23.7.13

Saramago enxovalhado

Não sei se o ribatejano José Saramago algum dia se terá postado ante portas do senhor Mário Dias dos Ramos (Maia,1935), mas a leitura da crónica "O potencial ditador" publicada pelo jornal i (23 Julho 2013) deixou-me a pensar que o filho da Azinhaga (Golegã) mais não seria que um desses bárbaros modernos assim enxovalhado por uma serôdia cruzada cultural, em nome da civilidade...
Pois é em nome da civilidade que o senhor Mário Dias dos Ramos se atreve a comparar o realizador Manuel de Oliveira com o escritor José Saramago, embora me pareça que, no essencial, os argumentos favoráveis ou desfavoráveis não se dirigem à obra realizada, mas, sim, ad hominem.
No caso de Manuel de Oliveira, este é retratado como um aristocrata simples e humilde, de renome mundial. Quanto ao «jubilado pelo Nobel», o colorido é bem diferente: trata-se de «um homenzinho insignificante com cara de lobisomem e de poucos amigos, a quem a glória subiu à cabeça».
E não posso deixar de citar um parágrafo bem revelador da natureza de quem se viu excluído do círculo de Saramago: «O contraste entre o homem bom e simples que, no cinema, tem sabido retratar, implacavelmente, esta sociedade agridoce que somos todos nós, e o homem que jamais pôde fugir a si próprio, ao seu destino duro, arrogante, impante de sobranceria, irritabilidade e agressividade, aquele ar persecutório de inquisidor-mor do mundo e dos homens.» 
Se entendi bem o pensamento do cronista, ao citar, de forma descontextualizada, Saramago -« em cada democrata existe um potencial ditador» - o despotismo faz parte da natureza dos bárbaros, dos plebeus... e só preocupa, só suscita medo quando se aproxima demasiado da porta dos aristocratas...
Apesar de tudo, quero acreditar que este enxovalho nada terá a ver com Manuel de Oliveira e, também, quero acreditar que o diretor do i, senhor Eduardo Oliveira e Silva, não terá estado atento à composição da página 13, à relação subliminar entre texto e foto.

2 comentários:

  1. Artigo de muito mau gosto, de qualidade literária e linguística duvidosa, péssimo exemplo de crítica literária ou lá que é que esse senhor escreve no jornal I. Se os jornais têm poucos leitores, deviam cuidar mais da qualidade dos seus artigos e do carácter moral e ético dos seus autores. Os leitores exigem respeito pelos escritores, sejam eles quais forem, e pela cultura do seu país.

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  2. Assim deveria ser!
    No entanto, o Jornal i está com dificuldade em assumir a minha crítica...

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