Colonização
Brasil", Lisboa, 2ª ed. S.C. 18108
Pref. de António Sérgio [31011940], em que levanta o problema do
pretenso desajustamento da grei portuguesa à cultura
europeia, defendido
por G. F., assim como por Almir de Andrade:
" O
sentenciarmos a respeito da grei portuguesa que ela é
inajustável à cultura europeia - não será negar-lhe a
plasticidade de
espírito em que vimos a causa da sua adaptação aos trópicos?
O considerá-la
"aberta a toda a sorte de influências" não redunda
em inibir-nos de a
conceber cerrada à influência do génio e da civilização da
Europa? A não
inadaptabilidade a nenhuma cousa - o dote de não ser anti
cousa alguma -
não será a própria definição exacta desse mesmo conceito de
plasticiade?
Plásticos, como seremos nós anti-europeus?", p. 15
" A
hipótese que submeto aos doutos é a de que os factores agro-
-climáticos da nossa metrópole não nos dão condicionamento
francamente
benéfico a nenhuma casta de cultura básica - aquelas cujos
produtos são de
valor primário para a sustentação da vida do homem, ou que
têm assegurada
uma grande venda - que pudesse ministrar fundamento sólido a
qualquer
pujante criação - sendo que o mesmo se não pode dizer das regiões da Europa
de Além-Pirinéus onde vivem povos que excederam o nosso por
aquilo que
conseguiram em seus próprios lares. "p.16
+ Introdução por Gilberto Freyre:
"Dá-se
relevo à ação de Portugal no Brasil e procura-se esboçar a
sua atividade nas demais áreas de colonização ou de
influência lusitana,
sem deixar de salientar que a formação portugues do nosso
país se fez, não
dentro de uma rígida exclusividade de raça ou mesmo de
cultura, mas por meio
de constante interpenetração de valores culturais diversos e
de abundante
miscigenação." p. 30
+++ linhas
de ação: pluralidade de cultura e miscigenação à
grande.
+++
"Aliás está dentro da tradição portuguesa no Brasil, como no
Oriente e na própria África, a tendência para assimilar
elementos estranhos.
E assimilá-los sem violência, dada a oportunidade que
sempre, ou quase
sempre lhes tem dado, de se exprimirem. De modo que a
assimilação se faz
docemente e por interpenetração. A assimilação ou a
contemporização." p.36
Contra a
"imposição da cultura (inclusive a língua) do grupo
dominante com exclusão ou sacrifício absoluto da
cultura(inclusive a língua)
daquela maioria tecnicamente inferior (...) é erro, erro
enorme." p.37
+
colonização assente no trabalho escravo e na mestiçagem
A mestiçagem "não permitiu nunca que se
endurecesse em antagonismos
absolutos aquela separação dos homens em senhores e
escravos, imposta pelo
sistema de produção. Nem que se desenvolvesse exageradamente
uma mística de
branquidade ou de fidalguia. (...)
Na formação
brasileira, o humano e até certo ponto o cristão
reagiram contra o rigidamente económico, através do
dissolvente formidável
que foi a mestiçagem. A mestiçagem impôs-se entre nós como
uma força física,
diremos melhor biológica, e como uma força psicológica, ou,
mais
particularmente, sentimental, contra as quais nenhum outro
elemento pôde
prevalecer." p. 41
Sobrepõe o
amor, acima de preconceitos de raça e de convenções de
classe, ao exagero da luxúria, no contacto dos brancos com
as raças de cor.
Defende
" a democratização de sociedades humanas através da mistura
de raças, do cruzamento, da miscegenação." Defende uma
"consciência
supranacional" (...) que nos defina " como uma das
grandes federações
modernas de cultura." p. 46-47
+ A
mestiçagem é sobretudo "mobilidade social horizontal";
"mobilidade social vertical". E na sua fase mais
activa (...) mobilidade
biológica. p.53-54
+ Não
faltariam puristas de raça como Manuel Guedes Aranha; puristas
de idioma como o padre Lope Gama; puristas de religião como
alguns
missionários e clérigos...; puristas de culinária como
Vilhena...
