A Campanha do Bailundo, pelo Marquez do Lavradio...
O soba do
Bailundo, INDUNGULO, é envenenado em 1902.
Sucedeu-lhe
CALENDULA que celebra o acontecimento com aguardente que
não paga:"Não só a aguardente não seria paga, mas também a autoridade do
capitão-mor não era reconhecida." p.6
" A 15
de Maio, o capitão-mor consegue atrair à fortaleza o soba
Calendula e alguns seculos, e fá-los prisioneiros."
Revolta...
Apenas o comerciante João Pires de Sousa consegue
fortificar-se, resiste a dois assaltos, e obriga o gentio a
desistir.
Intervenção
militar do Tenente Pais Brandão, vindo de Luanda.
Combate
do Huambo:
" O
soba do Huambo já em 1890 se mostrara audaz frente a Artur
Paiva. O Huambo era o foco de todas as conspirações contra a
autoridade
portuguesa e o refúgio de todos os régulos rebeldes..."
Morte do
soba grande LIBANGUE:
"Queimaram-se
23 grandes libatas, fizeram-se numerosos prisioneiros:
desfez-se a lenda do Huambo."
A 26 de
Outubro a soberania portuguesa estava assegurada.
"Em
1902, não existia caminho de ferro, não havia estradas, em
Angola; os camiões e camionetas não eram conhecidos, as
marchas eram
portanto demoradas e difíceis."
Combate de
Caiobe: o chefe do Quissongo "que se bateu com uma
valentia digna de brancos" é morto...
A 7 de
Outubro, a 2ª coluna, chefiada por Pedro Massano de Amorim,
atingiu o Bailundo a 315 Km do litoral.
*****************************************************
**** Os
Dembos eram equivalentes aos sobas do Sul. De acordo com
a política de assimilação, eram nomeados capitães de 2ª
linha ou da guerra
preta e dos móveis [estes constituíam uma tropa auxiliar
cuja missão
principal era o fornecimento de trabalho braçal para o
Estado e
particulares];os macotas, chefes das povoações(...) eram
sargentos ou
oficiais de milícia; o morador exercia o mando nas povoações
mais pequenas
(sanzalas). p.12
A palavra "dembo" significava capitão, e este era subordinado ao
reino do Congo, exercendo a autoridade militar e
administrativa.
A maior parte da população sabia ler e escrever. p.13
1907 -
Reconhecimento e Campanha dos Dembos sob o comando do capitão
João de Almeida, "herói dos Dembos".
Sob o Governo de Paiva Couceiro e João de Almeida, como
chefe de Estado-Maior
(1904-1910), depois de reorganizado o exército, a região é
integrada na
soberania portuguesa.
Objetivo: alargamento da soberania de facto a toda a região dos
Dembos e dos Mahungos. p.5
Outra
originalidade do nosso sistema administrativo que,
fundado numa política de pura assimilação, tornava os povos
indígenas
colaboradores directos na obra de civilização que prosseguíamos." p. 12
A revolta
dos Dembos (1872?)
"Em
Luanda, não havia tropas em número suficiente para atacar e dominar
os sublevados (...) foi necessário mandar vir tropas de
Bengala e de
Moçâmedes. As operações demoraram cerca de 2 anos e foram
inconclusivas.
"Data de então, o que praticamente se pode chamar a
independência dos
Dembos. Quanto à região dos Mahungos essa nem sequer tinha
sido ocupada.
Em 1907, eram raros os europeus que por lá tinham passado.
Roçadas
na ocupação do Sul de Angola (1905-1907)
Manuel
Cerveira Pereira fundou S. Felipe de Benguela em 1617.
Presídios: da Caconda em 1640; do Novo Redondo, em 1769; de
Quilengues em 1834.
Em 1843,
começam a vir famílias do Brasil, fugidas às lutas
políticas, que não só se fixam em Mossâmedes, mas que atingem o Bumbo,
junto à Chela, e sobem à Huíla. Desenvolve-se o comércio...
