PROVA ESCRITA DE LITERATURA PORTUGUESA
GRUPO I
Leia, atentamente, o poema de Sá de Miranda
O sol é
grande, caem co’a calma as aves,
do tempo em
tal sazão, que soe ser fria;
esta água que
d’alto cai acordar-me-ia
do sono não,
mas de cuidados graves.
Ó cousas,
todas vãs, todas mudaves,
qual é tal
coração qu’em vós confia?
Passam os
tempos, vai dia trás dia,
incertos
muito mais que ao vento as naves.
Eu vira já
aqui sombras, vira flores
vi tantas
águas, vi tanta verdura,
as aves todas
cantavam d’amores.
Tudo é seco e
mudo; e, de mestura,
também
mudando-m’eu fiz doutras cores:
e tudo o mais
renova, isto é sem cura!
Eugénio de Andrade, Antologia Pessoal da Poesia
Portuguesa, Sá de Miranda, Porto, Campo das Letras, 1999.
Apresente, de forma
estruturada, as suas respostas ao questionário.
1.
Indique quatro características do poema que
contribuem para a sua inserção no classicismo português. [15+10]
2.
Em termos de interlocução, da 1ª para a 2ª
estrofe, há uma mudança. Considerando todo o poema, explicite o sentido dessa
mudança. [12+8]
3.
Baseando-se na análise dos tempos e modos
verbais, exponha o pensamento de Sá de Miranda. [15+10]
4.
Mostre como, nos sonetistas portugueses, a
reflexão sobre a precariedade da certeza humana é muito frequente. [18+12]
GRUPO II
Leia, atentamente, o seguinte excerto do romance Manhã Submersa de
Vergílio Ferreira.
- Tira a prova! – ruge-me a cada
instante o Gaudêncio na memória.
Mas eu tinha medo do que me
estivesse esperando: a verdade da suspeita, ou a sua mentira. Pesa-me sobretudo
um pavor sem limites de uma cólera divina, eterna, assombrada de profecias.
Assim se começou um jogo de perseguição entre mim e o meu demónio da carne.
Este era um demónio diferente, astuto, que se mostrava quase sempre só depois
de realizado o seu trabalho. Tinha dedos buliçosos em todo o corpo e um bafo
morno como um banho. Falava baixo, ao ouvido, com longas pausas anónimas. Pelo
silêncio das longas noites sem sono, e sobretudo pelas manhãs em que acordava
mais cedo, ele toldava-me de tentação sem que eu mal desse conta. Queimava-me
então, por dentro dos ossos, uma chama viva e velada como de álcool. Um arrepio
partia-me das unhas das mãos e dos pés, endurecia-me de angústia, centrava-me
contra mim. Já a humidade da boca me refluía ao ventre e uma dor suave me
crescia na nuca, quando subitamente eu pensava: «Ouve, desgraçado, espera! Tu
vais morrer, lembra-te bem! Vais morrer! Vai-te acontecer uma coisa
extraordinária e não aguentas, e morres, e mergulharás no Inferno para sempre!»
Então eu endireitava a coluna com
violência, e tudo em mim rangia de desespero. A imagem do Inferno esmagava-me
de pavor, não bem talvez pela maldição de fogo e de enxofre, não bem pela
presença vesga dos demónios, mas desencorajamento da imensa eternidade. Quantas
vezes, para dominá-la, eu me pus a imaginar uma extensão pavorosa de tempo,
qualquer coisa como um número de anos com um quilómetro de comprido em
algarismos pequenos. Pois bem: isso não era nada comparado com a eternidade.
Multiplicava depois esse número por mil, um bilião, um trilião de vezes. Pois
bem: isso ainda não seria nada que se parecesse com a eternidade. Porque a
eternidade seria isso e mais e mais e sempre mais. E quando me cansasse de
imaginar a extensão de outros números maiores, ainda não teria imaginado nada
da eternidade. Porque a eternidade era sempre e sempre e sempre, mais cem anos,
mais milhões de anos, sempre mais milhões de anos e, à frente desses anos
todos, o vazio da imensidade como se fosse a partir daí que se começasse a
contar. Como iria eu arriscar-me? E como iria pecar precisamente contra o
inviolável segredo, a pureza, o mistério sagrado do meu corpo? Porque eu sentia
que em tal falta havia um crime maior que em qualquer outro. Compreendia
perfeitamente o assassínio, o roubo, quase mesmo a blasfémia. Eram faltas sobre
que se podia conversar claramente. Um blasfemo agia também por uma só parte de
si, talvez só a da loucura ou da raiva. Mas uma culpa da carne atingia o mais
secreto do homem, sujava-o todo, cobria-o de asco.