De todos
estes aspectos do problema geral do dinamismo de cultura,
o da língua é o que tem provocado maiores atritos
sentimentais e
intelectuais, entre portugueses e luso-descendentes -
principalmente luso-
-brasileiros. Raros os filólogos examinam a questão doutro
ponto de vista
senão o estreitamente filológico ou, quando muito, o
intelectual, de defesa
da "língua de Camões e Bernardes" contra as
"deformações transatlânticas"...
p. 58-64.
+ 1º Congresso Afro-Brasileiro realizou-ne no Recife, em 1934.
++ elogia
Maria Archer, arguta observadora portuguesa da vida e dos
costumes luso-africanos em Angola e Moçambique; assim como
as pesquisas
linguísticas do prof. Mendes Correia...
René Pélissier, La Colonie du Minotaure...
Carta
etnográfica detalhada
+ Pour les théoriciens du
luso-tropicalime en Afrique, la race n'est
qu'un facteur
acessoire, seuls le mérite et la culture faisant le moine.
p.23.
+ En 1960, l'Angola est un
territoire africain sous-peuplé que le
gouvernement
portugais s'efforce non seulement de blanchir mais, selon la
doctrine
officielle, de "civiliser", c'est-à-dire de rapprocher autant que
faire se peut du
modèle métropolitain. Le but à atteindre est l'intégration
culturelle et
sociale de tous les éléments constitutifs de sa population
par un processus
connu sous le nom de "politique d'intégration multiraciale"
p.26
ver: João
Pereira Neto, Angola. Meio Século de Integração, 1964.
+ Em 1960,
só havia 3.103 estrangeiros. Só a comunidade alemã (404)
tinha alguma
importância económica, representada no essencial por
plantadores de café e sisal; estabilizara desde 1940
(381)..."il y a
longtemps qu'elle
semble avoir renoncé à ses visées pangermanistes.
++++ La forte proportion de
missionnaires catholiques (français,
italiens,
néerlandais) et surtout protestants (américains, anglais et
canadiens) parmi
les étrangers est plus préoccupante, car ces cadres sont
écoutés par des
Africains. p.27
"Trois communautés largement
insularisées vivent donc dans un pays
qui peut être
considéré comme une chasse gardée portugaise. En un sens,
l'aspiration des
hommes politiques portugais du début du siècle a été
réalisée: les
étrangers écartés, l'Angola est devenu une terre où sule la
loi de Lisbonne
est entendue et respectée." (...) L'espace est ouvert à la
colonisation
blanche et, par osmose,à l'intégration muitiraciale." p.28
+ En 1960, Angola tornou-se
numa colónia de povoamento:
" Avec cette prédilection innée pour
la navigation à contre-courant,
les Portugais
agissent comme s'ils venaient de découvrir un nouveau Brésil..
pourtant, les
172.529 blancs vivant en Angola ne représentent que 3,6% de la
population du
territoire à civiliser (...) c'est fort peu pour défricaniser
un pays grand
comme quatorze fois la métropole... p.32
1913 - 13.000 brancos
+On sait qu'un quart de la
population de Luanda sous Paiva Couceiro
était constitué
de vagabonds, de déportés et d'anciens forçats vivant dans
une promiscuité
démoralisante. p.34
Norton de Matos "sans trop se
soucier de savoir si un emploi leur
sera offert, a
donc attiré directemment ou indirectement dans cet "Eldorado"
paludéen des
milliers d'Européens (accroissement de la population blanche de
75% en quatre ans
de 1920 (20.700) à 1924 (36.192)
Qualitativement, c'est une
émigration de "fond de tiroir", qui
parfois se
"cafrealise" au grand scandale des autorités. p.35
ver: José de Oliveira
Ferreira Diniz, A missão civilizadora do
Estado em Angola,
1926.