Entretanto,
o Marquês de Sá da Bandeira patrocina a colonização(...)
e vêm chegando várias levas de colonos, compreendendo os
chegados em 1857,
alguns alemães (...), ao mesmo tempo que aos soldados com
baixa se
distribuíam terras e se lhes forneciam sementes e que
degredados de ambos
os sexos para ali se iam enviando... p.13-14
A gente
do Nano - potentado que dominava ao sul do Bié
Depois
de 1880 as atenções voltam-se de novo para a colonização
do planalto. p. 18
Estudar a imagem, em Pepetela, do: colono, mulato,
branco,
desterrado, alemão, inglês, americano, nativo, cubano, russo
... nas suas
implicações históricas, sociais e culturais
- a noção de imagem como hipótese de trabalho:
"Qualquer
imagem procede duma tomada de consciência, em relação a um
Outro, dum Aqui em relação a um Algures." p.135, in de
L'imagerie culturelle
à l'imaginaire, Pageaux
O texto africano
"Regarder ce texte comme le surgissement d'une conscience enracinée
hic et
nunc." p. 216, in Précis de Littérature Comparée
"L'Afrique faisant partie de
ces "zones problématiques" de
l'institution
littéraire(...), mais il me semble qu'à l'heure actuelle le
continent
africain (...) constitue un espace privilégié pour l'appréhension
des phénomènes
historiques, culturels et sociaux sur lesquels se fonde le
renouveau des
études comparatistes." op. cit, p. 217.
Tópicos:
relação
entre literatura e sociedade;
relação
entre literatura e oratura;
estatuto do escritor e ideologia da descolonização: missão
simbólica face ao seu povo;
descolonização, como um dos mais importantes fenómenos da nossa
história recente;
demanda e reconquista da identidade;
literatura como espaço problemático dum imaginário situado na
intersecção de uma pluralidade de raças e culturas;
o
carácter revolucionário dessas literaturas;
laços de
filiação da literatura africana à corrente da literatura
colonial.
masoquismo
demanda
da identidade perdida
regresso
ao país natal
descida
aos "enfers éclatants de l'âme noire" - autodafé du
langage
* Jacques CHEVRIER: Les littératures
africaines dans le champ de la
recherche comparatiste:
A
literatura africana escrita ou impressa foi durante muito tempo
vítima de ostracismo.
Para o
comparatista o essencial é "regarder ce texte comme le
surgissement
d'une conscience enracinée hic et nunc." op.cit,p. 216.
a abordagem ecuménica
a abordagem específica:
"le problème de la spécificité des
littératures
africaines se pose avec d'autant plus d'acuité que le critère
linguistique est
ici inopérant - les littératures africaines s'écrivent
essentiellement
en français, anglais et portugais - et qu'il devient par
conséquent
nécessaire de définir les caractéristiques susceptibles de les
dégager de la
tutelle occidentale, et de leur conférer une réelle autonomie.
op.cit. p.221
L'INTERTEXTUALITÉ à l'oeuvre
"Fondée en droit, l'entreprise
- a tentativa de se libertar da
abordagem
globalizante e europeocentrista - présente cependant quelques
obstacles dans la
mesure où il est difficile d'affirmer que des productions
littéraires
écrites en français, anglais ou portugais et dont les modèles
formels trouvent
leur origine dans la culture occidentale (par ex. le roman)
ne peuvent
légitimement s'apréhender que par référence à un système de
valeurs
autarcique, "authentiquement" africain." op. cit. p.223
"Avec ces littératures
écrites dans les langues européennes se
pose évidemment
un problème d'IDENTIFICATION (...)Si l'on doit reconnaître,
en effet, que les
littératures modernes trouvent leur origine commune à la
fois dans le fait
colonial et dans une réaction à ce même fait colonial,
assortie d'une
revendication d'identité culturelle, il reste que leur
spécificité a pu
paraître problématique aux commentateurs: Qu'est-ce qui
différencie un
roman écrit par un africain d'un roman colonial produit par
un
européen?" op.cit. p.225
A africanidade /
especificidade
Léopold
Senghor definiu a negritude:
"Le patrimoine culturel, les valeurs
et surtout l'esprit de la
civilisation
négro-africaine (...) La monotonie du ton c'est ce qui
distingue la
poésie de la prose. C'est le sceau de la Négritude,
l'incantation qui
fait accéder à la vérité des choses essentielles." op.cit.
p.225
Léonard Sainville distingue dans les
bibliographies les auteurs
proprement
négro-africains des "auteurs blancs, amis du monde noir. op.cit.
p.226
Hipótese de trabalho: interrogar a estrutura das obras
literárias "
de manière à décéler au niveau aussi bien du contenu que de la
forme la part des
influences autochtones et celle des influences
étrangères."
op. cit. p.226:
- le poids de l'héritage
traditionnel (tradition orale);
- la part de l'héritage colonial,
incarné principalement par l'école
ne doit toutefois
pas être minimisée dans l'appréhension du corpus africain.