Vergílio Ferreira, Manhã Submersa,
1953
Apresente, de forma
estruturada, as suas respostas ao questionário.
1.
Quem é que Gaudêncio incita, na
memória, a “tirar a prova”? Que “prova”? Porquê na “memória”? [9+6]
2.
Quais são os obstáculos à superação da
prova? O que é que os distingue verdadeiramente? [9+6]
3.
Identifique quatro recursos estilísticos e
explique o modo como eles auxiliam o leitor a compreender a mensagem. [12+8]
4.
Porque é que as últimas seis linhas do
excerto indiciam uma abordagem muito diferente do problema, quer no plano romanesco quer no plano de uma geração (a
do Autor)? [12+8]
GRUPO III
O amor
e a morte são temas frequentes na literatura portuguesa. Partindo da sua
experiência de leitor, redija um texto, entre cem e duzentas palavras, em que
registe as suas impressões de leitura, relativamente à referida temática. [18+12]
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I
BARROW-ON-FURNESS
Sou vil, sou reles, como toda a gente,
Não tenho ideais, mas não os tem
ninguém.
Quem diz que os tem é como eu, mas
mente.
Quem diz que busca é porque os não
tem.
É com a imaginação que eu amo o bem.
Meu baixo ser porém não mo consente.
Passo, fantasma do meu ser presente,
Ébrio, por intervalos, de um Além.
Como todos não creio no que creio.
Talvez possa morrer por esse ideal.
Mas, enquanto não morro, falo e leio.
Justificar-me? Sou quem todos são...
Modificar-me? Para meu igual?...
- Acaba lá com isso, ó coração!
Álvaro de Campos, Poesias
No poema Autopsicografia,
Fernando Pessoa explicita de forma lapidar o lugar que o coração e a razão desempenham na génese de muitos
dos seus poemas:
" E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a
razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
"
1. Caracterize a função do coração e da razão na
poética pessoana.
2. Baseando-se nessa caracterização, faça a análise do
poema transcrito.
3. Finalmente, explique em que consiste o Sensacionismo, e por que motivo,
geralmente, ele é integrado no Modernismo.
II
Embora de forma diversa, o Sentimento e a Razão,
também, desempenham funções importantes na obra O JUDEU de Bernardo Santareno.
Numa dissertação devidamente fundamentada, demonstre que
Bernardo Santareno, ao construir este texto dramático, optou pela razão, e, simultaneamente, mostrou quais
eram os efeitos de um drama assente
na hipotética sublimação das emoções.
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GRUPO I
Texto
- Digades, filha, mia filha velida,
por que tardastes na fontana fria?
- Os amores ei.
- Digades, filha, mia filha louçana,
por que tardastes na fria fontana?
- Os amores ei.
Tardei, mia madre, na fontana fria,
cervos do monte a áugua volviam.
- Os amores ei.
Tardei, mia madre, na fria fontana,
cervos do monte volviam a áugua.
- Os amores ei.
- Mentir, mia filha, mentir por amigo,
nunca vi cervo que volvess’o rio.
- Os amores ei.
- Mentir, mia filha, mentir por amado,
nunca vi cervo que volvess’o alto.
- Os amores ei.
Pêro Meogo
Apresente, de forma bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.
1. A Lírica Trovadoresca abrange três tipos de cantigas. Indica-os.
1.1. Em qual desses tipos se integra a cantiga de Pêro Meogo? Justifica a tua resposta.
2. De forma clara e concisa, expõe o assunto da cantiga transcrita.
3. Mostra como, quanto à estrutura externa, esta cantiga é muito elaborada.
4. Na relação mãe /filha, qual é o papel da primeira?
5. Explica a simbologia da “fontana fria” e dos “cervos do monte”.
6. Apesar de estarmos perante uma cantiga de refrão, Pêro Meogo não deixa de recorrer a alguns processos típicos da paralelística. Aponta-os, exemplificando.
