I - Consta que a média nacional do exame de Literatura Portuguesa foi 10,5. Os meus alunos, pouco vocacionados para a Leitura e, consequentemente, para a Literatura, obtiveram uma média de 11,95. Pode parecer um bom resultado, mas, para mim, é um indicador de mediocridade e que legitima a decisão de não voltar a lecionar esta disciplina no ensino secundário.
E se este argumento não fosse suficiente, acabo de encontrar dois outros que, talvez, justifiquem o desencanto dos jovens desenraizados: « O tempo já não é um rio, mas uma coleção de pântanos e tanques de água.» E esta ideia é suportada por uma reflexão de George Steiner sobre os valores a admirar e a visar ativamente num mundo em que se procura « o impacto máximo e a obsolescência imediata.»
A Literatura é uma forma de enraizamento, de perenidade, de identidade, e não subsiste sem a duração, sem a história da duração, sem o rio em que a avezinha se despenha para ser arrastada para a foz ou alapada nalgum escolho.
Perante isto, tomo, agora, consciência de que se quisesse continuar a ensinar Literatura teria que passar a visitar os pântanos, ciente de que a experiência seria nauseabunda, embora passageira, pois essa visita estaria condicionada por um mecanismo que a tornaria anacrónica, disfórica e inútil.
II - Andando o ministro da educação tão preocupado com as disciplinas estruturantes, como é que se explica que a média nacional da disciplina de Português (12º ano) tenha baixado precisamente no ano em que a carga horária foi aumentada em 45 minutos?
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