- os modelos propostos pela
instituição escolar. Por ex., a Bíblia
- o impacto
dos mestres do realismo e do naturalismo francês.
- on ne peut négliger le poids des
idéologies et en particulier du
marxisme.
- a
influência da literatura da América Latina
- a
influência da literatura Sul/Sul
- Os
critérios de apreciação do leitor africano são muito diferentes
dos do
leitor europeu.
op.cit,
p.227
21. Bibliografia:
+ SARTRE, Orphée noir (prefácio da
Anthologie de la nouvelle
poésie nègre et
malgache de langue française, 1948)- ideia fundamental:
" La négritude est pour se
détruire, elle est passage et un
aboutissement,
moyen et non fin dernière."
+ CALVET,Louis-Jean - Linguistique
et colonilisme, 1974
+ RODRIGUES, U.T. (?)
+ Tiers Monde et science littéraire;
vers un nouveau concept de
littérature
nationale, in Cultures et Développement, Univ. Catholique de
Louvain, vol. XIV
- I,1982
+ Littératures africaines et
enseignement, Actes du colloque de
Bordeaux, 1984
+ HAUSSER, M., Lecture idéologique
et orientation textuelle, Oeuvres
et critiques,
III, 2-IV, automne, 1979
+ Revue de Psychologie des peuples:
littérature d'Afrique noire,
identité
culturelle et relation critique, nº 2/3, avr.-sept.1980
22. Jacques ROGER, Lecture des
textes et Histoire des idées, in
Les Chemins
actuels de la critique,p.280-299.
" Il y a une illusion
fondamentale à rejeter l'histoire de la
lecture, en ceci
qu'il n'existe pas de lecture naive et que le regard que
nous posons sur
un texte est en fait un regard informé, un regard structuré,
fût-ce à notre
insu, exactement comme le regard que nous posons sur les
choses, et cette
information de notre regard est une information
historique."
p. 281
"le projet
existentiel" se révèle dans une oeuvre... p.282
"Je ne vois pas comment
cet être historique (o autor), au
moment où il
prend en charge un langage qui est, lui aussi, un produit
de l'histoire,
sortirait de l´histoire pour entrer dans l'éternité." p.283
"L'histoire est au coeur même
de l'oeuvre, non seulement si nous y
cherchons un
homme, mais encore si nous la considérons en elle-même et sans
auteur. Est-il
besoin de montrer que l'histoire est aussi dans le lecteur?
Si donc la
lecture est la rencontre de deux êtres, elle ne peut être que la
rencontre de deux
êtres historiques..." p.285
"L'oeuvre
est dans l'histoire, mais non pas par l'histoire, ce en
quoi elle est à
mes yeux une image de l'homme." op. cit. p. 288
"
Ce qui est important n'est pas que M. X ait exercé une influence
sur M. Y, c'est
de savoir pourquoi M. Y est allé chercher M. X." op. cit.
p.292
"le terrain (...) imaginaire,
le terrain au sens le plus profond du
terme dans lequel
l'oeuvre est née."op.cit., p.296
"L'histoire des idées n'a pas
pour objet premier la littérature.
Elle englobe la
littérature, comme la théologie ou la philosophie." op.cit.
p.297
Carlos Pacheco (Público, 1.12.2003) entende que o que se observa há um certo tempo é uma “reconstrução da história” baseada em métodos de segregação político-ideológica. Asiste-se à tendência para entronizar as figuras que reluzem nos panteões do MPLA, da Frelimo ou do PAIGC.
Carlos
Pacheco ilustra o seu pensamento, referindo o suplemento do “Dicionário de
História de Portugal”, dirigido por António Barreto e Maria Filomena Mónica,
onde não é feita qualquer referência a Viriato
da Cruz (1928-1973), “o verdadeiro pai do MPLA e seu secretário-geral até
1962”.
Na
perspectiva de Carlos Pacheco, o MPLA nasceu do “cérebro genial de Viriato da
Cruz durante o tempo que ele viveu exilado na Alemanha Democrática, de 1958 a 60. Em Tunis, após o conclave de
chefes de estado africanos que ali se realizou em Janeiro de 1960, ele criou uma sigla, um nome, o
primeiro sopro de vida do MPLA (...) A seguir veio Conakry (de que ninguém
fala), onde ele esculpiu com mão firme toda a estrutura orgânica do novo corpo
político; foi ele igualmente que deu uma bandeira ao movimento, a qual perdura
até hoje; foi ele, em fins daquele ano, que projectou o MPLA para o mundo
inteiro ao discursar nas Câmara dos Comuns, em Londres.