+1926-1928 - Tout comme Norton de
Matos, Vicente Ferreira croit en
l'avenir blanc de
l'Angola et à la colonisation ethnique de l'Afrique
portugaise",
grâce à la fondation de familles blanches stables, le métissage
lui paraissant
"une erreur grave". Véritable théoricien de la colonisation
blanche en
Angola, il la veu saine, robuste et agraire, selon des modèles
fort proches de
la colonisation fasciste en Lybie. p.35
+ Des déportés politiques, perdants
de la Révolution nationale de
1926, viennent
grossir la population blanche qui, sur la lancée de Norton
de Matos, aurait
déjà atteint 42.843 personnes en 1927.
Entre 1929 e 1932, Salazar
põe termo à colonização dirigida...
diminuindo a população branca para 30.000, em 1930.
João
Pereira Neto demonstrou que em vinte anos (1931-1951), o Estado
se desinteressou quase que por completo da colonização
dirigida...
Ver Armindo
Monteiro (1933) contra a deslocação de brancos para
Angola, de modo a resolver o problema do desemprego e da
pobreza na
metrópole. p.37
Ver James Duffy: "Pour de
nombreux Portugais, l'image de l'Afrique
est celle d'un
pays lointain et dangereux habité par des nègres et des
éxilés." p.
37
1950 - Sur les 135.355 civilizados que compte
L'Angola, 78.826 sont
blancs. Ils
constituent plus de la moitié de l'élément considéré intégré,
selon une
expression désormais célèbre, dans la "maneira portuguesa de estar
no mundo".
p.37-38.
+ Les européens nés sur place sont
déjà 42,57%.
Contrairement à un cliché répandu,
les blancs sont des hommes de la
ville: 45.453
habitent dans les huit cidades. Il n'y a que 2.746
agriculteurs,
soit moins de 10% de la population active masculine blanche.
Ils se
repartissent comme suit: Congo: 415; Malange: 110; Bié: 270;
Benguela: 1.146;
Huila: 805.
Mais c'est le café qui est le moteur
de l'economie du territoire...
c'est lui qui va
entraîner dans son sillage la plus importante migration
européenne vers
l'Angola jamais enregistrée. p. 38
... os pobres brancos que
chegam - "gentio do Puto"= indígenas de
Portugal...
+ L'élément dit civilisateur par
déterminisme racial, est d'un
niveau
intelectuel très faible. Si avec 1,9% de la population totale, il
représente bien
58,2% du total de civilizados en 1950, on trouve parmi ces
78.826 blancs, 18.153 analphabètes...p.39
Em 1952 é
criado um Fundo de desenvolvimento e de povoamento... os
COLONATOS ou a colonização dirigida.
Dois
grandes colonatos: o da CELA e o do CUNENE - fiasco no 1º caso.
+ A
situação em 1960: crescimento da população branca - 172.529
-
povoamento urbano: 62% dos brancos
1820
brancos estrangeiros
50921
brancos nascidos no território - 3153, em Benguela; Moçâmedes,
3.118 ... Sá da
Bandeira, 8590; Luanda, 11761...
"Sur ces 50.921, on ne peut
dire combien sont en âge d'être
économiquement
actifs ou d'avoir des opinions biens tranchés quant à
l'avenir de
"leur" Angola. Pourtant, ceux qui ont la tête politique
diffèrent assez
sensiblement de l'émigré récent. p.44
Cependant, cette communauté est
minotaire par rapport aux émigrés
dans tous les
districts (sauf dans l'Huila: 9535 contre 8.443
métropolitains).
Bien pire, les nouveaux venus se méfient parfois d'elle, et
la condescendence
à peine dissimulée de l'Administration centrale à leur
endroit ne
contribue pas à détendre les rapports entre blancs.
