Angola

Notas de leitura         

A Campanha do Bailundo, pelo Marquez do Lavradio...

            O soba do Bailundo, INDUNGULO, é envenenado em 1902.

            Sucedeu-lhe CALENDULA que celebra o acontecimento com aguardente que

não paga:"Não só a aguardente não seria paga, mas também a autoridade do

capitão-mor não era reconhecida." p.6

            " A 15 de Maio, o capitão-mor consegue atrair à fortaleza o soba

Calendula e alguns seculos, e fá-los prisioneiros."

            Revolta... Apenas o comerciante João Pires de Sousa consegue

fortificar-se, resiste a dois assaltos, e obriga o gentio a desistir.

            Intervenção militar do Tenente Pais Brandão, vindo de Luanda.

             Combate do Huambo:

            " O soba do Huambo já em 1890 se mostrara audaz frente a Artur

Paiva. O Huambo era o foco de todas as conspirações contra a autoridade

portuguesa e o refúgio de todos os régulos rebeldes..."

            Morte do soba grande LIBANGUE:

            "Queimaram-se 23 grandes libatas, fizeram-se numerosos prisioneiros:

desfez-se a lenda do Huambo."

            A 26 de Outubro a soberania portuguesa estava assegurada.

            "Em 1902, não existia caminho de ferro, não havia estradas, em

Angola; os camiões e camionetas não eram conhecidos, as marchas eram

portanto demoradas e difíceis."

            Combate de Caiobe: o chefe do Quissongo "que se bateu com uma

valentia digna de brancos" é morto...

            A 7 de Outubro, a 2ª coluna, chefiada por Pedro Massano de Amorim,

atingiu o Bailundo a 315 Km do litoral.

*****************************************************

          DEMBOS, pelo capitão Henrique Galvão

            **** Os Dembos eram equivalentes aos sobas do Sul. De acordo com

a política de assimilação, eram nomeados capitães de 2ª linha ou da guerra

preta e dos móveis [estes constituíam uma tropa auxiliar cuja missão

principal era o fornecimento de trabalho braçal para o Estado e

particulares];os macotas, chefes das povoações(...) eram sargentos ou

oficiais de milícia; o morador exercia o mando nas povoações mais pequenas

(sanzalas). p.12

           A palavra "dembo" significava capitão, e este era subordinado ao

reino do Congo, exercendo a autoridade militar e administrativa.

            A maior parte da população sabia ler e escrever. p.13

            1907 - Reconhecimento e Campanha dos Dembos sob o comando do capitão

João de Almeida, "herói dos Dembos".

Sob o Governo de Paiva Couceiro e João de Almeida, como chefe de Estado-Maior

(1904-1910), depois de reorganizado o exército, a região é integrada na

soberania portuguesa.

            Objetivo: alargamento da soberania de facto a toda a região dos

Dembos e dos Mahungos. p.5

            Outra originalidade do nosso sistema administrativo que,

fundado numa política de pura assimilação, tornava os povos indígenas

colaboradores directos na obra de civilização que prosseguíamos." p. 12

            A revolta dos Dembos (1872?)

            "Em Luanda, não havia tropas em número suficiente para atacar e dominar

os sublevados (...) foi necessário mandar vir tropas de Bengala e de

Moçâmedes. As operações demoraram cerca de 2 anos e foram inconclusivas.

"Data de então, o que praticamente se pode chamar a independência dos

Dembos. Quanto à região dos Mahungos essa nem sequer tinha sido ocupada.

Em 1907, eram raros os europeus que por lá tinham passado.

            Roçadas na ocupação do Sul de Angola (1905-1907)

            Manuel Cerveira Pereira fundou S. Felipe de Benguela em 1617.

            Presídios: da Caconda em 1640; do Novo Redondo, em 1769; de

Quilengues em 1834.

            Em 1843, começam a vir famílias do Brasil, fugidas às lutas

políticas, que não só se fixam  em Mossâmedes, mas que atingem o Bumbo,

junto à Chela, e sobem à Huíla. Desenvolve-se o comércio...

            Entretanto, o Marquês de Sá da Bandeira patrocina a colonização(...)

e vêm chegando várias levas de colonos, compreendendo os chegados em 1857,

alguns alemães (...), ao mesmo tempo que aos soldados com baixa se

distribuíam terras e se lhes forneciam sementes e que degredados de ambos

os sexos para ali se iam enviando... p.13-14

            A gente do Nano - potentado que dominava ao sul do Bié

             Depois de 1880 as atenções voltam-se de novo para a colonização

do planalto. p. 18        

 

                Estudar a imagem, em Pepetela, do: colono, mulato, branco,

desterrado, alemão, inglês, americano, nativo, cubano, russo ... nas suas

implicações históricas, sociais e culturais    

             - a noção de imagem como hipótese de trabalho:

            "Qualquer imagem procede duma tomada de consciência, em relação a um

Outro, dum Aqui em relação a um Algures." p.135, in de L'imagerie culturelle

à l'imaginaire, Pageaux

           O texto africano

        "Regarder ce texte comme le surgissement d'une conscience enracinée

hic et nunc." p. 216, in Précis de Littérature Comparée

            "L'Afrique faisant partie de ces "zones problématiques" de

l'institution littéraire(...), mais il me semble qu'à l'heure actuelle le

continent africain (...) constitue un espace privilégié pour l'appréhension

des phénomènes historiques, culturels et sociaux sur lesquels se fonde le

renouveau des études comparatistes." op. cit, p. 217.

            Tópicos:

            relação entre literatura e sociedade;

            relação entre literatura e oratura;

           estatuto do escritor e ideologia da descolonização: missão

simbólica face ao seu povo;

            descolonização, como um dos mais importantes fenómenos da nossa

história recente;

            demanda e reconquista da identidade;

             literatura como espaço problemático dum imaginário situado na

intersecção de uma pluralidade de raças e culturas;

            o carácter revolucionário dessas literaturas;

            laços de filiação da literatura africana à corrente da literatura

colonial.

             masoquismo

            demanda da identidade perdida

             regresso ao país natal

            descida aos "enfers éclatants de l'âme noire" - autodafé du

langage

            * Jacques CHEVRIER: Les littératures africaines dans le champ de la

recherche comparatiste:

            A literatura africana escrita ou impressa foi durante muito tempo

vítima de ostracismo.