Viriato Cruz é, para muitos, um “anti-herói
(um traidor) porque teve a ousadia de dissentir de Agostinho Neto que acabara de chegar em meados de 62 a Léopoldville, fugido de Portugal
diante de uma PIDE “totalmente distraída”.
Viriato
(o maoísta) ideologicamente
situava-se nos antípodas de Neto (leninista).
Neto inspirava-se na cartilha do PCP, de alinhamento com as teses
soviéticas sobre a coexistência pacífica... entendia
ser imperativo adiar a luta armada e negociar com Lisboa.
Viriato discordava e “o que se seguiu foi o rompimento, a destituição de Viriato pela força e a sua perseguição pelos anos fora, até na China onde se refugiou em 1966.
Carlos Pacheco explica a tentativa de apagar a memória de Viriato, atribuindo-a aos acaudilhados ao PCP, que não perdoa a Viriato desde os idos de 1955 quando este fundou o Partido Comunista Angolano. Desde a 1ª hora que Viriato procurou o apoio político, logístico e financeiro dos chineses... ver contacto com a Embaixada da China em Conakry. Em Léopoldville, esse intercâmbio reforçou-se. Viriato, o médico Eduardo dos Santos e outros receberam treino militar em Beijing em Agosto de 1960.
No
artigo de Joaquim Letria " A perna de Nambuangongo"[1], é
feita referência à ambiguidade do Partido Comunista:
"O
PC achava que era um erro não se ir para a tropa e marchar para a guerra, claro
que sem esquecer o antifascismo, o anticolonialismo, o internacionalismo
proletário, para percebermos os suecos e os cubanos que pudéssemos encontrar
(...), mas o partido achava que a malta devia ir para a guerra e depois
escrevia contra a guerra colonialista no AVANTE e no MILITANTE e explicava-nos
que daquela malta que ia para a Europa poucos eram os que iam por convicção,
por serem contra a guerra."
A morte anunciada de lumumba
A
30 de Junho de 1960, o Congo conquista a independência.
Patrice
Lumumba diz ao rei da Bélgica, Balduíno I, que a independência do seu país é um
passo decisivo para a libertação de todo o continente africano, e dita, com
estas palavras, o próprio destino. Nomeado primeiro ministro em exercício,
passa a viver em regime de residência fixa depois de um golpe de estado
liderado pelo coronel Mobutu e apoiado pela CIA. A 28 de Novembro de 1960,
Lumumba tenta evadir-se, mas é preso logo em seguida, a 2 de Dezembro, em Port
Francqui. Transportado num DC3 para o aeroporto de Léopoldville, Lumumba é
violentamente empurrado para dentro de um camião. Um soldado puxa-lhe a cabeça
com força para trás a fim de proporcionar uma melhor perspectiva do seu rosto
aos fotógrafos. Foi a última foto de Lumumba vivo.
A
18 de Agosto de 1960, o Conselho de Segurança, em Washington decidira
eliminá-lo, ao mesmo tempo que os militares belgas apoiavam Moisés Tshombé, que
anunciara a secessão do Catanga...
Feito
prisioneiro e depois entregue aos seus inimigos do Catanga, o arauto do
nacionalismo africano é torturado até à morte, a 17 de Janeiro de 1961. O corpo nunca foi encontrado.
Expresso,
Felícia Cabrita, O 1º Dia do Fim do Império, 14 de Março de 1998
- A revolta dos trabalhadores de algodão, na Baixa do
Cassange, contra a cultura obrigatória. Início da repressão dos agricultores de
algodão, na Baixa do Cassange, em Angola no dia 6 de Janeiro de 1961.
- 4 de Fevereiro de 1961 (Dissertação, pág. 95). Ver
papel do cónego Manuel Mendes das Neves, sacerdote ligado à UPA. Assalto
simultâneo à Casa de Reclusão Militar e a duas esquadras da PSP.