(L'impression d'être blancs de
seconde classe, défavorisés dans la
distribuition des
emplois administratifs (...) parce que politiquement
douteux ou
scolairement limités, rapproche ces blancs, dans une certaine
mesure, des
mestiços et des noirs évolués. Mais leurs chemins ne sont pas
parallèles, bien
que les liens familiaux encore très serrés permettent
parfois
d'accueillir les enfants métis illégitimes du père, au sein de sa
famille blanche
légale. Il en résulte une certaine zone d'ombre complice,
qui donne aux
enfants blancs beaucoup de tolérance à l'égard des mestiços
les plus proches.
p.45
Une source attribue aux blancs nés
en Angola une certaine
connaissance des
langues vernaculaires et une appréciation de la vie
africaine. O que não está minimamente estudado!
certaine mesure
+ Os mestiços
"Gloire et illustration du
multiracialisme officiel, les mestiços
devraient
constituer, dans la logique des tenants de la mystique freyrienne,
la perfection du
processus intégrateur prêté au lusotropicalisme." p.52
- Em 1960, os mestiços
estavam em regressão...
- En 1960, sur ces 53.392 mestiços, un
groupe doit être mis à part
car il joue un
rôle hors proportion avec son importance numérique: les
Cap-Verdiens.
Leur émigration vers l'Angola est assez récente (248 en 1940)
et s'est accentué
depuis 1947. Sur les 3.456 individus nés au Cap-Vert,
recensés en
Angola en 1960, tous ne sont pas mestiços, mais sur les 2824
mestiços
portugais nés dans d'autres provinces d'outre-mer, ont peut penser
que plus de 2000
sont Cap-Verdiens. Ils occupent des postes subalternes ou
moyens dans
l'Administration qui trouve en eux ses meilleurs exemples
d'assimilation.
p.54
- "Non seulement les blancs ne
se marient plus avec les indígenas,
mais même à
l'intérieur du groupe civilizado les mariages entre blancs et
noirs sont
exceptionnels, ceux entre blancs et métis étant plus fréquents,
mais probablement
à peine plus qu'entre mestiços. p.55
+ Le métissage en Angola est un sens
unique:
- blanc-noire
-
blanc-mestiça
-
mestiço-mestiça
p.58
Gilberto Freyre, Casa Grande e Senzala, 1933
Retrato do colonizador português (191 a
Contemporizador.
Nem ideais absolutos, nem preconceitos inflexíveis. Escravocrata terrível (...)
foi o colonizador europeu que melhor confraternizou com as raças chamadas
inferiores. O menos cruel na relação com os escravos. Esta atitude resultaria
do "lado moçarabe" do homem português.
(..)
Sempre pendeu para o contacto voluptuoso com mulher exótica. Para o cruzamento
e a miscigenação ... maior
plasticidade social do que em qualquer outro colonizador europeu.
Aristocrático,
patriarcal, escravocrata.
Porém:
Do
século XVI até hoje só tem feito aguçar-se no português a simulação de
qualidades europeias e imperiais, que possuiu ou encarnou por tão curto
período. É um um povo que vive a fazer de conta que é poderoso e importante.
Que é supercivilizado à europeia. Que é grande potência colonial. |
O carácter
português moldado pelo ódio ao mouro e ao espanhol predispô-lo ao nacionalismo e ao imperialismo. Todavia, como primeiro ferrete, manifesta o ódio ao hereje.
Nacionalismo
quase sem base geográfica.
A
mística religiosa: cristãos contra infiéis.
No
Brasil, a catedral ou a igreja mais
poderosa que o próprio rei seria substituída pela casa-grande de engenho.
Sem
sentimento ou consciência da da
superioridade da raça (...) o colonizador apoiou-se no critério da pureza
da fé. Fez da ortodoxia uma condição de unidade política - sem xenofobia.[1]
(...)
A
sociedade portuguesa (foi/é) móvel e flutuante como nenhuma outra,
constituindo-se e desenvolvendo-se por uma intensa circulação tanto vertical
como horizontal de elementos os mais diversos na procedência.
[1] - Handelmann, História
do Brasil, faz do colonizador português do Brasil um xenófobo por natureza.
Sem comentários:
Enviar um comentário