Consta que esteve em Itália. Ver a Écloga Aleixo.
Tanto em Menina e Moça com em Frei João Pecham, a avezinha interpreta e simboliza os tormentos de quem sofre de amores místicos em Frei João Pecham, humanos em Bernardim Ribeiro.
Grande teólogo franciscano, Doutor Seráfico, e segundo fundador da Ordem Franciscana. Nasceu em 1221 próximo de Viterbo, na Toscana. Com dezasseis anos, fez-se franciscano, foi estudar para Paris e ensinou depois Teologia na Sorbonne. Eleito Geral da sua Ordem, feito Cardeal, morreu em 1274. Deixou uma obra: Memórias de S. Francisco.
Em referência à sua obra Lignum Vitae, apresenta um atributo de uma árvore com folhas e um pelicano que rasga o peito para alimentar as crias (a árvore da Redenção ou de S. Boaventura) e o crucifixo que o Santo considerava ser toda a sua biblioteca.
Em Vicente de Bauvais e Tomás Cantipratense surge a morte do rouxinol como símbolo da alma saudosa e distante que se fina de amor.
Intertextualidade
Que chorasse perdida em tua voz!
Género literário sinónimo da poesia pastoril que respeita as convenções
clássicas provenientes, sobretudo, das Bucólicas de Virgílio e dos Idílios
de Teócrito de Siracusa. Este género enuncia um ideal de vida que canta as
belezas da vida do campo, o espaço dos pastores, a ingenuidade dos costumes, a
quotidiano tranquilo em simples contacto com a natureza. Trata também dos
amores, alegrias e penas dos pastores que contrastam com os sobressaltos e
inquietações da vida urbana.
A poesia bucólica é também conhecida por
poesia pastoral ou pastoril.
O pastor é o representante de um mundo natural, simples, cuja entrada
corresponde invariavelmente a uma evasão, não só em termos de espaço (da cidade
para o campo) como também em termos de tempo (do presente para o passado).
Assim, há como que uma idealização do modo de viver campesino, onde se cria um
ambiente imaginário de paz e perfeição, no qual não existe qualquer tipo de
corrupção. Todo o cenário bucólico pressupõe a descrição de uma utopia passada.
Esta idealização leva a que a vida campestre seja associada à Idade de Ouro
(passado), altura em que o homem vivia em harmonia com a natureza e antes de
sucumbir ao pecado do orgulho.
Outras imagens típicas deste tipo de
poesia são: o pastor que descansa debaixo da faia e que medita sobre a musa
rural; o pastor que toca a sua flauta redentora, que, por vezes, se envolve num
concurso musical amigável com outro pastor; expressando a boa ou má sorte com a
sua amada (má sorte esta que quebra a monotonia do ócio perfeito, pois provoca
a infelicidade); o pastor que chora a morte de um pastor amigo. É também de
notar que este tipo de literatura põe em cena figuras reais, tais como o
próprio pastor ou os seus amigos, com a condição de estarem disfarçados, recorrendo para isso ao uso de anagramas.
O bucolismo poético teve muitos
seguidores, nomeadamente na Idade Média, altura em que as imagens bucólicas
servem o ensinamento cristão, isto porque Cristo era o Pastor e os homens o seu
rebanho. Durante a Idade Média, Boécio, Dante e Chaucer são alguns dos
escritores que retratam este modo de vida simples do pastor, modo de vida que é
tido por uma prefiguração simbólica do mundo edénico. Nas pastorelas da poesia
trovadoresca, podemos registar algumas insinuações bucólicas.