- 15 de Março de 1961 (4ª feira): massacre dos
colonos, em nome da UPA. Nesse dia, casava a filha do Nogueira, um
fazendeiro muito conhecido. Não apenas os portugueses foram chacinados mas
também os bailundos. Ver papel de José Lello e de Bernardo Pinto. O
dispositivo militar português era constituído por 1.500 homens sem qualquer
preparação para responder à guerrilha. Em Nambuangongo não sobrevive
ninguém, a província é passada a pente fino. 2000 europeus e 6000
bailundos foram mortos. Holden Roberto acaba por se demarcar dos
acontecimentos.
- Holden
Roberto, dirigente da UPA, partira aos 2 anos para Léopoldville
(Kinshasa). Estudou numa missão de protestantes ingleses. Terminado o
secundário, continua os estudos por correspondência com a Escola
Universal. Trabalhou como funcionário na administração colonial belga e
aos poucos mete-se na política. Conhece Lumumba, de quem se torna amigo. Vive no Gana. Passa
temporadas nos Estados Unidos.
Consegue uma audiência com Kennedy, na altura senador e convence-o
a ajudar a sua causa. O senador entrega-lhe 100 mil dólares, e a partir daí
as ajudas estreitam-se «roupas, medicamentos, aberturas diplomáticas». Os
angolanos frequentam o primeiro curso de guerrilha dado por tunisinos e
argelinos em Léopoldville. Entretanto, o governo belga proíbe um comício
organizado por Lumumba. Como
reacção: pilhagens, assaltos, violação de freiras. Muitos angolanos
envolvidos são entregues à PIDE. No entanto, já estavam preparados 3000
angolanos que começam a difundir pelo Norte de Angola a ideia de
Libertação. Em Dezembro de 1958, em Acra,
numa conferência internacional de todos os povos, Holden Roberto conheceu Franz Fanon, o médico antilhano
revolucionário da FNL na Argélia. Foi Fanon
Franz que ajudou Holden a organizar o plano (15/3/1961): «eu não
queria organizar uma carnificina, mas Fanon disse que não havia outra
solução. Com o sistema de povoamento que havia em Angola só podia ser uma
luta armada.»
- Novembro de 1994 – assinatura dos acordos de
Lusaca.
- 6 de Setembro de 1997 – Jonas Savímbi declarou que
iria cumprir os termos do cessar-fogo de 1994 e que Angola não voltaria à
guerra. No entanto, recusa entregar o Nordeste, sem receber uma
compensação pelos rendimentos provenientes dos diamantes perdidos.
- A UNITA junta-se ao Governo numa altura em que o
seu principal apoiante, o Presidente zairense, Mobutu Sese Seko, cai no
isolamento político. Mobutu providenciava à UNITA as rotas para o
contrabando de diamantes e madeira para fora de Angola, e a passagem de
armas, munições e combustível para o território de Savimbi. O advento do
Governo de Laurent Kabila, em Maio, foi bem-vindo para José Eduardo
Santos, que achava que a queda de Mobutu iria forçar a UNITA a tomar uma
posição mais conciliatória. (20/10/1997)
História
A UNITA foi fundada em 1966. Tony da Costa Fernandes foi o verdadeiro fundador da Unita, autor do hino e da bandeira e que idealizou todo o projecto.
Em 1974, o Exército
português controlava territorialmente os três teatros de operações. A
Administração funcionava normalmente e a economia estava pujante em qualquer
dos territórios... Em 1974, a estratégia global da URSS tinha uma componente
fortemente expansionista, que só começou a esbater-se já na década de 80 por
efeito dos apuros do Afeganistão. Informados do 25 de Abril, o primeiro
pensamento dos sovietes foi a África Austral.
Angola proclama a independência a 11 de Novembro de 1975, 14 dias antes dos acontecimentos do 25 de Novembro... À URSS apenas terá interessado a descolonização (de Angola e Moçambique)... Angola e Moçambique serviram de cobaias de uma experiência sem precedentes do expansionismo soviético em África. Por isso provocaram a partida da comunidade portuguesa para depois ocupar o vazio assim criado. Os próprios angolanos e moçambicanos ficariam também à mercê das novas influências. Mais tarde, em 1979, Agostinho Neto disse, em Bissau, que o pior para Angola tinha sido a partida dos portugueses. Mas, em 1975, Neto comentara displicentemente a debandada dos portugueses, então em curso.[1]
Na década de 80-90, a
guerra paralisou as regiões agrícolas
mais importantes e tornou as comunicações entre as cidades e o campo
extremamente difíceis.