            Para o comparatista o essencial é "regarder ce texte comme le

surgissement d'une conscience enracinée hic et nunc." op.cit,p. 216.

            a abordagem ecuménica

            a abordagem específica: "le problème de la spécificité des

littératures africaines se pose avec d'autant plus d'acuité que le critère

linguistique est ici inopérant - les littératures africaines s'écrivent

essentiellement en français, anglais et portugais - et qu'il devient par

conséquent nécessaire de définir les caractéristiques susceptibles de les

dégager de la tutelle occidentale, et de leur conférer une réelle autonomie.

op.cit. p.221

             L'INTERTEXTUALITÉ à l'oeuvre

            "Fondée en droit, l'entreprise - a tentativa de se libertar da

abordagem globalizante e europeocentrista - présente cependant quelques

obstacles dans la mesure où il est difficile d'affirmer que des productions

littéraires écrites en français, anglais ou portugais et dont les modèles

formels trouvent leur origine dans la culture occidentale (par ex. le roman)

ne peuvent légitimement s'apréhender que par référence à un système de

valeurs autarcique, "authentiquement" africain." op. cit. p.223  

            "Avec ces littératures écrites dans les langues européennes se

pose évidemment un problème d'IDENTIFICATION (...)Si l'on doit reconnaître,

en effet, que les littératures modernes trouvent leur origine commune à la

fois dans le fait colonial et dans une réaction à ce même fait colonial,

assortie d'une revendication d'identité culturelle, il reste que leur

spécificité a pu paraître problématique aux commentateurs: Qu'est-ce qui

différencie un roman écrit par un africain d'un roman colonial produit par

un européen?" op.cit. p.225

             A africanidade / especificidade

            Léopold Senghor definiu a negritude:

            "Le patrimoine culturel, les valeurs et surtout l'esprit de la

civilisation négro-africaine (...) La monotonie du ton c'est ce qui

distingue la poésie de la prose. C'est le sceau de la Négritude,

l'incantation qui fait accéder à la vérité des choses essentielles." op.cit.

p.225

            Léonard Sainville distingue dans les bibliographies les auteurs

proprement négro-africains des "auteurs blancs, amis du monde noir. op.cit.

p.226

            Hipótese de trabalho: interrogar a estrutura das obras

literárias " de manière à décéler au niveau aussi bien du contenu que de la

forme la part des influences autochtones et celle des influences

étrangères." op. cit. p.226:

            - le poids de l'héritage traditionnel (tradition orale);

            - la part de l'héritage colonial, incarné principalement par l'école

ne doit toutefois pas être minimisée dans l'appréhension du corpus africain.

            - os modelos propostos pela instituição escolar. Por ex., a Bíblia

            - o impacto dos mestres do realismo e do naturalismo francês.

            - on ne peut négliger le poids des idéologies et en particulier du

marxisme.

            - a influência da literatura da América Latina

            - a influência da literatura Sul/Sul

            - Os critérios de apreciação do leitor africano são muito diferentes

            dos do leitor europeu.

            op.cit, p.227 

 

            21. Bibliografia:

            + SARTRE, Orphée noir (prefácio da Anthologie de la nouvelle

poésie nègre et malgache de langue française, 1948)- ideia fundamental:

            " La négritude est pour se détruire, elle est passage et un

aboutissement, moyen et non fin dernière."

            + CALVET,Louis-Jean - Linguistique et colonilisme, 1974

            + RODRIGUES, U.T. (?)

            + Tiers Monde et science littéraire; vers un nouveau concept de

littérature nationale, in Cultures et Développement, Univ. Catholique de

Louvain, vol. XIV - I,1982

            + Littératures africaines et enseignement, Actes du colloque de

Bordeaux, 1984

            + HAUSSER, M., Lecture idéologique et orientation textuelle, Oeuvres

et critiques, III, 2-IV, automne, 1979

            + Revue de Psychologie des peuples: littérature d'Afrique noire,

identité culturelle et relation critique, nº 2/3, avr.-sept.1980

 

            22. Jacques ROGER, Lecture des textes et Histoire des idées, in

Les Chemins actuels de la critique,p.280-299.

            " Il y a une illusion fondamentale à rejeter l'histoire de la

lecture, en ceci qu'il n'existe pas de lecture naive et que le regard que

nous posons sur un texte est en fait un regard informé, un regard structuré,

fût-ce à notre insu, exactement comme le regard que nous posons sur les

choses, et cette information de notre regard est une information

historique." p. 281

            "le projet existentiel" se révèle dans une oeuvre... p.282

            "Je ne vois pas comment cet être historique (o autor), au

moment où il prend en charge un langage qui est, lui aussi, un produit

de l'histoire, sortirait de l´histoire pour entrer dans l'éternité." p.283

            "L'histoire est au coeur même de l'oeuvre, non seulement si nous y

cherchons un homme, mais encore si nous la considérons en elle-même et sans

auteur. Est-il besoin de montrer que l'histoire est aussi dans le lecteur?

Si donc la lecture est la rencontre de deux êtres, elle ne peut être que la

rencontre de deux êtres historiques..." p.285

            "L'oeuvre est dans l'histoire, mais non pas par l'histoire, ce en

quoi elle est à mes yeux une image de l'homme." op. cit. p. 288

            " Ce qui est important n'est pas que M. X ait exercé une influence

sur M. Y, c'est de savoir pourquoi M. Y est allé chercher M. X." op. cit.

p.292

            "le terrain (...) imaginaire, le terrain au sens le plus profond du

terme dans lequel l'oeuvre est née."op.cit., p.296

            "L'histoire des idées n'a pas pour objet premier la littérature.

Elle englobe la littérature, comme la théologie ou la philosophie." op.cit.

p.297

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A cultura e consequentemente a literatura angolana  resultam de duas vertentes civilizacionais:
- a niger-congo; 
- a ocidental cristã.