Já no Renascimento, com a poesia de
Petrarca, Boccaccio (Ameto, 1341, e Ninfale Fiesolano,
1344-1346), Sannazzaro (Arcádia, trad. para castelhano em 1549), a
poesia castelhana de Boscán e Garcilaso, as éclogas Basto e Montano
de Sá de Miranda, a poesia de Bernardim Ribeiro e as Rimas de Camões,
entre outros, esta temática é ainda adaptada a escritos satíricos e alegóricos,
como por exemplo The Shepherd’s Calendar (1579) de Spenser, no qual o
mundo pastoral clássico é idealizado para os pastores ingleses. Generaliza-se
também a prática de representação dramática de éclogas nas principais cortes
europeias. O próprio Gil Vicente deve a inspiração dramática às éclogas de Juan
del Encina (Cancionero, 1496). A
écloga é a forma literária preferida dos poetas renascentistas que trataram
de temas bucólicos.
O mundo pastoril vai oferecer ao homem
renascentista um refúgio, um mundo utópico paralelo à sociedade real onde pode
haver uma dedicação exclusiva ao ócio. É nesta época que se desenvolvem as
cidades, fenómeno que arrasta consigo o sentimento de nostalgia pela
simplicidade e tranquilidade da vida rústica. As convenções pastoris são de tal forma populares que vão influenciar
outras formas literárias como as novelas (por exemplo, a Lusitânia
Transformada, de Fernão Álvares do Oriente, a Consolação às Tribulações
de Israel (1533), de Samuel Usque e a trilogia de Francisco Rodrigues Lobo A
Primavera, O Pastor Peregrino e O Desenganado, 1601-1608). A célebre Menina e Moça (1554), de
Bernardim Ribeiro tem também ingredientes bucólicos, embora entre na categoria
de “novela sentimental”.
No neoclassicismo e no romantismo, assiste-se a um
afastamento deste tipo de literatura gasta pelos seus convencionalismos. Apesar
disto, há um reencarnar do pastor no herói romântico.
No século XIX e XX, não vamos encontrar qualquer
“diálogo de pastores”, apesar dos anseios humanos serem os mesmos. Podemos
detectar temas bucólicos nos romances de Júlio Dinis, em A Cidade e as
Serras, de Eça de Queirós, na poesia de Cesário Verde, João de Deus,
Cecília Meireles e de Miguel Torga, e nos romances de Aquilino Ribeiro.
Na sua acepção moderna, o termo foi expandido de
diferentes maneiras: em Some Versions of Pastoral (1935), William Empson
defende que a criação pastoril é aquela em que há um contraste entre a vida
simples e a vida complexa, estando a vantagem do lado da primeira. A vida
simples pode, no entanto, ser não só a do pastor mas também a da criança e é
usada como sátira às classes mais altas da sociedade. Outros críticos passam a
classificar de bucólica qualquer obra que represente uma fuga à vida quotidiana
para um local distante ou então, pode aplicar-se a qualquer poesia com um pano
de fundo rústico.
E-Dicionário de Termos Literários, de Carlos Ceia
Tristeza: um elitismo espiritual
A tristeza dos heróis e heroínas nas obras da Idade
Média e Renascimento é um conceito tão divulgado que às vezes parece perder a
verdadeira importância. Não há personagem que se preze que deixasse de ser
melancólico, já por natureza e não apenas por causa dos desastres da fortuna
que lhe acontecem ao longo da história. Ainda que esta tristeza, por exemplo
nos livros de cavalaria, está bem fundamentada já desde o princípio pelo facto
de o herói não conhecer a sua verdadeira origem e seus pais.
A tristeza da novela sentimental porém, é diferente.
Geralmente nada ficamos a saber acerca do passado, da origem das personagens
(só quando a novela assume uma parte cavaleiresca), e, de ponto de vista da
narração, também pouco interessa saber mais do que o facto de pertencerem à
mais alta sociedade (disso não pode haver dúvidas) porque o verdadeiro
nascimento do seu carácter acontece no momento de se enamorarem: sendo um lugar
comum no século XV e XVI dizer que o amor faz da pessoa inimiga de si mesma e amiga
do sofrimento e tristeza não é surpreendente que o conhecimento do próprio eu
só possa surgir neste instante crucial qual é, ao mesmo tempo, o momento do
nascimento do herói e da heroína sentimentais.