7. Por palavras tuas, enuncia o argumento materno presente nas duas últimas estrofes.
B
1. Elabora um texto bem cuidado no léxico e na síntese de oito a dez linhas, demonstrando a pertinência da seguinte afirmação.
Na Idade Média, os condicionalismos políticos e económicos determinam a ausência mais ou menos longa dos namorados, provocando enorme saudade no coração das amigas que por eles esperavam cheias de inquietação.
GRUPO II
1. Elabora um texto expositivo, num máximo de quinze linhas, referindo o papel das escolas e das duas literaturas (a oral e a escrita) na época medieval.
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GRUPO I
Texto
- Digades, filha, mia filha velida,
por que tardastes na fontana fria?
- Os amores ei.
- Digades, filha, mia filha louçana,
por que tardastes na fria fontana?
- Os amores ei.
Tardei, mia madre, na fontana fria,
cervos do monte a áugua volviam.
- Os amores ei.
Tardei, mia madre, na fria fontana,
cervos do monte volviam a áugua.
- Os amores ei.
- Mentir, mia filha, mentir por amigo,
nunca vi cervo que volvess’o rio.
- Os amores ei.
- Mentir, mia filha, mentir por amado,
nunca vi cervo que volvess’o alto.
- Os amores ei.
Pêro Meogo
Apresente, de forma bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.
1. A Lírica Trovadoresca abrange três tipos de cantigas. Indica-os.
1.1. Em qual desses tipos se integra a cantiga de Pêro Meogo? Justifica a tua resposta.
2. De forma clara e concisa, expõe o assunto da cantiga transcrita.
3. Mostra como, quanto à estrutura externa, esta cantiga é muito elaborada.
4. Na relação mãe /filha, qual é o papel da primeira?
5. Explica a simbologia da “fontana fria” e dos “cervos do monte”.
6. Apesar de estarmos perante uma cantiga de refrão, Pêro Meogo não deixa de recorrer a alguns processos típicos da paralelística. Aponta-os, exemplificando.
7. Por palavras tuas, enuncia o argumento materno presente nas duas últimas estrofes.
B
1. Elabora um texto bem cuidado no léxico e na síntese de oito a dez linhas, demonstrando a pertinência da seguinte afirmação.
Na Idade Média, os condicionalismos políticos e económicos determinam a ausência mais ou menos longa dos namorados, provocando enorme saudade no coração das amigas que por eles esperavam cheias de inquietação.
GRUPO II
1. Elabora um texto expositivo, num máximo de quinze linhas, referindo o papel das escolas e das duas literaturas (a oral e a escrita) na época medieval.
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Texto A
Muitos dizem com gran coita d’amor
que querriam morrer e que assi
perderiam coitas, mais eu de mi
quero dizer verdad’ a mha senhor:
queria-me lh’eu mui bem querer
mais non queria por ela morrer.
Com’ outros morreram, e que prol tem?
ca, des que morrer, non a veerei,
nen bôo serviço nunca lhe farei;
por end’a senhor que eu quero ben
queria-me lh’eu mui ben querer
mais non queria por ela morrer.
Com’ outros morreram no mundo já,
que depois nunca puderam servir
as por que morreram, nem lhis pedir
ren, por end’esta que m’estas coitas dá
queria-me lh’eu mui ben querer
mais non queria por ela morrer.
Ca nunca lhi tan ben posso fazer
serviço morto, como sse viver.
Pae Gomes Charinho
Depois de leres atentamente o texto A:
1. Classifica-o quanto à origem e à temática.
2. Relê a 1ª estrofe e tradu-la para português atual.
3. Neste poema, Pae Charinho recusa morrer de amor pela sua “senhor”. Enuncia os argumentos que ele utiliza para justificar a sua atitude.
4. Descreve a 3ª estrofe quanto à estrutura externa: número de versos, número de sílabas métricas, esquema rimático, combinação de rimas e à posição do acento tónico.