Antecedentes
    - O primeiro prelo seguiu para Angola em 1849.
    - História Geral das Guerras Angolanas de António de Oliveira Cadornega " que se sentia cidadão de S. Paulo de Assumpção de Loanda e natural de Vila Viçosa.
    - Em 1850 saiu o Boletim do Governo: este cumpre, desde o 2º número, o papel de repositório literário, noticioso e publicitário das actividades da sociedade civil, para além da de órgão oficial...
A produção literária é louvarinheira, de circunstância, esteticamente muito arreigada à rima e ao metro clássicos e culturalmente transparente...
No entanto, em certos textos, podemos encontrar uma afirmação de identidade: expressões como o povo angolense ou terra de Angola.
     - Ernesto Marecos, poeta, cofundador da publicação literária: Aurora, primeiro periódico não-oficial em Angola ( 1855). Autor do livro de poemas Juca, a Mattumbolla (1865).
- António Dias Macedo;
- Urbano de Castro;
- Arcénio do Carpo (pai)
- J. Cândido Furtado e Eduardo Neves - europeus- defensores do negrismo. Eduardo Neves terá sido um dos precursores do bilinguismo literário.
        - Maia Ferreira: Em 1849, publicou o livro de poemas Espontaneidades da minha Alma, dedicado às senhoras africanas... Dá-nos com esta obra um documento literário e sociológico que abona a existência de uma formação psico-social, própria de uma identidade que lhe é subjacente... Maia Ferreira nos seus textos faz a seguinte relação Angola / Portugal:
- Angola, o seu país, a sua pátria;
- Portugal, pátria do seu amigo Joâo Amboím, com quem conviveu no Brasil;
- Portugal, como grande império de que Angola é parte.
- No período posterior a Maia Ferreira até à publicação de Delírios por Cordeiro da Matta, em 1888, a literatura é toda feita através dos jornais ou de outras publicações periódicas.
Este jornalismo era dualista e bipolarizado entre defensores do establishment colonial e oposicionistas republicanos e independentistas... por ex., A Civilização ( imprensa livre ) vs Mercantil (oficial).
- Alfredo Troni (Coimbra 4/2/1845 - Luanda 25/7/1904. Escritor, jornalista e advogado  de filiação socialista , proudhoniana e republicana. Obras principais: A Bruxa; Nga Muturi
Nga Mutúri foi publicada no Diário da Manhã, a partir de 1882 e foi reproduzida no mesmo ano pelo Jornal das Colónias.  - ver ed. 70. Nga Mutúri tem como cenário principal uma Luanda permissiva e condescendente onde se cruzam personagens típicas de todas as profissões e escalões profissionais.

A longa tradição literária angolana data das últimas décadas do séc. XIX

1. Nos anos 80 do séc. XIX, surgiram algumas revistas e jornais. Como, por exemplo, O Futuro de Angola, semanário publicado, em Luanda, nos primeiros anos da década de 80-90. Nele, José de Fontes Pereira, intrépido tribuno e jornalista, condenava o domínio português, que assentava na escravidão e na ignorância. José de Fontes Pereira é autor da noveleta No rio Cunene, publicada ao longo de vários números do Comércio de Luanda - valioso documento histórico- sociológico.

2. Cordeiro da Matta, figura destacada da chamada geração de 80, nascido no Bengo, junto das margens do rio Kuanza, duma família angolana - negro -, obteve a instrução através da docência do pai, que era professor. Inicialmente, Cordeiro da Matta não se assume como negro. O  "negrismo" que se lhe aponta, resulta do seu esforço de afirmação da raça (da mulher) negra em confronto constante com os padrões de beleza estabelecidos para a raça ( da mulher ) branca. Escreveu romances e poesia literariamente pouco significativos(?). Entre outros, Delírios(1888). Porém, coube a Cordeiro da Matta, na esteira de João Eusébio da Cruz Toulson, o papel revolucionário de lutar pelo bilinguismo literário no seu poema Kicôla, exemplo do empenho colocado na divulgação do Kimbundu, para transformar esta língua em língua literária e assim erguer a literatura nacional angolense. Organizou o 1º Dicionário de quimbundo-português.

O pensamento nacionalista oitocentista reflecte duas tendências
- a revolucionária que põe no centro das suas reivindicações a independência nacional;
- a evolucionista que defende a autonomia da colónia.

3. Nos anos 20, o regime português sufocou a liberdade de imprensa: o jornalismo constituía o principal meio de expressão dos intelectuais patriotas angolanos.
Em 1901, fora publicada a obra intitulada A Voz de Angola clamando no deserto, reunindo os artigos de vários escritores.
Nesta obra, destacava-se a ideia de que " o trabalho do negro constituía a base de todo o crescimento económico da colónia". Segundo Mário de Andrade, este livro assinalou " o acto de nascença da literatura angolana." Os 11 signatários têm Portugal no conceito de Pátria como nação civilizadora, no seio da qual visavam a afirmação de cidadãos de plenos direitos, e cuja consciência política se traduzia num sentido de participação e responsabilidade na marcha dos negócios públicos. 
        Para além desta publicação, também Luz e Crença (1902-1903); duas séries do jornal Angolense  (1907-1909 / 1917-1922 ); Farolim, lançado pela Liga Nacional Africana, organização nacionalista, na 2ª década,   revela uma consciência da  identidade angolana cada vez mais aguda.
4. Em 1935, António Assis Júnior publicou o romance O Segredo da Morta, assumindo-se como representante de uma literatura nacional.
Entre o fim da 1ª Grande Guerra e o fim da 2ª, abriram-se as portas à literatura colonial que ratificou o espírito tarzanístico - a prosa exótica.
5. A queda do fascismo levou as pessoas de todo o mundo a pronunciar e a ter fé na palavra LIBERDADE. A partir da 2ª Grande Guerra, é notório o enfeudamento à linha realista, engagé e combatente, fartamente influenciada pelo afro-americanismo, o pan-negrismo, o pan-africanismo, a negritude, o neorrealismo...
        É neste contexto - 1945 - que, apesar da nova fé, Agostinho Neto escreveu: Partida para o contrato:

Não há luz
não há estrelas no céu escuro
tudo na terra é sombra

Negrura
só negrura.