Este momento de reconhecimento e do surgimento da
tristeza é várias vezes bem focalizada na obra de Bernardim, tanto nas suas
éclogas (ex.: II. écloga, de Jano e Franco), como na própria Menina
e Moça, principal objeto do nosso estudo. Quem mais ideologiza a tristeza é
o próprio Bernardim, no diálogo entre a Menina e a Dona do Tempo Antigo,
diálogo de tom filosofante que podemos considerar de extrema importância em
relação à estética da dor, estética obrigatória nas novelas sentimentais. Neste
diálogo, as duas mulheres, duas caras da mesma moeda, afirmam que as mulheres
são mais tristes do que os homens: "Isto é assaz para as tristes
das mulheres, que não temos remédios para o mal, que os homens têm. Porque o
pouco tempo que há que vivo, tenho aprendido que não há tristeza nos homens.,
e mais: que ser triste é possuir verdade desconhecida: "Mas se
elas por isso têm razão de serem mais tristes ou não, sabê-lo-á quem souber que
mágoa é manter verdade desconhecida." Já agora, se as mulheres
são mais tristes, possuem mais verdade desconhecida, ou seja, são sábias de uma
maneira especial, conhecem um mistério a qual só os eleitos têm acesso. Hélder
Macedo, no seu livro revolucionário sobre a Menina e Moça, identifica
este conhecimento com o conhecimento espiritual, divino.
A narração feminina, a mulher sábia e a mudança de
sexo
Quando se fala nos precursores da novela sentimental
peninsular, menciona-se as Heroides (com respectivas traduções
de Afonso o Sábio e o Bursário) e a Fiammetta por
causa do aspeto da narração feminina. Ovídio adopta a narração feminina nas
elegias (cartas) de heroínas mitológicas e históricas aos seus amados, dando
conta de uma capacidade de mimese extraordinária. Mas não é o único autor da
Antiguidade capaz de imitar e reinventar o discurso feminino: já os grandes
dramáticos de Grécia (especialmente Sófocles) e entre os romanos Virgílio
produzem discursos pseudo-femininos muito bonitos. Ao que parece, o grande tema
destes discursos é o amor não correspondido ou atraiçoado. É nesta linha (de
Medea, Phaedra e Dido) que se situa Fiammetta também.
No entanto, a narrativa feminina nas novelas
sentimentais tem outras características além daquelas dos percursores. É
verdade que o grande tema permanece intacto, mas parece haver mais prudência e
dignidade nestas figuras sentimentais do que havia nas da Antiguidade, até ao
ponto de algumas delas realmente pertencerem a uma esfera divina. Claro que a
narrativa feminina não é exclusiva neste género, antes pelo contrário: a maior
parte das obras tem um narrador masculino, ainda que as mulheres tenham partes
de narração em forma de carta ou de discurso directo. Narração pseudo-feminina
caracteriza a Menina e Moça e o Clareo y Florisea da
primeira linha até a última: enquanto na obra bernardina existem duas
narradoras, no livro de Reinoso só uma, e esta nem sempre tão autêntica como
podia ser. Mas também é verdade que as figuras femininas de Menina e
Moça são exclusivas desta obra, e lembram à Sofia dos Dialoghi
di Amore por serem tão delicadas e tão filosofantes como esta. De
certo modo, tal como Sofia, as duas narradoras de Bernardim, simbolizam a
própria sabedoria. Como já temos referido em relação à tristeza, esta está mais
ligada às mulheres do que aos homens e, permite um conhecimento encoberto
(sabedoria) que a maior parte dos homens não possui. Mas, embora a heroína da
novela sentimental seja sempre triste, nem sempre possui esta sabedoria - isso
depende do facto de ser enamorada ou estar a ser apenas amada -como acontece
com a própria Sofia no início da obra filosófica de Leão Hebreu.
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