5. Identifica a “finda” e explica qual é a sua função neste poema.
6. Transcreve três arcaísmos e comenta-os quanto à origem e à respetiva evolução morfológica e semântica.
Glossário
Acaecer – suceder
aginha – depressa
ca – porque
coita – pena, cuidado, paixão amorosa, desejo, doença
prés - apreço
prol – proveito
ren – coisa, pessoa
Texto B
Vej’eu as gentes andar revolvendo,
e mudando aginha os corações
do que põe antre si as nações;
e já m’eu aquesto vou aprendendo
e ora cedo mais aprenderei:
a quen poser preito, mentir-lho-ei,
e assi irei melhor guarecendo.
Ca vej’eu ir melhor ao mentireiro
c’ao que diz verdade ao seu amigo;
e por aquesto o jur’ e o digo
que já mais nunca seja verdadeiro;
mais mentirei e firmarei log’al:
a quen quero [i] bem, querrei-lhe mal,
e assi guarrei come cavaleiro.
Pois que meu prez nen mia onra non crece,
por que me quigi teer à verdade,
vede-lo que farei, par car[i]dade,
pois que vej’o que a m’assi acaece:
mentirei ao amigo e ao senhor,
e poiará meu prez e meu valor
com mentira, pois com verdade dece.
Pero Mafaldo
Depois de leres atentamente o texto:
1. Classifica-o quanto à temática.
2. Indica como é que Pero Mafaldo avalia e caracteriza o comportamento das “gentes” que o cercam.
3. Essa avaliação leva o trovador a tomar uma decisão. Qual? E porquê?
4. Relê a 3ª estrofe e enuncia as ideias principais.
II
Elabora um texto bem cuidado quanto à estrutura e ao léxico, justificando a seguinte afirmação: O amor não podia falar uma linguagem desordenada, impetuosa; tinha de conter-se em certos limites de razoável moderação. A esta espécie de válvula de segurança do afeto amoroso deu-se o nome de mesura.
Manuel Rodrigues Lapa
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TEXTO
O Rey da China reside o mais do tempo nesta cidade do Pequim, por assi o prometer & jurar no dia da sua coroação, em que lhe metem na mão o cetro de todo o governo, do qual ao diante tratarey hum pouco. Nesta cidade em ruas separadas por sy de certos bairro, há hũas casas a que eles chamão Laginampur, que quer dizer insino de pobres, nos quais por ordem da camara se ensina a todos os moços ociosos a que se não sabe pay, assi a doutrina, como o ler & escrever, & todos os officios mecânicos, ate que por suas mãos podĕ ganhar suas vidas, & destas casas não ha taŏ poucas nesta cidade, que não passem de duzentas, & quiçá de quinhentas; & ha outras tantas, em que tambem por ordem da cidade estão muytas molheres pobres que saõ amas, & dão de mamar a todos os enjeitados a que de certo se não sahe pay nem mãy, porem antes que estes se aceitĕ nestas casas, faz a justiça sobre isso grandes exames, & se se vem a saber qual foy o pay ou a mãy do enjeitado, os castigão gravemente, & os degradão para certos lugares que elles tem por mais esteriles & doentios. E despois de serem criados estes enjeitados, se repartem por estoutras casas que digo, onde são insinados. E se algũs por defeito da natureza não saŏ para aprender officios, tambem se lhes dâ outro remédio de vida, conforme á necessidade de cada hum, se saŏ cegos, dão a cada atafoneyro[1], quĕ tem engenho de mão, tres, dous para moerem, & hum para peneyrar, & este he o modo que as Republicas tĕ para proverem, assi os cegos como os outros necessitados que a cidade tĕ a seu cargo, porque nenhum mecânico pode assentar tenda para official, sem licença da câmara, & quando algum faz petição em que pede esta licença, logo lha dão, com obrigação de sustentar ou hum, ou mais daquelles necessitados que pertencerem para o seu officio, para que daquillo de que elle pretende sustentar-se, se remedee tambem o pobre, porque dizem elles que he isto obra de proximidade mãdada por Deos, & muyto aceita a elle, & pela qual elle dissimula cõnosco o castigo dos nossos pecados, & a cada hum destes três cegos ha o atafoneyro de dar de comer & vestir & calçar, & seis tostões por anno, para que quãdo morrer tenha que deixar por sua alma, porque não pereça, por ser pobre, na concava