Em 1991, o governo lançou um vasto conjunto de reformas – o PAG (programa de acção do governo). Ministro do Plano: Emanuel Cordeiro. Ver peso da desmobilização: 150.000 antigos combatentes; ver também o impacto do retorno de dezenas de milhares de refugiados, além da deslocação forçada de mais de um milhão de camponeses.
Novembro de 1988 – O
protocolo de Brazzaville ( assinado por Luanda, Pretória e Havana, sob a égide
de Washington) estabelece as condições de retirada das tropas cubanas. A
retirada deverá estar concluída em 30 de Junho de 1991.
A chegada dos soldados cubanos,
em 1975, permitiu a instalação em Luanda de um governo prosoviético.
A consciência da incapacidade de
Luanda em derrotar a UNITA ficou clara a quando da famosa batalha do rio Lomba,
em Outubro de 1987, pois não conseguiram conquistar a Jamba, bastião de
Jonas Savimbi.
Nos treze anos que separam 1975 de 1988, Luanda consagrava metade do orçamento à guerra civil.
Os acordos do Estoril de 1991, que permitiram parar a guerra – não foram respeitados pela UNITA: não abriu os territórios controlados, impedindo que a campanha eleitoral decorresse de forma transparente, em 1992.
A UNITA conquistou militarmente Huambo em 6 de Março de 1993. A UNITA instalou a sua direção política. Constituiu-se como governo, querendo criar num Planalto Central uma economia própria. A etnia umbundu encontrou em Savimbi e na UNITA uma identidade política.
A UPA ( Norte
de Angola)
A repressão do 27 de Maio
Simão Cacete ( 1955 - ) foi um dos onze candidatos às presidenciais angolanas de 1992. Ficou em 8º lugar. Foi fundador da “Frente para a Democracia”, em 1991. Muito antes, pertenceu ao MPLA, do qual se afastou em vésperas da independência num contexto de «repressão às correntes de opinião». Integrou posteriormente a recém-constituída Organização Comunista de Angola. Foi perseguido pela polícia política angolana, DISA. Esteve preso dois anos sem ser julgado, em 1978. Anos depois voltou a ser perseguido na campanha em Luanda que levou aos tumultos pós-eleitorais de 1992 porque contactou Savimbi para tentar desanuviar a tensão que se seguiu às denúncias de fraude. Fugiu para Portugal, onde exerce a sua actividade profissional. Foi membro fundador da Associação Cívica Angolana.
Eleições
legislativas em 29 e 30 de Setembro de 1992.
Após ter perdido as eleições ( 34% dos votos, contra 53% do MPLA), durante os meses de Outubro e de Novembro de 1992, Savimbi tentou um golpe de estado. ( ver complacência da UNAVEM2, da Senhora Anstee e da África do Sul (Pik Botha, ministro dos negócios estrangeiros). Esperava tomar Luanda no dia 30 de Outubro.
“ A morte de Savimbi, a 22 de Fevereiro de 2002, abriu o caminho para a paz. Mas não se vêem melhorias na vida da maioria dos angolanos. A única compensação é o fim da guerra.»[2]
Descendente dos barões de Puna, que assinaram com os
Portugueses o célebre tratado de Simulambuco, em 1960, juntou-se às forças
nacionalistas e transformou-se em guerrilheiro e general. Em 1992, era
“dissidente” da UNITA, título que rejeita pois considera que quem traiu a UNITA
foi SAVIMBI.
Nzau Puna acusa ( com Tony da Costa Fernandes) Savimbi de
ser o responsável das mortes de Tito Tchingungi, Wilson dos Santos
e seus familiares.
Nzau Puna rompe com Savimbi em 1986, acusando-o de
fomentar o tribalismo e o divisionismo Norte-Sul. Reage também contra a
imposição do umbundu como língua oficial da Unita.
Nzau Puna acaba por revelar também que António
Vakulukuta, um dos mais importantes quadros, fora assassinado à pancada
pelos guardas de Savimbi, por causa da hegemonia étnica de Savimbi.
Savimbi matou a mulher de Nzau Puna e também Piedoso
Kindondo e a namorada, uma das mulheres
de Savimbi.
Nzau Puna revela que o general António Dembo
contesta o que se passa na organização. O mesmo acontece com o brigadeiro Sabino,
com o Jeremias Chitunda, o Dr. Manaças, antigo médico da Jamba. Raul
Danda, director-geral da rádio da UNITA – a VORGAN.[4]
Nzau Puna define a Jamba como «um campo de concentração, um campo de reféns».