6. A Liga Nacional Africana, organização nacionalista, que datava dos anos 20, e editava o jornal Farolim, cindiu-se, levando à fundação da Associação dos Naturais de Angola, que, em 1948, começou a editar a revista literária Mensagem. Nela colaboraram Mário António, António Jacinto, Viriato da Cruz, sob o grito  unificador: VAMOS DESCOBRIR ANGOLA.
        A Poesia começa a ter um papel fundamental na formação da consciência nacional, porque " a poesia, mais do que qualquer outra forma literária, tem a capacidade de exprimir emoções colectivas, tal como a música, o canto e a dança, de que derivou."
7. No início da década de 50, em Lisboa, Agostinho Neto, Francisco Tenreiro, Amílcar Cabral e Mário de Andrade fundaram o Centro de Estudos Africanos. O objetivo deste Centro, segundo Mário de Andrade. era:
        " racionalizar os sentimentos de se pertencer a um mundo de opressão, e despertar a consciência nacional através de uma análise dos fundamentos culturais do Continente."
in La poésie africaine d'expression portugaise,Pierre Jean Oswald, 1969

Dois anos mais tarde, as autoridades portuguesas puseram termo ao Centro, que continuou a sua acção através da Sociedade Cultural de Angola ( Angola) e da Casa dos Estudantes do Império (Lisboa). Órgãos respectivos:  Nova Mensagem e Cultura.
Todavia, o poder voltou a intervir: António Jacinto e Luandino Vieira foram presos e condenados a 14 anos de prisão.
        Em Lisboa funcionavam a Casa de África desde 1925 e a Casa dos Estudantes do Império desde 1945, instituições subsidiadas pelo Ministério das Colónias e entendidas como dependências dos aparelhos ideológicos do Estado.
A Casa de África era controlada pelo Estado, o que não era plenamente conseguido no que respeita à Casa dos Estudantes do Império, devido à ação das secções culturais.

8. Política Interna
No final da 2ª Guerra Mundial, a repressão salazarista foi atenuada, por coação da vitória das forças aliadas. Este abrandamento da repressão permitiu o surgimento, nessa época, de diversas organizações políticas:
        - o MUD ( movimento de unidade democrática);
- o MUD juvenil.
Estas organizações desfrutam de alguma liberdade, embora o PC (o MUNAF) vivesse na clandestinidade.
        Após as eleições presidenciais de 1949, a repressão acentuou-se... e foi neste ambiente que os jovens intelectuais africanos tiveram que se movimentar. Em 1950, Agostinho Neto tal como Vasco Cabral foram presos. Mondlane e Marcelino dos Santos saíram do país; Amílcar Cabral partiu para Paris. Mário de Andrade, mais tarde seguiu o mesmo caminho, integrando-se no grupo da Présence Africaine, de que se tornou redactor. 

9. Com o advento da luta armada, quatro tendências se esboçaram:

- literatura de combate ( de e para a guerrilha);
- literatura de "ghetto" ( publicada, sob a forma críptica nas próprias colónias);
- literatura de diáspora;
- literatura rústica

Principais representantes
            - Pepetela; Manuel dos Santos Lima; João-Maria Vilanova; Costa Andrade; José Rebelo e Sérgio Vieira.
- Jofre Rocha (Tempo de cicio); David Mestre (Crónica do ghetto); Corsino Fortes ( Alusão ao beco com ou sem saída da grande cidade colonial);
- Tenreiro (São Tomé - Coração em África ); Agostinho Neto    (Havemos de voltar);
- de fundamentação etnológica: Henrique Abranches.... 

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Pacheco Pereira defende que o MPLA nasceu no seio do Partido Comunista Português (Público, 13.11.2003)

Carlos Pacheco (Público, 1.12.2003) entende que o que se observa há um certo tempo é uma “reconstrução da história” baseada em métodos de segregação político-ideológica. Asiste-se à tendência para entronizar as figuras que reluzem nos panteões do MPLA, da Frelimo ou do PAIGC.

Carlos Pacheco ilustra o seu pensamento, referindo o suplemento do “Dicionário de História de Portugal”, dirigido por António Barreto e Maria Filomena Mónica, onde não é feita qualquer referência a Viriato da Cruz (1928-1973), “o verdadeiro pai do MPLA e seu secretário-geral até 1962”.

Na perspectiva de Carlos Pacheco, o MPLA nasceu do “cérebro genial de Viriato da Cruz durante o tempo que ele viveu exilado na Alemanha Democrática, de 1958 a 60. Em Tunis, após o conclave de chefes de estado africanos que ali se realizou em Janeiro de 1960, ele criou uma sigla, um nome, o primeiro sopro de vida do MPLA (...) A seguir veio Conakry (de que ninguém fala), onde ele esculpiu com mão firme toda a estrutura orgânica do novo corpo político; foi ele igualmente que deu uma bandeira ao movimento, a qual perdura até hoje; foi ele, em fins daquele ano, que projectou o MPLA para o mundo inteiro ao discursar nas Câmara dos Comuns, em Londres.

 Viriato Cruz é, para muitos, um “anti-herói (um traidor) porque teve a ousadia de dissentir de Agostinho Neto que acabara de chegar em meados de 62 a Léopoldville, fugido de Portugal diante de uma PIDE “totalmente distraída”.

Viriato (o maoísta) ideologicamente situava-se nos antípodas de Neto (leninista).

Neto inspirava-se na cartilha do PCP, de alinhamento com as teses soviéticas sobre a coexistência pacífica... entendia ser imperativo adiar a luta armada e negociar com Lisboa.

Viriato discordava e “o que se seguiu foi o rompimento, a destituição de Viriato pela força e a sua perseguição pelos anos fora, até na China onde se refugiou em 1966.

Carlos Pacheco explica a tentativa de apagar a memória de Viriato, atribuindo-a aos acaudilhados ao PCP, que não perdoa a Viriato desde os idos de 1955 quando este fundou o Partido Comunista Angolano. Desde a 1ª hora que Viriato procurou o apoio político, logístico e financeiro dos chineses... ver contacto com a Embaixada da China em Conakry. Em Léopoldville, esse intercâmbio reforçou-se. Viriato, o médico Eduardo dos Santos e outros receberam treino militar em Beijing em Agosto de 1960.

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                No artigo de Joaquim Letria " A perna de Nambuangongo"[1], é feita referência à ambiguidade do Partido Comunista:

 

                "O PC achava que era um erro não se ir para a tropa e marchar para a guerra, claro que sem esquecer o antifascismo, o anticolonialismo, o internacionalismo proletário, para percebermos os suecos e os cubanos que pudéssemos encontrar (...), mas o partido achava que a malta devia ir para a guerra e depois escrevia contra a guerra colonialista no AVANTE e no MILITANTE e explicava-nos que daquela malta que ia para a Europa poucos eram os que iam por convicção, por serem contra a guerra." 

