi-me na situação de acompanhar (e de financiar) novas formas de voluntariado que continuavam a aproveitar o espírito solidário dos jovens. Fi-lo sempre com alguma reserva, pois tinha a sensação de que as ONGs se dividiam em «voluntários profissionais» e em «voluntários amadores». Frequentemente, os projetos dinamizados eram fruto da abnegação e da energia criativa dos tais jovens solidários. (E nesse contexto, passei a viver à força nos bastidores!)
 
Atualmente, a maioria dos jovens voluntários não encontra emprego ou pura e simplesmente perdeu-o. De pouco lhes serviu a abnegação, a criatividade, o sacrifício!
 
Quanto a mim, é cada vez mais claro que a caridade e o assistencialismo não passam formas encapotadas de exploração não só dos mais necessitados como dos voluntários genuínos. 

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