funda da casa do fumo, conforme ao quarto preceito da deosa Amida, que foy a primeyra de quem estes cegos tomaraŏ suas superstiçoĕs, & suas erronias, a qual, segundo parece, foy despois de dilúvio seiscentos & trinta & seis annos. E esta seita com todas as mais que se achão neste barbarismo da China, que segundo eu soube delles, & já disse algũas vezes, são trinta & duas, vieraŏ do reyno de Pegù ter a Sião, & daly por sacerdotes & cabizondos se espalharaŏ por toda a terra firme de Cãboja, Champaa, Laos, Gucos, Pafuas, Chiammay, império de Vzanguee, & Cauchenchina, & pelo arcipelago das ilhas de Ainão, Lequios, & Iapão, até os confins do Miacoo &, Bandou, de maneyra que a peçonha destes erpes corrõpeo tamanha parte do mũdo como a maldita seita de Mafamede. (…) Ha tambem certos bairros em que se agasalhaŏ homĕs pobres & de bom viver, que a cidade tambem sustenta à custa dos procuradores que sustentão demandas injustas em que as partes não tem justiça, & de julgadores que por aceitação de pessoas, ou por peitas não correm cos feytos conforme a justiça, de maneira que em tudo se governa esta gente com muyta ordem.
Fernão Mendes Pinto, Peregrinação, Cap. CXII, Do provimento que se tem com todos os aleijados & gente desemparada
1. Lê o extrato do CXII capítulo de Peregrinação e completa o seguinte texto:
O rei da China, no dia da _________, promete fixar residência em ___________. Nesta cidade, as ___________ correspondem aos colégios da Casa Pia. Por decisão das autoridades, os ______________ aprendem a _____________, a _____________, a _______________ e um ____________ mecânico.
Noutras residências, é possível encontrar __________, mulheres ________, que ____________crianças abandonadas. As autoridades ___________ e ____________ os pais que abandonam os filhos.
De forma a ___________ a mendicidade, os moleiros são obrigados a receber três ____________. Quando um artesão pede ___________para abrir uma oficina, fica obrigado a empregar um ____________, dando-lhe comida, ____________, ______________, ______________ e seis tostões por ano para, quando morrer, evitar cair ________________________, conforme prescreve a seita da deusa ___________.
Na China, há ________________ seitas, _____________das mais diversas partes da Ásia, sendo a mais perigosa a de _________________.
2. No texto que acabaste de ler, o narrador é heterodiegético. Explica porquê.
3. Que imagem é que Fernão Mendes Pinto nos transmite dos governantes chineses?
4. Há quem defenda que devemos ver neste texto um exemplo de sátira. Quem é o alvo dessa sátira? Justifica a tua resposta. (Podes dar outros exemplos de outros excertos da Peregrinação.)
5. Do relato apresentado, o que é que inferes da vida de Fernão Mendes Pinto no Oriente?
TEXTO
- Quando eu era da vossa idade, estava em casa de meu pai.
Nos longos serões das espantosas noites de Inverno, entre outras mulheres de casa, delas fiando e delas dobando, muitas vezes, para enganarmos o trabalho, ordenávamos que alguma de nós contasse histórias que não deixasse parecer o serão longo. E uma mulher da casa, já velha, que vira muito e ouvira muitas coisas, por mais anciã, dizia só que para ela pertencia aquele ofício.
Então contava histórias de cavaleiros andantes.
E, verdadeiramente, as afrontas e grandes desaventuras, que ela contava a que se eles punham pelas donzelas, me fazia haver dó deles. E cuidava eu que um cavaleiro, apostamente armado sobre seu formoso cavalo, pela ribeira de um rio deste gracioso campo passando, não podia ir tão triste como uma delicada donzela, em alto aposento, acostada ao seu estrado, entre paredes, só, podia estar, vendo-se de altos muros cercada, e de tantas guardas feitas para cousa de tão pequena força.
Mas para lhe tolherem as vontades fizeram grandes defesas, e para lhe entrar o nojo, pequenas!
Mais maneira têm os cavaleiros para se mostrarem mais tristes do que são, e menos maneira têm as donzelas para se mostrarem mais tristes do que parecem aos homens.
