Sempre que um pingo de gordura cai sobre mim, vejo-o como uma nódoa pronta a desgraçar-me o dia. Em regra, essa fatalidade tem origem na minha desatenção ou na minha falta de preparação para lidar com a gulodice... Claro que há outros pingos mais desagradáveis, como os que podem cair sobre a minha cabeça ao atravessar um jardim, uma rua...
Em qualquer um destes incidentes, a náusea é pessoal e, em princípio, não incomoda mais ninguém!
Há, todavia, outra nódoa que contamina toda a gente, e que, pela sua porosidade, nos enodoa.
Já não é a primeira vez que me refiro ao nível de língua do primeiro-ministro, mas a sua insistência na «esperteza saloia» dos outros leva-me a pensar que ele, ao desconhecer o significado e a origem do termo «saloio», não vê que está a adotar um discurso xenófobo e, sobretudo, a revelar que de "esperto" nada tem .
Lembra-me sempre o inquisidor-mor que insistia em salvar a alma dos infelizes que caíam sobre a sua alçada, mesmo que para tal fosse necessário ordenar a execução pelo fogo.
Tal como o Inquisidor, o primeiro-ministro está convencido que foi escolhido para cumprir uma missão redentora e que os outros mais não são do que tristes saloios.
Este tipo de nódoa é trágico pela razão já apontada - enodoa. Isto é, suja, desonra a quem ela recorre. E mais grave, obriga o adversário a recorrer ao mesmo registo de língua, contaminando toda a sociedade e, em particular, os jovens que acolhem facilmente os maus exemplos.
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