A linguagem silenciosa

 Edward T. Hall, A Linguagem Silenciosa

    A aprendizagem formal

O método para o ensino de actividades formais é o recurso a regras e advertências. O orientador adulto modela a criança segundo esquemas que ele próprio nunca contestou.
Os esquemas formais quase sempre se aprendem quando se comete um erro e alguém o corrige. (Tom de censura).
Os pormenores da aprendizagem formal são de natureza binária, do tipo sim-não, bem-mal. É bipolar.
A aprendizagem formal tem uma carga emocional muito forte.

    A aprendizagem informal

O agente principal da aprendizagem informal é um modelo, usado para imitação. Aprende-se de uma só vez todo um conjunto de actividades relacionadas entre si, muitas vezes sem se saber sequer o que se está a aprender ou que essa actividades são regidas por esquemas ou regras.
A aprendizagem informal consiste essencialmente na escolha de outros indivíduos como modelos.        Geralmente, essa escolha acontece sem que dela se tenha consciência.
Na maioria dos casos, o modelo não toma parte neste processo senão como objecto de imitação.

    A aprendizagem técnica

 A aprendizagem técnica começa também com erros e correções, mas o tom de voz utilizado é diferente e explica-se ao aluno o porquê dos seus erros.
A aprendizagem técnica, na sua forma pura, é quase uma rua de sentido único.
Normalmente, ao transmitir conhecimentos ao aluno a um nível técnico, quer oralmente quer por escrito, o professor recorre a termos explícitos.
O ponto crítico não é a aptidão mecânica, mas a capacidade do aluno seguir instruções ( ex.: formar mecânicos de aviões).
O professor é que detém o conhecimento. A sua competência é função dos seus conhecimentos e capacidade analítica. Se a sua análise for suficientemente clara e minuciosa, ele não precisa sequer de estar presente. Pode passá-la para o papel ou gravá-la num disco.

     A consciência formal pressupõe que a tradição tem uma grande importância. As pessoas que possuem uma consciência formal são provavelmente mais influenciadas pelo passado do que pelo presente ou o futuro.

         A consciência informal

Esta expressão é paradoxal, porque descreve uma situação na qual quase tudo se processa ao nível da não consciência.
O informal é constituído por actividades ou estilos que em tempos aprendemos mas que estão de tal forma integrados no nosso dia-a-dia que se tornam gestos automáticos ( automatismos ). Podem ser bloqueados quando entra em ação a atividade cerebral.
O carácter inconsciente dessas actividades formais pode gerar problemas numa situação intercultural.

    A consciência técnica

Todo o comportamento técnico, que tem aspectos formais e informais, caracteriza-se por ser plenamente consciente. A essência do técnico consiste precisamente em se situar ao mais elevado nível de consciência.

   O afecto formal

Toda a violação das normas formais é acompanhada por uma vaga de emoção. As emoções profundas surgem associadas ao formal em quase todos os casos.

    O afecto informal

Existe pouco ou nenhum afecto ligado ao comportamento informal, desde que tudo aconteça de acordo com as regras não escritas ou implícitas. No entanto, sempre que essas formalidades tácitas são transgredidas, a ansiedade instala-se.

    O afecto técnico

O técnico caracteriza-se pela inexistência de sentimentos, uma vez que estes tendem a interferir no comportamento operacional. ( autoridade, lei )

     Atitudes formais face à mudança

Os sistemas formais caracterizam-se por uma grande coesão. O formal oferece uma enorme resistência às mudanças impostas do exterior.

    As atitudes informais face à mudança

Uma atitude incorrecta perante o informal pode muitas vezes gerar sérios problemas suscetíveis de se agravarem, já que os indivíduos implicados numa ação informal não têm plena consciência do que se está a passar.

    As atitudes técnicas face à mudança

As mudanças a introduzir têm que operar nos aspectos da vida da população local, sendo tratadas de forma técnica.

    O processo da mudança
 
O estudo da mudança é o estudo da sobrevivência.
Aquele que deseja realmente promover a mudança cultural deve descobrir primeiro o que se passa ao nível informal e indicar com precisão as adaptações informais que parecem resultar melhor na vida quotidiana. Entra-se assim no nível da perceção. (...) A vida deve-se à interação dinâmica da substância viva com ela própria e não ao acaso ou a um qualquer desígnio.