Enclave de Cabinda
O Conselho supremo da coordenação do FLEC foi criado em
Novembro de 1991, em Lisboa. Secretário geral: Francis de Assis Peso Bambi.
Este Conselho considera que Cabinda nunca foi angolana, sendo um protectorado
português e os seus habitantes portugueses. Cabinda nunca terá sido
descolonizada. Este ponto de vista é partilhado por Henriques N’Zita Tiago,
chefe do LEC-FAC (Forças armadas de Cabinda), embora rejeite o CSC ( bando de
intelectuais!)
[1] - Xavier de Figueiredo –
Jornalista, Público, 8 de Maio de 1994.
[2] - Público, 16 de Fevereiro
de 2003.
[3] - Entrevista publicada na
revista Sábado em 17/09/1992.
[4] - Muitos destes homens têm
a família refém na JAMBA.
Quem é quem em Angola?
Agostinho Neto[1] |
(- 10.9.1979) |
|
Alex Vines[2] |
|
Investigadore observador
das eleições de 1992 |
António Burity da Silva |
|
Ministro da educação (2003) |
António Pitra Neto |
|
Ministro da Administração
Pública (2003) |
António Sousa[3] |
(1976 - ) |
Editor da rádio Ecclesia |
Assunção dos Anjos |
|
Embaixador de Angola em
Portugal (2003) |
Bornito de Sousa |
|
Líder da bancada
parlamentar do MPLA (2003) |
Carlos Feijó[4] |
|
Assessor de José Eduardo
dos Santos (2003) |
Carlos Teixeira |
|
Assessor de José Eduardo
dos Santos (2003) |
Paulo Fernandes Madeca |
|
Bispo da Diocese de Cabinda
(2003) |
Dino Matrossi |
|
Secretário-geral do MPLA,
eleito em Dez.2003. |
Dumilde Rangel |
|
Governador da província de
Benguela (2003) |
Eleições[5] de
1992 |
|
O MPLA – 129 deputados;
UNITA - 70 |
Faustino Muteka |
|
Ministro da Administração
no Território (Dez. 2003) |
Folha 8 |
|
Um certo racismo contra
brancos e mestiços. (2003) |
França Van Dunem |
|
Afastado do Congesso do
MPLA em 1998 |
George Chicoty |
|
Vice-MNE (2003); ex-líder do
Fórum Democrático angolano |
Graça Campos[6] |
(1959 -) |
Director do semanário
“Angolense” (Dez. 2003) |
Hendrick Vaal Neto |
|
Ministro da Comunicação
Social (Dez. 2003) |
Isaías Samakuva |
|
Líder da UNITA desde Junho
de 2003. |
Ismael Mateus |
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Presidente do Sindicato de
Jornalistas (2003) |
João Lourenço |
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Secretário-geral do MPLA
(2003) |
João Pinto |
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Editor de Política da Rádio
Ecclesia (2003) |
Joaquim David[7] |
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Ministro da Indústria
(2003) |
Jornal de Angola[8] |
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Limita-se a Luanda. 12.000
exemplares. |
José Eduardo dos Santos |
(1942 -) |
Presidente da República de
Angola (1979 - ) |
José Leitão[9] |
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Chefe da casa civil da
Presidência (2003) |
José Pedro Morais[10] |
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Antigo funcionário do FMI
em Washington (2003) |
José Van Dunem |
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Preso e morto na sequência
do 27 de Maio de1977. |
Josefina Pitra |
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Embaixadora de Angola nos
EUA (2003) |
Justino Pinto de Andrade[11] |
(1948 -) |
Militante e dissidente do
MPLA (2003). |
Kundi Payama |
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Ministro da Defesa
(Dez.2003) – general |
Lopo do Nascimento[12] |
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Afastado do Congesso do
MPLA em 1998 |
Manuel Vicente |
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Presidente da Sonangol
(2003) |
Marcolino Moco |
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Afastado do Congesso do
MPLA em 1998 |
Mário Pinto de Andrade |
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Liderou a Revolta Activa[13],
nos anos 70. |
Nito Alves |
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Preso e morto na sequência
do 27 de Maio de1977. |
Norberto dos Santos |
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Secretário para a
informação do MPLA (2003) |
Osvaldo Serra Van Dunem[14] |
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Ministro do Interior (2003) |
Paulo de Carvalho |
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Sociólogo |
Pierre Falcone[15] |
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Traficante de armas francês |
Ricardo de Melo[16] |
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Jornalista assassinado em
1995. |
Ruy Duarte de Carvalho |
(1941-) |
Antropólogo[17] e
poeta |
Saydi Mingas[18] |
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Ministro das Finanças
(1977) |
Sita Valles[19] |
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Presa e morta na sequência
do 27 de Maio de1977. |
Valentim Amões |
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Empresário (2003) |
Virgílio Fontes Pereira |
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Ministro do Ambiente (2003) |
Viriato da Cruz |
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V Congresso do MPLA |
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Dezembro de 2003 |
20 Novembro 1994 |
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Acordo de Lusaca. MPLA e
UNITA assinam acordo |
27 Maio de 1977 |
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Nito Alves tenta (?)