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                A morte anunciada de lumumba

                A 30 de Junho de 1960, o Congo conquista a independência.

                Patrice Lumumba diz ao rei da Bélgica, Balduíno I, que a independência do seu país é um passo decisivo para a libertação de todo o continente africano, e dita, com estas palavras, o próprio destino. Nomeado primeiro ministro em exercício, passa a viver em regime de residência fixa depois de um golpe de estado liderado pelo coronel Mobutu e apoiado pela CIA. A 28 de Novembro de 1960, Lumumba tenta evadir-se, mas é preso logo em seguida, a 2 de Dezembro, em Port Francqui. Transportado num DC3 para o aeroporto de Léopoldville, Lumumba é violentamente empurrado para dentro de um camião. Um soldado puxa-lhe a cabeça com força para trás a fim de proporcionar uma melhor perspectiva do seu rosto aos fotógrafos. Foi a última foto de Lumumba vivo.

                A 18 de Agosto de 1960, o Conselho de Segurança, em Washington decidira eliminá-lo, ao mesmo tempo que os militares belgas apoiavam Moisés Tshombé, que anunciara a secessão do Catanga...

                Feito prisioneiro e depois entregue aos seus inimigos do Catanga, o arauto do nacionalismo africano é torturado até à morte, a 17 de Janeiro de 1961. O corpo nunca foi encontrado.



[1]  - Notícias Magazine - Dossier 55 / 64.



Alguma bibliografia
• Cornélio Caley –As sociedades pré-idade de Angola, revista Angolê, nº1, Março 1990
• Carlos Alberto Garcia – A acção dos portugueses no antigo reino do Congo (1482-1543)
• Anette Endruschat – língua falada como força motriz do desenvolvimento do português angolano
• Linguagem literária baseada na tradição oral (Óscar Ribas, Jofre Rocha, Uanhenga Xitu, Boaventura Cardoso e Luandino Vieira)
Factores que condicionam um desenvolvimento específico do Português em Angola
- A situação bilingual que se traduz por interferências entre o português e as línguas bantu.
- O desenvolvimento social, económico e cultural independente do país que se traduz por novas necessidades de comunicação e sobretudo pela renovação lexical.
- Ausência de uma influência normativa permanente, o que se traduz pelo surgimento de particularidades linguísticas no português angolano.
- No sistema fonológico-fonético do português angolano existem características particulares não conhecidas no português standard que nasceu indubitavelmente das línguas africanas – abertura das vogais finais, nasalação e aspiração de vogais.
- No inventário lexical do português angolano existem numerosas palavras de origem bantu, sobretudo designações de fauna, flora, religião e culturas tradicionais, mas também expressões emocionais...
- A influência das línguas bantu na sintaxe portuguesa é menos evidente...
A partir do séc. XIX até ao presente, formou-se uma linguagem coloquial urbana tipicamente angolana, sendo nomeada na literária às vezes como linguagem dos musseques.
Palavras de origem bantu integradas no Português
- Sob o aspecto ortográfico: há formas adaptadas à ortografia portuguesa (calema, musseque) e formas não adaptadas (kinda, kassula).
- Sob o aspecto morfossintáctico: os bantuísmos surgem na forma original (fuba, kitanda) ou constituem a base de derivações de acordo com as regras morfossintácticas do português (carienguista, mabanquista, ximbicar, xingar).
- Sob o aspecto semântico: as palavras têm o seu significado original (sanzala, quimbo) ou um significado especializado (kuacha, kazucuta, maka) que elas só possuem no contexto de português.
- Bantus de 1ª classe – exercem função designativa – nomes de animais, de plantas...
- Bantus de 2ª classe – de função puramente estilística, por serem mais expressivos, mais angolanos que as suas substituições portuguesas.
Exemplos
• Em todos os banga-sumos de Luanda se montava uma operação obrigando as quitandeiras a vender a preços de tabela.
Quitandeira – palavra derivada de kitanda que quer dizer em kibundu “cesto”, significando hoje no contexto português, um sítio onde se vendem legumes, frutos, etc. Daí vem o sentido de vendedora no mercado.
• Nos dias onde se registam grandes calemas, a ida ao mar é reduzida.
Calema refere-se a um fenómeno natural típico da costa angolana, tendo conservado o seu sentido original.
Micate – bolo
Fuba – farinha de milho
Quimbo – casa tradicional (aldeia)
• Não era mais tempo de andarmos a correr atrás dos fenelás ou dos kwachas.
Kwacha – termo cujo sentido original é “galo” foi utilizado para designar de maneira pejorativa um membro da UNITA. No entanto, este significado não existe na língua original. Encontramos esta expressão nos textos oficiais para exprimir uma atitude claramente dirigida contra a UNITA.
Kazucuta – de origem não esclarecida, significando originalmente uma dança muito movimentada. Utiliza-se para designar de maneira enfática as diversas formas de indisciplina social. Existe também uma derivação formada pelo sufixo – eiro: kazucuteiro. Este lexema tem um sentido muito complexo, serve melhor para designar certos fenómenos sociais do que as respectivas palavras portuguesas.
Ex. Há kazucuta para desacreditar a linha política do nosso partido.
O bantuísmo kandengue significa “ pequeno”; criança (desempenha a função de substantivo ou de adjectivo).
Ex. Nesta província kandengue do nosso país vivemos uma situação difícil, marcada por insistentes acções de guerra não-declarada.
Sintaxe
Análise dos fenómenos morfossintácticos que ocorrem fora da norma do português.
Bibliografia
A.Jaruskin (1984)
Eberhard Gaîtner (1986)
Luísa Dolbeth e Costa (1981/82)
Em geral, a sintaxe é considerada o subsistema mais estável da língua.
Apontam-se três causas para que tais fenómenos se produzam:
• O domínio insuficiente das regras sintáticas do português-padrão, provocando faltas, mas também formas simplificadas e reduzidas (ex., na emprego das preposições e dos tempos verbais).
• O uso do português como língua veicular e não como língua materna, o que se traduz também por simplificação das formas e pela renúncia a formas redundantes.
• A interferência das línguas bantu nas estruturas sintáticas do português.
Influência das estruturas bantu
As preposições definem-se de maneira bem diferente entre o português e as línguas bantu. Por ex., em kimbundu, e outras línguas bantu, existem preposições locais, que exprimem simultaneamente o estado local... é movimento em direcção a um sítio qualquer. Em consequência dessa não-distinção encontramos a preposição portuguesa “em” muitas vezes no lugar da preposição “a” ou de outras preposições.
Ex. Os novos métodos colocados na prática permitem um maior afluxo de jovens nos centros de apresentação.
Na linguagem oral é frequente dizer:
Dava aulas nos quadros.
Apresentava-se no MPLA.
Outro fenómeno: a colocação dos pronomes pessoais, reflexivos e de complemento.
Nas línguas bantu, os pronomes precedem sempre o verbo conjugado, facto que se traduz, no português falado em Angola, pela tendência à próclise dos pronomes.
Podemos falar de grande insegurança na colocação dos pronomes, resultado de diferenças profundas entre o português e as línguas bantu.
• Tendência para privilegiar o complemento indireto.
Ex. De acordo com a composição da delegação gostaria informar-lhe o seguinte...

