Entrega-se
como para morrer
mas não morre
É demasiado rígida
e não tem gretas
não estremece
Cai
vai caindo
sem atingir o repouso
sem oferecer o rosto
à terra
que ela chama
Rosa, António Ramos[1] (17.10.1924 -21.09.2014). Fez estudos liceais no
Algarve (Faro, até ao 6º ano do Liceu) e trabalhou como empregado de
escritório, actividade que abandonou, sendo explicador e tradutor (durante mais
de 20 anos). Foi co-responsável pela edição das revistas: Árvore; Cadernos do Meio-Dia.
Foi um elemento activo do MUD Juvenil, tendo sido presidente da Comissão
Distrital de Faro. Esteve 3 meses preso no Aljube por ter subscrito um
manifesto por ocasião da comemoração do 5 de Outubro de 1947. Considera-se um
antifascista genuíno, simpatizando com a democracia directa. Entende a poesia como forma de conhecimento, como
arte do impossível, um acto fundador, para
dissipar o que está escrito[2]. Em 1971, Ramos Rosa rejeita o
Prémio Nacional de Poesia, concedido ao livro “Nos Seus Olhos de Silêncio”, porque se aceitasse entraria no jogo
de compromisso com o fascismo.[3]
Quanto às influências de João Cabral de Melo Neto, considera-as muito pequenas[4]. É de 1958, o seu poema «O
funcionário cansado”: / Sou um
funcionário apagado / um funcionário triste / Obra: Grito Claro (1958); Viagem através duma Nebulosa (1960); Poesia, Liberdade Livre (ensaio, 1962); Ocupação do Espaço (1963); Construção
do Corpo (1969); Nos seus olhos de
silêncio (1970); Não Posso adiar o
Coração (1975); As Marcas no Deserto;[5] Gravitações
(1983); Incisões Oblíquas
(ensaio, 1988); Acordes (1989)[6];
Pátria Soberana (2001); Os Volúveis Diademas (2002), ed.
Ausência; Em 1988, recebeu o Prémio Pessoa pelo conjunto da sua obra. Para A.
Ramos Rosa: «a prática poética ou artística é sempre um fenómeno social que só
se justifica e identifica pela sua inerente capacidade subversiva.»[7]
(Nota de leitura necessariamente incompleta.)
[1] - Não posso
adiar para outro século a minha vida / nem o meu amor / nem o meu grito de
libertação / não posso adiar o coração. // Não posso adiar / ainda que a noite
pese séculos sobre as costas / e a aurora indecisa demore./
[2] - / É preciso
queimar os livros e calarmo-nos / Esta é a matéria bárbara a matéria viscosa /
[3] - Entrevista conduzida por José A. Salvador, Diário
Popular.
[4] - No entanto, reconhece influências de Drummond de
Andrade e Paul Éluard, assim como dos poetas espanhóis da geração de 27 (Guillén, Vicente Aleixandre e Pedro Salinas). E ainda dos norte-americanos:
Theodore Roethke e Wallace Stevens.
[5] - Livro oferecido aos 80.000 jovens que se reuniram em
Bolonha, em 1977.
[6] - Prémio de Poesia APE /CTT.
[7] - Entrevista dada a Baptista-Bastos, a 9 de Abril de
1981.
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