derrubar Agostinho Neto.[20] |
5 Outubro de 1975 |
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Chegam ao Amboím as
primeiras tropas cubanas |
11 Novembro de 1975 |
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Agostinho Neto proclamou a
República de Angola |
[1] - Morre num hospital de
Moscovo, devido a lesões no fígado e no pâncreas.
[2] -
Publicou vários relatórios sobre Angola para a Human Rights Watch; actualmente,
dirige o Programa para África do Royal Institute for International affairs.
[3] -
Natural de Cabinda. Começou na Rádio Nacional. Licenciado em Linguística. Lema:
«dar a voz a quem não tem voz.»
[4] - Jurista. Discípulo do
professor Diogo Freitas do Amaral.
[5] - Nunca houve 2ª volta,
face ao reacendimento da guerra.
[6] -
Nasceu em Malanje. Começou a trabalhar na Angop, no gabinete encarregado de
redigir editoriais de propaganda. Trabalhou no jornal das FAPLA, no
departamento de informação do MPLA, no «Jornal de Angola» e na televisão. Em
1995, ajudou a fundar a Folha 8,
após o que foi um dos promotores do «Angolense»,
que largou para formar o «Semanário
Angolense», de que é um dos proprietários. A 11 de Janeiro de 2003 (?),
publicou no «Angolense» um texto antológico: «Os nossos milionários». É
a lista dos 59 mais ricos, encabeçada por José Eduardo dos Santos, com uma
fortuna estimada em mais de 700 milhões de dólares.
[7] -
Antigo director geral da petrolífera angolana. Sonangol. Figura citada pelas
justiças francesa e suiça, tendo beneficiado de “comissões ilícitas” do caso
“Angolagate” de venda de armas ao Governo angolano.
[8] - Director actual (2003) –
Luís Fernando.
[9] - Renunciou à sua filiação
no partido (2003). Fazia parte do bureau político desde 1998.
[10] - Ministro das Finanças
(2003).
[11] -
Aderiu ao MPLA em 1963, aos 15 anos de idade. Nos anos 70, juntou-se à REVOLTA
ACTIVA, liderada pelo seu tio, Mário Pinto de Andrade. Hoje é professor de
Economia e director da Faculdade de Economia da Universidade Católica de
Luanda.
[12] - Antigo
primeiro-ministro e secretário-geral do MPLA afastado em 1998.
[13] - Este movimento
opunha-se à liderança de Agostinho Neto.
[14] - Ex-embaixador de Angola
em Lisboa.
[15] - Actual representante
diplomático de Angola na UNESCO (2003).
[16] - A autoria do
assassinato nunca foi esclarecida.
[17] - Este antropólogo viu a
sua obra “Vou lá visitar pastores”
sobre a cultura kuvale, adaptada ao teatro (Rui Guilherme Lopes) e representada
por Manuel Wilborg, na Culturgest, Lisboa, entre 19 e 21 de Maio de 2004.
Trabalho de qualidade.
[18] - Foi executado pelo
grupo de Nito Alves (27 de Maio de 1977).
[19] - Casada com José Van Dunem. Em 2004, o filho
ainda não tem a certidão de óbito dos pais.
[20] - Os perseguidos do 27 de Maio de 1977. De
acordo com José Fuso: «foram presos por pertencerem a um determinado sector
intelectual, que se tinha destacado numa fase da luta pela independência, e que
se identificava com a “corrente de pensamento e a prática política” dos
dirigentes que tinham vindo da guerrilha na primeira região político-militar,
entre eles Nito Alves e José Van Dunen.»
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