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            Expresso, Felícia Cabrita, O 1º Dia do Fim do Império, 14 de Março de 1998

 

  • A revolta dos trabalhadores de algodão, na Baixa do Cassange, contra a cultura obrigatória. Início da repressão dos agricultores de algodão, na Baixa do Cassange, em Angola no dia 6 de Janeiro de 1961.
  • 4 de Fevereiro de 1961 (Dissertação, pág. 95). Ver papel do cónego Manuel Mendes das Neves, sacerdote ligado à UPA. Assalto simultâneo à Casa de Reclusão Militar e a duas esquadras da PSP.
  • 15 de Março de 1961 (4ª feira): massacre dos colonos, em nome da UPA. Nesse dia, casava a filha do Nogueira, um fazendeiro muito conhecido. Não apenas os portugueses foram chacinados mas também os bailundos. Ver papel de José Lello e de Bernardo Pinto. O dispositivo militar português era constituído por 1.500 homens sem qualquer preparação para responder à guerrilha. Em Nambuangongo não sobrevive ninguém, a província é passada a pente fino. 2000 europeus e 6000 bailundos foram mortos. Holden Roberto acaba por se demarcar dos acontecimentos.
  • Holden Roberto, dirigente da UPA, partira aos 2 anos para Léopoldville (Kinshasa). Estudou numa missão de protestantes ingleses. Terminado o secundário, continua os estudos por correspondência com a Escola Universal. Trabalhou como funcionário na administração colonial belga e aos poucos mete-se na política. Conhece Lumumba, de quem se torna amigo. Vive no Gana. Passa temporadas nos Estados Unidos.  Consegue uma audiência com Kennedy, na altura senador e convence-o a ajudar a sua causa. O senador entrega-lhe 100 mil dólares, e a partir daí as ajudas estreitam-se «roupas, medicamentos, aberturas diplomáticas». Os angolanos frequentam o primeiro curso de guerrilha dado por tunisinos e argelinos em Léopoldville. Entretanto, o governo belga proíbe um comício organizado por Lumumba. Como reacção: pilhagens, assaltos, violação de freiras. Muitos angolanos envolvidos são entregues à PIDE. No entanto, já estavam preparados 3000 angolanos que começam a difundir pelo Norte de Angola a ideia de Libertação. Em Dezembro de 1958, em Acra,  numa conferência internacional de todos os povos, Holden Roberto conheceu Franz Fanon, o médico antilhano revolucionário da FNL na Argélia. Foi Fanon Franz que ajudou Holden a organizar o plano (15/3/1961): «eu não queria organizar uma carnificina, mas Fanon disse que não havia outra solução. Com o sistema de povoamento que havia em Angola só podia ser uma luta armada.»
  • Novembro de 1994 – assinatura dos acordos de Lusaca.
  • 6 de Setembro de 1997 – Jonas Savímbi declarou que iria cumprir os termos do cessar-fogo de 1994 e que Angola não voltaria à guerra. No entanto, recusa entregar o Nordeste, sem receber uma compensação pelos rendimentos provenientes dos diamantes perdidos.
  • A UNITA junta-se ao Governo numa altura em que o seu principal apoiante, o Presidente zairense, Mobutu Sese Seko, cai no isolamento político. Mobutu providenciava à UNITA as rotas para o contrabando de diamantes e madeira para fora de Angola, e a passagem de armas, munições e combustível para o território de Savimbi. O advento do Governo de Laurent Kabila, em Maio, foi bem-vindo para José Eduardo Santos, que achava que a queda de Mobutu iria forçar a UNITA a tomar uma posição mais conciliatória. (20/10/1997) 

História 

A UNITA foi fundada em 1966. Tony da Costa Fernandes foi o verdadeiro fundador da Unita, autor do hino e da bandeira e que idealizou todo o projecto.

Em 1974, o Exército português controlava territorialmente os três teatros de operações. A Administração funcionava normalmente e a economia estava pujante em qualquer dos territórios... Em 1974, a estratégia global da URSS tinha uma componente fortemente expansionista, que só começou a esbater-se já na década de 80 por efeito dos apuros do Afeganistão. Informados do 25 de Abril, o primeiro pensamento dos sovietes foi a África Austral.

Angola proclama a independência a 11 de Novembro de 1975, 14 dias antes dos acontecimentos do 25 de Novembro... À URSS apenas terá interessado a descolonização (de Angola e Moçambique)... Angola e Moçambique serviram de cobaias de uma experiência sem precedentes do expansionismo soviético em África. Por isso provocaram a partida da comunidade portuguesa para depois ocupar o vazio assim criado. Os próprios angolanos e moçambicanos ficariam também à mercê das novas influências. Mais tarde, em 1979, Agostinho Neto disse, em Bissau, que o pior para Angola tinha sido a partida dos portugueses. Mas, em 1975, Neto comentara displicentemente a debandada dos portugueses, então em curso.[1]

Na década de 80-90, a guerra paralisou  as regiões agrícolas mais importantes e tornou as comunicações entre as cidades e o campo extremamente difíceis.

