Fotografar exige o olhar, mas olhar não é ver. No fotografar, o instantâneo é um disparo. (Fonte: Erich Fromm, The Anatomy of Human Destructiveness, 1974)
Nestes últimos dias, só disparei uma vez! Fixei-me na curva apertada que abre para o horizonte sadino. Quando olhei, procurei a linha de água e o resto da muralha do castelo, e a maior parte dos indicadores desprenderam-se dos olhos, talvez, para que mais tarde eu pudesse analisar cada um deles. E com tempo, porque sem ele não é possível destrinçar os elementos, observar-lhe a posição, a cor, o volume: devolver-lhe o espaço engolido pela pressa.
Ver exige paciência, concentração, interesse, abertura interior. Ora, antes de disparar, gastei umas tantas horas a classificar provas de exame, para concluir que poucos são os alunos que veem. Basta relembrar que encontrei cavaleiros medievais, sentados em esplanadas de café, a contemplar ociosas donzelas que passavam sem lhes dar atenção, ou que no conto “A Importância da Risca do Cabelo”, de José Rodrigues Miguéis ninguém identificou um pingo de IRONIA ao retratar o Mansinho. Repito: o Mansinho!
Na verdade, o mais fácil é disparar!
/MCG
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