    O padrão organizador

"A cultura não tem origem na experiência nem se reflecte no espelho desta. Além disso, não pode ser comparada a algo místico concebido enquanto experiência. A experiência é qualquer coisa que o homem projeta sobre o mundo exterior à medida que a adquire na sua forma culturalmente determinada."
O que é importante lembrar é que o padrão só é visto como tal se for analisado no se próprio nível e se não se sair dele.
Muitas das dificuldades atuais do nosso ensino advêm de os professores tentarem impor padrões analisados de forma incorrecta ou apenas parcial. Em muitos casos, as descrições técnicas não se adaptam sequer aos factos.

Os padrões estão ligados a três leis - a ordem, a seleção e a congruência.~

As leis da ordem são as regras que determinam as mudanças de significado quando a ordem se modifica.
A seleção controla a combinação de séries que podem ser agrupadas.
As leis da congruência podem ser definidas como um padrão dos padrões.

Na escrita literária, o estilo ou congruência dos padrões estão ligados ao conhecimento daquilo quer se pode ou não realizar no interior de um padrão.
A verdadeira capacidade artística existe quando a congruência é tão elevada que tudo parece simples e fácil, quando transmite ideias com tanta clareza que nos interrogamos por que motivo não as conseguimos transmitir nós próprios.
O artista gosta de jogar com padrões e de descobrir todas as possibilidades que o material de que dispõe lhe permite. Fá-lo, aliás, frequentemente, no contexto de pequenos grupos de pessoas preocupadas ou interessadas pela importância da cultura, pela tensão, pela mudança.
O artista não guia a cultura nem cria padrões. Reflecte a sociedade de modo a que esta veja aquilo de outra forma poderia não ver.

O poder de comunicação do tempo é tão forte como o da linguagem.
    - o elemento cíclico - é um dado adquirido.
    - a valorização - o tempo é valioso; não deve ser desperdiçado.
    - a tangibilidade exprime-se pelo facto de encararmos o tempo como uma mercadoria.

Os americanos consideram a profundidade um componente necessário do tempo; por outras palavras, existe um passado no qual o presente assenta. O americano pressupõe a profundidade do tempo, mas não lhe atribui grande importância. Os americanos usam o tempo como um elo de ligação entre os acontecimentos.

Quatro componentes isolados que nos permitem distinguir cada uma das séries de duração:
    - a urgência
    - o monocronismo: significa fazer uma coisa de cada vez.
    - a atividade: distinguir fase activa de fase inactiva - estar ou não estar envolvido numa atividade.
    - a variedade - é um factor do aborrecimento, uma vez que o grau de aborrecimento experimentado depende da rapidez com que o tempo passa.
A territorialidade - consiste no acto de reivindicar e defender um território. Estabelece-se rapidamente.
O espaço é organizado de forma diferente em cada cultura.

Dominar a linguagem do espaço é tão ou mais importante que eliminar um sotaque.
O "choque cultural" trata-se simplesmente da eliminação ou distorção de muitos dos sinais familiares próprios do seu país e da substituição por outros que lhe são estranhos.
As mudanças de espaço dão o tom e o acento à comunicação sobrepondo-se mesmo, por vezes à palavra falada. O fluxo da palavra e a alteração da distância entre pessoas em interação são elementos do processo de comunicação. A distância que normalmente se mantém ao conversar com pessoas estranhas é um exemplo da importância da dinâmica da interação espacial.

A cultura é a ligação entre os seres humanos e os seus meios de interação com os outros.

A teoria da cultura apresentada por Edward T. Hall depende das anteriores nos seguintes aspectos:
  1.  a utilização de um modelo linguístico;
  2.  a observação da cultura, no seu conjunto, enquanto comunicação;
  3.  o conceito dos SPC baseados na biologia;
  4.  os tipos de integração formal, informal e técnico;
  5.  as derivações dessas integrações: séries, componentes isolados e padrões.

A explorar: Benjamin Whorf , Language, Thought, and Reality. Nova Iorque. 1956.


Sem comentários:

Enviar um comentário