Em 1991, o governo lançou um vasto conjunto de reformas – o PAG (programa de acção do governo). Ministro do Plano: Emanuel Cordeiro. Ver peso da desmobilização: 150.000 antigos combatentes; ver também o impacto do retorno de dezenas de milhares de refugiados, além da deslocação forçada de mais de um milhão de camponeses.

Novembro de 1988 – O protocolo de Brazzaville ( assinado por Luanda, Pretória e Havana, sob a égide de Washington) estabelece as condições de retirada das tropas cubanas. A retirada deverá estar concluída em 30 de Junho de 1991.

A chegada dos soldados cubanos, em 1975, permitiu a instalação em Luanda de um governo prosoviético.

A consciência da incapacidade de Luanda em derrotar a UNITA ficou clara a quando da famosa batalha do rio Lomba, em Outubro de 1987, pois não conseguiram conquistar a Jamba, bastião de Jonas Savimbi.

Nos treze anos que separam 1975 de 1988, Luanda consagrava metade do orçamento à guerra civil.

Os acordos do Estoril de 1991, que permitiram parar a guerra – não foram respeitados pela UNITA: não abriu os territórios controlados, impedindo que a campanha eleitoral decorresse de forma transparente, em 1992.

A UNITA conquistou militarmente Huambo em 6 de Março de 1993. A UNITA instalou a sua direção política. Constituiu-se como governo, querendo criar num Planalto Central uma economia própria. A etnia umbundu encontrou em Savimbi e na UNITA uma identidade política.

A UPA ( Norte de Angola)

A repressão do 27 de Maio

Simão Cacete ( 1955 - ) foi um dos onze candidatos às presidenciais angolanas de 1992. Ficou em 8º lugar. Foi fundador da “Frente para a Democracia”, em 1991. Muito antes, pertenceu ao MPLA, do qual se afastou em vésperas da independência num contexto de «repressão às correntes de opinião». Integrou posteriormente a recém-constituída Organização Comunista de Angola. Foi perseguido pela polícia política angolana, DISA. Esteve preso dois anos sem ser julgado, em 1978. Anos depois voltou a ser perseguido na campanha em Luanda que levou aos tumultos pós-eleitorais de 1992 porque contactou Savimbi para tentar desanuviar a tensão que se seguiu às denúncias de fraude. Fugiu para Portugal, onde exerce a sua actividade profissional. Foi membro fundador da Associação Cívica Angolana

Eleições legislativas em 29 e 30 de Setembro de 1992.

Após ter perdido as eleições ( 34% dos votos, contra 53% do MPLA), durante os meses de Outubro e de Novembro de 1992, Savimbi tentou um golpe de estado. ( ver complacência da UNAVEM2, da Senhora Anstee e da África do Sul (Pik Botha, ministro dos negócios estrangeiros). Esperava tomar Luanda no dia 30 de Outubro.

A morte de Savimbi, a 22 de Fevereiro de 2002, abriu o caminho para a paz. Mas não se vêem melhorias na vida da maioria dos angolanos. A única compensação é o fim da guerra.»[2]

Nzau Puna[3]

Descendente dos barões de Puna, que assinaram com os Portugueses o célebre tratado de Simulambuco, em 1960, juntou-se às forças nacionalistas e transformou-se em guerrilheiro e general. Em 1992, era “dissidente” da UNITA, título que rejeita pois considera que quem traiu a UNITA foi SAVIMBI.

Nzau Puna acusa ( com Tony da Costa Fernandes) Savimbi de ser o responsável das mortes de Tito Tchingungi, Wilson dos Santos e seus familiares.

Nzau Puna rompe com Savimbi em 1986, acusando-o de fomentar o tribalismo e o divisionismo Norte-Sul. Reage também contra a imposição do umbundu como língua oficial da Unita.

Nzau Puna acaba por revelar também que António Vakulukuta, um dos mais importantes quadros, fora assassinado à pancada pelos guardas de Savimbi, por causa da hegemonia étnica de Savimbi.

Savimbi matou a mulher de Nzau Puna e também Piedoso Kindondo e  a namorada, uma das mulheres de Savimbi.

Nzau Puna revela que o general António Dembo contesta o que se passa na organização. O mesmo acontece com o brigadeiro Sabino, com o Jeremias Chitunda, o Dr. Manaças, antigo médico da Jamba. Raul Danda, director-geral da rádio da UNITA – a VORGAN.[4]

Nzau Puna define a Jamba como «um campo de concentração, um campo de reféns».

Enclave de Cabinda

O Conselho supremo da coordenação do FLEC foi criado em Novembro de 1991, em Lisboa. Secretário geral: Francis de Assis Peso Bambi. Este Conselho considera que Cabinda nunca foi angolana, sendo um protectorado português e os seus habitantes portugueses. Cabinda nunca terá sido descolonizada. Este ponto de vista é partilhado por Henriques N’Zita Tiago, chefe do LEC-FAC (Forças armadas de Cabinda), embora rejeite o CSC ( bando de intelectuais!)



[1] - Xavier de Figueiredo – Jornalista, Público, 8 de Maio de 1994.

[2] - Público, 16 de Fevereiro de 2003.

[3] - Entrevista publicada na revista Sábado em 17/09/1992.

[4] - Muitos destes homens têm a família refém na JAMBA.


Quem é quem em Angola?                                                                                      

Agostinho Neto[1]

(- 10.9.1979)

 

Alex Vines[2]

 

Investigadore observador das eleições de 1992

António Burity da Silva

 

Ministro da educação (2003)

António Pitra Neto

 

Ministro da Administração Pública (2003)

António Sousa[3]

(1976 - )

Editor da rádio Ecclesia

Assunção dos Anjos

 

Embaixador de Angola em Portugal (2003)

Bornito de Sousa

 

Líder da bancada parlamentar do MPLA (2003)

Carlos Feijó[4]

 

Assessor de José Eduardo dos Santos (2003)

Carlos Teixeira

 

Assessor de José Eduardo dos Santos (2003)

Paulo Fernandes Madeca

 

Bispo da Diocese de Cabinda (2003)

Dino Matrossi

 

Secretário-geral do MPLA, eleito em Dez.2003.