Ao menos se eu, depois que soube tantas cousas, pudera tornar atrás, menos me houveram de magoar algumas do que me magoaram: que também se deve esperar da dor aquilo para que cada um a tem. Doutra maneira, não se devia ela de ter, ou, ao menos, devia-se de mostrar que se não tem.
Bernardim Ribeiro, Menina e Moça
1. Neste texto, o narrador é autodiegético. Porquê?
2. A que “ofício” é que a anciã se referia nos serões de Inverno?
3. Por que razão, se dava tanta importância às histórias de cavaleiros andantes, na Idade Média e, ainda, no início do Renascimento?
4. O narrador tece algumas considerações sobre a tristeza dos cavaleiros e das donzelas. Por palavras tuas, resume essa reflexão.
5. Dá um exemplo de «locus amoenus» neste excerto.
6. Explica o sentido da frase: «Mas para lhe tolherem as vontades fizeram grandes defesas, e para lhe entrar o nojo, pequenas!»
7. Já é um lugar-comum falar da prosa poética de Bernardim Ribeiro. Explica porquê.
[1] - Atafoneiro: dono ou encarregado de atafona (moinho; azenha).
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Ficha de Leitura
(A saudade...)
Já me desenganei que de
queixar-me
não se alcança remédio; mas quem pena,
forçado lhe é gritar se a
dor é grande.
Gritarei; mas é débil e pequena
a voz para poder desabafar-me,
porque nem com gritar a dor se abrande.
Quem me dará sequer que fora
mande
lágrimas e suspiros infinitos
iguais ao mal que dentro n'alma mora?
Mas quem pode algũ 'hora
medir o mal com lágrimas ou gritos?
Enfim, direi aquilo que me
ensinam
a ira, a mágoa, e delas a lembrança,
que é outra dor por si, mais dura e firme.
Chegai, desesperados, para ouvir-me,
e fujam os que vivem de esperança
ou aqueles que nela se imaginam,
porque Amor e Fortuna determinam
de lhe darem poder para entenderem,
à medida dos males que tiverem.
(…)
Pois
quem pode pintar a vida ausente,
com
um descontentar-me quanto via,
e
aquele estar tão longe donde estava;
o
falar, sem saber o que dizia;
andar,
sem ver por onde, e juntamente
suspirar
sem saber que suspirava?
Pois quando aquele mal m'atormentava
e aquela dor que das Tartáreas águas
saiu ao mundo, e mais que todas doe,
que tantas vezes soe
duras iras tornar em brandas mágoas;
agora, co furor da mágoa irado,
querer e não querer deixar d'amar,
e mudar noutra parte por vingança
o desejo privado de esperança,
que tão mal se podia já mudar;
agora,
a saudade do passado
tormento.
puro, doce e magoado,
fazia
converter estes furores
em
magoadas lágrimas de amores.
****************************************************************************
|
(…)
Destarte a vida noutra fui trocando;
eu não, mas o destino fero, irado,
que eu ainda assi por outra não trocara.
Fez-me deixar o pátrio ninho amado,
passando o longo mar, que ameaçando
tantas vezes me esteve a vida cara.
Agora, exprimentando a fúria
rara
de Marte, que cos olhos quis que logo
visse e tocasse o acerbo fruto seu
(e neste escudo meu
a pintura verão do
infesto fogo);
agora, peregrino vago e errante,
vendo nações, linguages e costumes,
Céus vários, qualidades diferentes,
só por seguir com passos diligentes
a ti, Fortuna injusta, que consumes
as idades, levando-lhe diante
ũa esperança em vista de diamante,
mas quando das mãos cai se conhece
que é frágil vidro aquilo que aparece.
Camões,
Excertos da Canção X
- Depois de leres os excertos
da Canção X de Camões, e os
capítulos I e II da novela Menina e
Moça de Bernardim Ribeiro,
1. comenta
a seguinte afirmação:
A saudade é a tinta mais
pungente com que (o escritor) escreve textos melancolicamente deliciosos e
artisticamente perfeitos. (Manual 185)
2.
identifica e caracteriza os interlocutores na canção
e na novela.
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