Almada Negreiros

Sobre Almada Negreiros ( 7-4-1893 - 15-06 -1970 )

                Órfão de mãe aos 3 anos de idade, é internado, dos 7 aos 17 anos, no Colégio dos Jesuítas de Campolide, em Lisboa, onde estudou até 1910, data em que o colégio é encerrado pelo governo republicano. Frequenta o Liceu de Coimbra, em 1911, e depois, até 1913, a Escola Internacional de Lisboa.

                Em 1913, com 20 anos, realiza a primeira exposição individual de caricaturas, já depois de ter participado, em 1912, na I Exposição de Humoristas.

Em 1915, dedica a «Cena do Ódio» a Fernando Pessoa, contra a atávica mentalidade burguesa da época. Escreve, também, o «Manifesto Anti-Dantas».

Em 1921, escreve a «Invenção do Dia Claro», numa linguagem directa que evoca a de Alberto Caeiro.

Em 1936, escreve «O Elogio da Ingenuidade» - «Entre mim e a vida não há mal-entendidos.»

Foi um dos primeiros artistas portugueses a posar nu para uma fotografia. Passeava-se no Chiado de gorro, vestia um fato balão e declamava o seu manifesto Futurista. Fernando Pessoa definiu-o como um «poliapto». Foi pintor, caricaturista, cenógrafo, figurinista, desenhador, novelista, poeta, muralista e panfletário.

Nasceu em São Tomé. Em Lisboa, contacta com Amadeo de Souza-Cardoso, Mário de Sá-Carneiro, Fernando Pessoa, Santa Rita Pintor e Eduardo Viana  no momento do arranque da arte moderna.

Partindo do futurismo italiano de Marinetti, o grupo move-se numa atitude de desconfiança face ao movimento formalista que dominava Paris e assume a tarefa de alterar uma situação que Almada já definira: «Existe Portugal, mas não existem os Portugueses.»

Colabora na revista Orpheu. Mostrava-se então «interessado numa polémica ideológica no domínio literário» segundo José- Augusto França. A aversão aos académicos toma forma no Manifesto Anti-Dantas e por Extenso, onde eles surgem personificados no Dr. Júlio Dantas.

Poeta do Orpheu e Tudo, Narciso do Egipto ou Inventor Futurista, Almada inicia um ciclo poético que só termina em 1921, quando a geração do Orpheu já está desintegrada.

Parte para Paris, onde escreve Histoire du Portugal par coeur. «A Arte não vive sem a Pátria do Artista. Aprendi isto para sempre no estrangeiro

Em Madrid, aprende a colorir e reencontra Picasso, que conhecera em França.

Quando regressa, realiza as decorações da Brasileira do Chiado e do Bristol Club e publica Nome de Guerra.

Em 1926 descobre o jogo de perspectiva do políptico de S. Vicente de Fora, atribuído a Nuno Gonçalves. Sucedem-se duas obsessões: o retorno às origens e o número de ouro, um sistema de proporção que remonta a Pitágoras. É que para Mestre Almada a vanguarda deveria sustentar-se no passado: «a tradição é algo que recupera o que há de mais antigo.»  

Contra Marinetti, na conferência “Direção Única”. Defende a independência dos artistas face à «política do espírito», símbolo dos valores do Estado Novo preconizados por António Ferro. Disso é testemunha o protesto contra o Marinetti académico, fascista, que visita Portugal.

Os trabalhos para a Igreja de Nossa Senhora de Fátima iniciam-no como vitralista. À decoração da nova sede do Diário de Notícias seguem-se os frescos dos Correios de Aveiro.

Em Março de 1934 casa com Sarah Affonso. Da relação de ambos nascem José, o arquitecto, e Paula, poetisa, que sofria de problemas graves de saúde e morreu aos 21 anos.

O ciclo de frescos para as Gares Marítimas de Lisboa – Alcântara e Rocha Conde de Óbidos – corresponde às « obras principais da pintura portuguesa da primeira metade do século XX», na opinião de Lima de Freitas.

Com 76 anos, apadrinha o programa de televisão Zip-Zip.

 

(A.   N.) Sobre o Orpheu… sendo um movimento literário, tinha dentro do seu próprio grupo duas fações – uma absolutamente literária e outra francamente plástica. (…) a fação plástica foi a que não teve nomeada, direi os seus nomes: Amadeu de Sousa Cardoso, Santa Rita Pintor[1] e eu. (…) Em 1918, os três firmaram um pacto de estudo dos Painéis de Nuno Gonçalves: «cada um de nós foi o nosso barbeiro pessoal e cada um de nó mandou cortar e rapar a cabeça e as sobrancelhas também.»

«O cânone é imutável e a interpretação é sempre outra, é sempre diferente Como não podia deixar de ser, antes do cânone não há nada (…) O cânone não é obra do homem, é a captação que o homem pode ter da imanência. É o advento inicial da luz epistemológica (…) Efectivamente, toda a circunstância é posterior ao cânone. (…) A característica do cânone é a de não ter regras, contudo as regras tiram-se do cânone. (…) As regras são todas caducas: duram uma época, um estilo, uma civilização, e dão lugar às das outras épocas, estilos e civilizações.  As regras não são do cânone, mas são a legítima opinião que cada um tira do regra. O cânone é imanente e permanente em cada pessoa humana.»[2]

 

 



[1] - Morreram ambos em 1918, zangados um com o outro.

[2]  - DN, 8 de Abril de 1993.

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