Dumilde Rangel

 

Governador da província de Benguela (2003)

Eleições[5] de 1992

 

O MPLA – 129 deputados; UNITA - 70

Faustino Muteka

 

Ministro da Administração no Território (Dez. 2003)

Folha 8

 

Um certo racismo contra brancos e mestiços. (2003)

França Van Dunem

 

Afastado do Congesso do MPLA em 1998

George Chicoty

 

Vice-MNE (2003); ex-líder do Fórum Democrático angolano

Graça Campos[6]

(1959 -)

Director do semanário “Angolense” (Dez. 2003)

Hendrick Vaal Neto

 

Ministro da Comunicação Social (Dez. 2003)

Isaías Samakuva

 

Líder da UNITA desde Junho de 2003.

Ismael Mateus

 

Presidente do Sindicato de Jornalistas (2003)

João Lourenço

 

Secretário-geral do MPLA (2003)

João Pinto

 

Editor de Política da Rádio Ecclesia (2003)

Joaquim David[7]

 

Ministro da Indústria (2003)

Jornal de Angola[8]

 

Limita-se a Luanda. 12.000 exemplares.

José Eduardo dos Santos

(1942 -)

Presidente da República de Angola (1979 - )

José Leitão[9]

 

Chefe da casa civil da Presidência (2003)

José Pedro Morais[10]

 

Antigo funcionário do FMI em Washington (2003)

José Van Dunem

 

Preso e morto na sequência do 27 de Maio de1977.

Josefina Pitra

 

Embaixadora de Angola nos EUA (2003)

Justino Pinto de Andrade[11]

(1948 -)

Militante e dissidente do MPLA (2003).

Kundi Payama

 

Ministro da Defesa (Dez.2003) – general

Lopo do Nascimento[12]

 

Afastado do Congesso do MPLA em 1998

Manuel Vicente

 

Presidente da Sonangol (2003)

Marcolino Moco

 

Afastado do Congesso do MPLA em 1998

Mário Pinto de Andrade

 

Liderou a Revolta Activa[13], nos anos 70.

Nito Alves

 

Preso e morto na sequência do 27 de Maio de1977.

Norberto dos Santos

 

Secretário para a informação do MPLA (2003)

Osvaldo Serra Van Dunem[14]

 

Ministro do Interior (2003)

Paulo de Carvalho

 

Sociólogo

Pierre Falcone[15]

 

Traficante de armas francês

Ricardo de Melo[16]

 

Jornalista assassinado em 1995.

Ruy Duarte de Carvalho

(1941-)

Antropólogo[17] e poeta

Saydi Mingas[18]

 

Ministro das Finanças (1977)

Sita Valles[19]

 

Presa e morta na sequência do 27 de Maio de1977.

Valentim Amões

 

Empresário (2003)

Virgílio Fontes Pereira

 

Ministro do Ambiente (2003)

Viriato da Cruz

 

 

V Congresso do MPLA

 

Dezembro de 2003

20 Novembro 1994

 

Acordo de Lusaca. MPLA e UNITA assinam acordo

27 Maio de 1977

 

Nito Alves tenta (?) derrubar Agostinho Neto.[20]

5 Outubro de 1975

 

Chegam ao Amboím as primeiras tropas cubanas

11 Novembro de 1975

 

Agostinho Neto proclamou a República de Angola

 

 



[1] - Morre num hospital de Moscovo, devido a lesões no fígado e no pâncreas.

[2] - Publicou vários relatórios sobre Angola para a Human Rights Watch; actualmente, dirige o Programa para África do Royal Institute for International affairs.

[3] - Natural de Cabinda. Começou na Rádio Nacional. Licenciado em Linguística. Lema: «dar a voz a quem não tem voz.»

[4] - Jurista. Discípulo do professor Diogo Freitas do Amaral.

[5] - Nunca houve 2ª volta, face ao reacendimento da guerra.

[6] - Nasceu em Malanje. Começou a trabalhar na Angop, no gabinete encarregado de redigir editoriais de propaganda. Trabalhou no jornal das FAPLA, no departamento de informação do MPLA, no «Jornal de Angola» e na televisão. Em 1995, ajudou a fundar a Folha 8, após o que foi um dos promotores do «Angolense», que largou para formar o «Semanário Angolense», de que é um dos proprietários. A 11 de Janeiro de 2003 (?), publicou no «Angolense» um texto antológico: «Os nossos milionários». É a lista dos 59 mais ricos, encabeçada por José Eduardo dos Santos, com uma fortuna estimada em mais de 700 milhões de dólares.

[7] - Antigo director geral da petrolífera angolana. Sonangol. Figura citada pelas justiças francesa e suiça, tendo beneficiado de “comissões ilícitas” do caso “Angolagate” de venda de armas ao Governo angolano.

[8] - Director actual (2003) – Luís Fernando.

[9] - Renunciou à sua filiação no partido (2003). Fazia parte do bureau político desde 1998.

[10] - Ministro das Finanças (2003).

[11] - Aderiu ao MPLA em 1963, aos 15 anos de idade. Nos anos 70, juntou-se à REVOLTA ACTIVA, liderada pelo seu tio, Mário Pinto de Andrade. Hoje é professor de Economia e director da Faculdade de Economia da Universidade Católica de Luanda.

[12] - Antigo primeiro-ministro e secretário-geral do MPLA afastado em 1998.

[13] - Este movimento opunha-se à liderança de Agostinho Neto.

[14] - Ex-embaixador de Angola em Lisboa.

[15] - Actual representante diplomático de Angola na UNESCO (2003).

[16] - A autoria do assassinato nunca foi esclarecida.

[17] - Este antropólogo viu a sua obra “Vou lá visitar pastores” sobre a cultura kuvale, adaptada ao teatro (Rui Guilherme Lopes) e representada por Manuel Wilborg, na Culturgest, Lisboa, entre 19 e 21 de Maio de 2004. Trabalho de qualidade.

[18] - Foi executado pelo grupo de Nito Alves (27 de Maio de 1977).

[19]  - Casada com José Van Dunem. Em 2004, o filho ainda não tem a certidão de óbito dos pais.

[20]  - Os perseguidos do 27 de Maio de 1977. De acordo com José Fuso: «foram presos por pertencerem a um determinado sector intelectual, que se tinha destacado numa fase da luta pela independência, e que se identificava com a “corrente de pensamento e a prática política” dos dirigentes que tinham vindo da guerrilha na primeira região político-militar, entre eles Nito Alves e José Van Dunen.» 

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